02 de Abril: Dia Mundial da Conscientização do Autismo

02 de Abril: Dia Mundial da Conscientização do Autismo

No dia 2 de abril é comemorado o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. A data foi criada pela ONU, em 2007, e tem como objetivo levar informação à comunidade e reduzir o preconceito em relação aos autistas.
Há anos, a APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, de Cosmópolis, realiza um serviço de apoio aos alunos com autismo. A Psicóloga com formação em Neuropsicologia da Associação, Thaís Böttcher Capatto, fala sobre as diferenças entre uma criança autista e uma que não se enquadra no espectro.

 

Thaís Böttcher Capatto
Psicóloga: C.R.P: 06/76867;
Neuropsicologia Infantil pela Unicamp;
Especialista em Psicologia Clínica;
Formação em ABA pelo ITCR;
Pós-Graduanda em Neuropsicologia pela FMUSP

“Hoje, falamos de um enorme espectro, de diferentes graus de autismo. Ou seja, nós temos desde crianças dentro de um quadro mais leve, que passa, muitas vezes, despercebida, e vai se transformar num adulto autista com alguns problemas que lá na infância foram muito sutis, até outros quadros mais graves, bem clássicos e com sintomas bem acentuados. Então, qual é o grande diferencial? Nós temos que pensar em três grandes eixos.
O primeiro é um prejuízo na comunicação, seja ela através da utilização de gestos, através da fala, que seria a linguagem expressiva, ou através de figuras. São crianças que não conseguem se comunicar, expressar o que desejam. E isso é um marco muito importante no desenvolvimento. Com um ou dois anos, a criança já consegue emitir alguns vocábulos, a contar, pedir água, mas o autista encontra alguns prejuízos nessa parte.
Outro grande eixo é a reciprocidade sócio-emocional. Crianças, adultos, que não conseguem identificar o outro, o sentimento dele, ele olha uma pessoa chorando e não identifica muito bem que aquela pessoa está triste; não consegue identificar uma situação que está acontecendo ao redor dela. Então, a percepção de mundo, a leitura de uma cognição social não se faz presente.
E o outro eixo é a presença de rigidez nos padrões. São crianças que geralmente apresentam condutas estereotipadas, ou seja, balançam as mãozinhas, os bracinhos; escolhem um personagem como preferido e então querem tudo daquele personagem, falam sempre daquele personagem… São padrões mais rígidos e estereotipados. Também percebemos o brincar, uma diferença importante no brincar de uma criança neurotípica, que é aquela criança que está dentro do esperado, com uma criança dentro do espectro. A que está dentro do espectro vai usar a simbologia do brincar… Não vai pegar o carrinho e empurrar, vai virar as rodinhas pra cima, vai bater nas rodinhas, vai se fixar em alguns pontos daquele objeto, e não no objeto como um todo… Então, são prejuízos também na atenção compartilhada, ou seja, a criança não vai pegar uma bola, ir até o colega e interagir. Ela vai se fixar na bola. Elas apresentam uma facilidade em se fixar em pontos como um todo.
Basicamente, são essas as diferenças que nós encontramos. Antes, se falava muito da criança que não olha, na criança que não é afetiva… Isso caiu por terra, nós encontramos diversas crianças dentro do espectro que são extremamente amorosas, que fazem contato ocular, mas que apresentam outros prejuízos. Essa avaliação tem que ser bem feita, bem analisada, com instrumentos padronizados, para não se confundir diagnósticos.
Nós encontramos também dentro do espectro, crianças com altas habilidades, que são crianças que têm um desempenho acima do esperado para algumas áreas, como criatividade, música, números, letras… Mas isso é uma porcentagem de crianças de dentro do espectro.
É um guarda-chuva grande, desde sintomas bem leves até os mais complexos. Mas, nós temos crianças com dois ou três anos que apresentam uma hiperlexia, uma leitura de frases, palavras, falam outras línguas, leem palavras em inglês, francês, sabem números, fazem cálculos, mas, por exemplo, não conseguem sair das fraldas. Então, por mais que a gente fale em habilidades mais desenvolvidas, existem outras que estão muito abaixo do esperado. Então, não são crianças que vão ter um desempenho excelente em todas as esferas, elas vão ter em algumas específicas e nas outras vão precisar de muita intervenção”.

A cada dia, um aprendizado

Alex Junior e Roberta

Alex Junior Strazzacappa de Carvalho Cunha, de 7 anos, possuí Síndrome de Down e é considerado um autista sob investigação, por ainda não possuir o diagnóstico exato, pois teve de parar os exames na época de avanço da pandemia. De acordo com sua mãe, Roberta Strazzacappa de Carvalho, Alex se mexe demais, então, não conseguiu completar os exames do neurologista, exames que teriam de ser feitos num hospital com o menino sedado.
Ele possui estereotipias, como segurar uma colher pela ponta e ficar balançando; balançar as mãos e a cabeça quando está feliz; pular na cama na mesma posição com os joelhos dobrados e fazer barulhos repetitivos com a boca. Outra estereotipia é o movimento Flap, quando a criança levanta os braços e balança as mãos. ”Para muitos autistas, principalmente os não-verbais, os movimentos estereotipados são uma maneira de se comunicar, seja quando estão alegres, tristes, bravos ou eufóricos. Alex Jr. atualmente está fazendo ABA para diminuir flapping, que é uma estratégia que ajuda a reduzir estereotipias, como a ABA (Análise Aplicada do Comportamento)”, diz a mãe, Roberta.

Uma rotina de amor acima de tudo
“Alex Jr., uma criança de 7 anos, acorda às 5h30 diariamente e vai até o quarto da mamãe e do papai nos procurar como quem diz ‘Bom dia’, mas como ele é autista não verbal, ele vem e abraça a gente;
Às 7h30, o motorista passa de segunda a sexta para levar o meu filho para Artur Nogueira, onde ele frequenta dois locais;
1. Studio Reab – clinica com uma equipe de multiprofissionais que o acompanham em fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, musicoterapia, psicologia (ABA) e psicopedagogia;
2. Equoterapia, também em Artur Nogueira 1x na semana.
De manhã, antes de sair, ele toma uma vitamina e nos intervalos das terapias toma um café, ou come uma fruta antes do almoço.
Diariamente, às 11h30 aproximadamente, ele almoça em casa e aguarda a van da APAE, onde estuda das 12h30 às 16h20.
Tenho uma babá que auxilia e o acompanha em todos os movimentos terapêuticos (manhã).
Alex retorna às 16h40 aproximadamente, toma um banho e vai para o meu quarto, onde ficamos juntos, ouvindo música, ou assistindo algum desenho, fazendo carinho um no outro. Meu filho é muito carinhoso!
Janta às 18h e logo depois, umas 19h30, ele já vai dormir, por isso, acorda muito cedo!
A rotina estruturada é muito importante para o autista! Porque ele fica calmo e começa a se reconhecer dentro de um espaço, seja ele familiar, escolar, terapêutico ou qualquer outro!
Todos os dias, aprendo muito com meu filho e com as equipes que cuidam dele com tanto amor!”, finaliza.

1ª Carreata em Comemoração ao Dia Mundial da Conscientização do Autismo
Neste sábado (02), a partir das 9h, a APAE de Cosmópolis realiza a 1ª Carreata em Comemoração ao Dia Mundial da Conscientização do Autismo. O tema da ação é “Lugar de Autista é em todo lugar” – #AutistaEmTodoLugar .
Com saída da Praça do Rodrigo, o trajeto percorrerá diversas ruas de Cosmópolis e finalizará na sede da Apae, localizada na rua Antonio Souza Peres, 1175.
O evento conta com apoio da Prefeitura de Cosmópolis, por meio da Secretaria de Segurança Pública e Trânsito e da Secretaria de Comunicação.