Rio Jaguari possui poços, redemoinhos e correntezas onde já morreram muitos

Estamos na Primavera e as temperaturas já começam a ficar mais elevadas, o que torna as brincadeiras com grande quantidade de água mais frequentes. Contudo, o que pode parecer inofensivo para muitos, pode também ser fatal em casos de inexperiência ou abuso.
Recentemente, a tragédia com o ator global Domingos Montagner chocou muitas pessoas. Contudo, é importante lembrar que não é necessário ir tão longe para se lembrar que fatalidades como essas acontecem, principalmente, com a chegada do calor.

Muitos acidentes já aconteceram na cidade de Cosmópolis devido a grande quantidade de fluentes que cerca o município.
Infelizmente, muitos casos fatais já ocorreram tanto no Rio Pirapitingui, represa que abastece a cidade, quanto nas alturas do Rio Jaguari, como ponte de ferro, poção e demais extensões que atraem os banhistas nesta época do ano.

Caso de afogamernto que aconteceu em abril deste ano na Represa do Rio Pirapitingui e contou com a equipe do Corpo de Bombeiros de Paulínia para o resgate

Caso de afogamernto que aconteceu em abril deste ano na Represa do Rio Pirapitingui e contou com a equipe do Corpo de Bombeiros de Paulínia para o resgate

O Corpo de Bombeiros da cidade de Paulínia é quem trabalha constantemente em Cosmópolis por ser a unidade de socorro mais próxima e com propriedade no assunto. Em contato com a corporação, o 1º Sargento PM Ildo Alves da Silva, de 47 anos, esclareceu muitas dúvidas sobre os casos de afogamento e, principalmente, como evitá-los. Acompanhe:

Gazeta de COSMÓPOLIS: No verão, costumam aumentar os chamados por afogamento na região?
Corpo de Bombeiros: No verão, aumenta, e muito, o número de ocorrências envolvendo meios líquidos, não só em rios ou lagoas da região, mas, também, em piscinas de clubes, chácaras para uso em eventos ou em piscinas residenciais.

Gazeta: Quais os cuidados que os banhistas devem ter para evitar acidentes?
Corpo de Bombeiros: Ter a consciência em acreditar nos perigos e riscos que a água oferece. Não nade em lugar desconhecido, na grande maioria dos casos de afogamento, os banhistas não se atentaram à sinalização (se existente) no local. Evite nadar sozinho e nunca entre pulando na água, pois, do lado de fora, não tem como saber a profundidade. Faça antes o reconhecimento do rio ou lagoa e entre na água até a altura do umbigo.

A. Nunca banhar-se logo após as refeições; ou após ingerir bebida alcoólica;
B. Não nadar próximo às rochas (costeiras), às pontes, aos barcos, aos diques, aos atracadouros etc.;
C. Caso seja surpreendido por uma corrente ou redemoinhos, nadar com calma até sair da correnteza;
D. Quando tiver câimbra, permanecer parado, flexionando e esfregando os músculos atingidos;

Gazeta: O Corpo de Bombeiros da cidade de Paulínia já atendeu muitos casos na cidade de Cosmópolis? Há algo em comum entre os acidentes?
Corpo de Bombeiros: Sim, por se tratar de nossa jurisdição de atendimento. E o que temos observado em comum nos diversos casos envolvendo afogamentos, é que os banhistas (vítimas) que não sabiam nadar, na maioria das vezes, não abusaram da distância de afastamento das margens ou bordas, sendo o afogamento causado por diversos motivos e, na maioria das vezes, de forma acidental. Enquanto que os banhistas (vítimas) que sabiam nadar, abusaram, distanciando das margens e sem recursos de coletes ou flutuadores.
Lembrando ainda que, de acordo com o Manual ‘Of Open Water Lifesaving (1994) da The United States Lifesaving Association (USLA)’, o processo de afogamento envolve três fases distintas, que podem ser interrompidas através da intervenção em sua ocorrência. São elas: angústia, pânico e submersão. Entenda:

1º Sargento PM Ildo Alves da Silva, 47 anos

1º Sargento PM Ildo Alves da Silva, 47 anos

Angústia: Durante a ocorrência da angústia, nadadores são capazes de se manterem na água com técnicas de natação ou equipamentos flutuantes, mas têm dificuldade de alcançar o grau de segurança necessário. Eles podem ser capazes de gritar, acenar por socorro, ou mover-se em direção à ajuda de outros, podendo durar alguns segundos ou pode prolongar-se por alguns minutos ou até mesmo horas.

Pânico: À medida que a força do nadador esgota-se, a ocorrência da angústia progredirá para o pânico se a vítima não for resgatada ou ficar em segurança. No estágio do pânico, a vítima é incapaz de manter sua flutuabilidade devido à fadiga, completa falta de habilidade natatória, ou algum problema físico. Alguns estudos sugerem que dura normalmente entre 10 e 60 segundos, para desse estágio poder progredir imediatamente para a submersão, a menos que ela seja resgatada. Portanto, o Guarda-Vidas deve reagir muito rapidamente.

Submersão: Ela pode ocorrer extremamente rápido. Lembrando que nesta fase ainda pode não ser fatal se a vítima for resgatada a tempo, mas isso pode ser uma tarefa muito difícil. Diferentemente da água cristalina das piscinas, o rio aberto é frequentemente escuro e a visibilidade na água pode ser muito baixa ou até zero. As correntes e a ação podem deslocar o corpo para uma distância significativa do ponto de submersão inicial. Uma vez ocorrida a submersão, a chance de um resgate bem sucedido diminui dramaticamente. Isto faz com que na fase da angústia ou do pânico seja crucial.

Gazeta: É possível explicar sobre a formação de redemoinhos ou correntezas nos rios e como costuma acontecer o afogamento nesses casos?
Corpo de Bombeiros: É como se fosse uma demonstração de forças que os movimentos das águas proporcionam. Os redemoinhos, que são visíveis nas águas, normalmente, são causados pela velocidade das águas, tendo como principal fenômeno sua formação no fundo dos rios, principalmente, aqueles com muitas depressões, pedras e buracos na areia. Podendo, ainda, muitas vezes, a água se demonstrar aparentemente calma, o que dificulta essa percepção do lado de fora.

Havendo a presença deles, nunca entrar, mas se, acidentalmente, ocorrer, a pessoa tem que procurar manter a calma e a cabeça fora da água. É preciso também tentar boiar na superfície e aguardar que a própria correnteza o jogue para fora do redemoinho. Ao sentir que saiu de perigo, é preciso nadar em direção à margem no sentido do fluxo do rio, transversal à correnteza.
A correnteza é um curso de água, é o trecho em que a sua corrente vai mais rápida e, geralmente, formando ondulações com pequenas ondas e ocorre usualmente em um terreno mais raso do rio e acidentado.

O ator Domingos Montagner foi vítima de uma tragédia recente no Rio São Francisco

O ator Domingos Montagner foi vítima de uma tragédia recente no Rio São Francisco

“O principal motivo é a falta de reconhecimento do local, quando abusam de suas habilidades ou o excesso de confiança”

Gazeta: O que a pessoa deve fazer ao perceber que está se afogando?
Corpo de Bombeiros: Manter a calma e pedir socorro, não querer bancar o “durão” sem pedir socorro, aproveitando enquanto ainda estiver com forças, conforme as fases do afogamento.

Gazeta: Aos que estão próximos? É possível ajudar? De que maneira?
Corpo de Bombeiros: Quem estiver próximo poderá ajudar desde que esteja treinado. Lembrando que, se não estiver treinado para esse tipo de salvamento, ao se aproximar da vítima em desespero, será agarrado por ela e, provavelmente, se afogará. Nesses casos, antes de entrar na água, o socorrista deverá pedir auxílio a outras pessoas.
Procurar fazer uso de meios de fortuna: jogando um objeto, de preferência flutuante, como uma boia ou caixa de isopor para a pessoa se segurar e ser puxada para margem. Se não tiver, serve uma vara, uma calça ou uma corda. Nunca faça contato corporal com a pessoa que está se afogando, pois ela pode se desesperar e agarrar em quem a está salvando, fazendo com que ambos afundem. Enquanto isso, alguém deve ligar para o 193 e chamar apoio ao Corpo de Bombeiros.

Nascido na Colônia Jaguari

 

Geraldo Pereti tem 74 anos de idade e alerta, com experiência e bagagem de vida. “Cresci a 150 metros do Rio Jaguari, na Colônia Jaguari, dependências da Usina Ester e, desde menino, infelizmente, já vi muita gente morrer ali. Sabendo disso, mesmo conhecendo o Rio como a palma de minha mão, nunca ‘abusei’ dele. Lembro-me do primeiro caso, e ouso dizer que as pessoas daqui não costumam arriscar tanto, mas turistas vizinhos, de cidades próximas, acabam se envolvendo em acidentes fatais por excesso de confiança. Sempre digo que, para salvar alguém que está se afogando, são necessários muita experiência e preparo, pois, outro problema fatal é quando um quer ajudar o outro e acaba que, quem está se afogando, está desesperado pela vida e, com muita força, arrasta quem quer ajudar também. Lembro-me de um caso em que, quatro amigos, um tentando salvar o outro, acabaram morrendo afogados. Eu que sempre morei ali perto, sempre nadei no Rio Jaguari e tenho conhecimento do Rio. Posso dizer, muitas pessoas já se foram neste local por excessos. Mesmo após eu ter me mudado da Colônia, sempre fui de bote visitar o local, mas, chegou uma fase que não ia mais aos domingos porque não queria ver mais ninguém morrer! Ressalto, não se deve abusar da água, mesmo que você ache que conhece o local. E para se arriscar a salvar alguém, tenha preparo para não ser mais uma vítima!”.

Geraldo Pereti tem 74 anos de idade e é nascido na Colônia Jaguari

“Cresci a 150 metros do Rio Jaguari, na Colônia Jaguari, dependências da Usina Ester e, desde menino, infelizmente, já vi muita gente morrer ali. Sabendo disso, mesmo conhecendo o Rio como a palma de minha mão, nunca ‘abusei’ dele. Lembro-me do primeiro caso, e ouso dizer que as pessoas daqui não costumam arriscar tanto, mas turistas vizinhos, de cidades próximas, acabam se envolvendo em acidentes fatais por excesso de confiança.
Sempre digo que, para salvar alguém que está se afogando, são necessários muita experiência e preparo, pois, outro problema fatal é quando um quer ajudar o outro e acaba que, quem está se afogando, está desesperado pela vida e, com muita força, arrasta quem quer ajudar também.
Lembro-me de um caso em que, quatro amigos, um tentando salvar o outro, acabaram morrendo afogados. Eu que sempre morei ali perto, sempre nadei no Rio Jaguari e tenho conhecimento do Rio. Posso dizer, muitas pessoas já se foram neste local por excessos. Mesmo após eu ter me mudado da Colônia, sempre fui de bote visitar o local, mas, chegou uma fase que não ia mais aos domingos porque não queria ver mais ninguém morrer!
Ressalto, não se deve abusar da água, mesmo que você ache que conhece o local. E para se arriscar a salvar alguém, tenha preparo para não ser mais uma vítima!”.

 

Procedimentos de
Primeiros Socorros

Afogamento Parada Respiratória com Pulso
– Posicionar a vítima em decúbito dorsal horizontal (DDH);
– Manter a vítima com a cabeça no mesmo nível que o resto do corpo para evitar regurgitação e consequente aspiração de vômitos. Estabelecer o grau de afogamento e intervir conforme a necessidade;
– Reavaliar a respiração e o pulso central. Manter ventilações de resgate na proporção indicada para cada faixa etária conforme Parada Respiratória com Pulso;
– Verificar o pulso central e a respiração frequentemente durante as ventilações de resgate.

Afogamento sem respiração e sem circulação
– Executar a RCP pelo Método ABC;
– Abrir as vias aéreas com a manobra mais adequada para cada caso (clínico ou trauma);
– Aspirar a cavidade oral;
– Inserir a cânula orofaríngea; (caso possua)
– Efetuar 5 ventilações de resgate iniciais sucessivas; – Remover a cânula orofaríngea se houver frequente regurgitação. Iniciar os ciclos de compressões e ventilações apropriados para cada faixa etária;
– Verificar o pulso central e a respiração a cada 2 minutos de RCP. Para os leigos, após identificação, iniciar massagem cardíaca no ritmo de 100 compressões por minuto ininterruptas, mesmo sem a ventilação, até a chegada de suporte médico.

“Afogamento onde houve apenas a ingestão de água seguida de tosse, mas retornou à normalidade deverá ser apresentado ao hospital o mais rápido possível. Lembrando que, caso a vítima sobreviva, a aspiração de água pode provocar complicações tardias, como a atelectasia e o colapso pulmonar, o desenvolvimento de infecções pulmonares (pneumonia) e, consequentemente, uma eventual insuficiência respiratória que deve ser imediatamente tratada.”