A arte e cultura cosmopolense

Malú D’arc, produtora de moda, artista visual e VM, de 25 anos, procura sempre apoiar o trabalho de seus amigos e acredita que, mesmo cidades do interior, guardam artistas maravilhosos, mas que precisam de incentivo.
“Sempre fui uma pessoa que fechava os olhos para a cidade, tudo que fazia e planejava estava fora do campo de visão Cosmopolense. Comecei migrando para cidades próximas, como Paulínia e Campinas, claro.
Vim da área de cinema, descobri a “direção de arte”, depois o figurino e, por fim, a produção de moda. Afinal, quando você entra nessa área cinematográfica, a única coisa que se pode ter certeza é: você jamais irá seguir uma única função.
Idas e vindas em projetos no MIS, UNICAMP e no falecido, e querido, instituto HILDA HILST (Campinas), eu fui convidada a fazer parte de uma equipe maravilhosa de figurino. Nada era permanente, a cada trabalho feito, diversas lições eram aprendidas, não só moda! Mas também comportamento social.
Lá eu aprendi que moda não é só o que se veste, mas o que é escrito de uma história que você quer passar. É estranho que, ao longo dos anos, nossos julgamentos em relação a área resultem sempre no lado fútil do mercado.
Mas, a maioria das mulheres já lida um pouco melhor com a pauta em si, aprendemos muito sobre como trabalhar nossa autoestima perante a sociedade que nos retrata como meros objetos. E fizemos isso também através da moda.
Apesar de exibirem nosso exterior e, muitas vezes, servirem como método de julgamento das outras pessoas, roupas jamais definirão nossa essência como seres humanos e indivíduos. Artista visual é um termo que projeta uma gama de possibilidades. Quem disse que meu cabelo não é uma obra de arte? Quem disse que minha minissaia não é meu protesto?
Coco Chanel, Mary Quant e diversas mulheres nos trouxeram a escolha e opção de usar calças, de vestir minissaias, e é claro que isso não foi e jamais será em vão se pensarmos os resultados disso em quem somos hoje e, principalmente, em nosso comportamento.
Tantas lições, diversas formas de enxergar que a arte pode estar presente nos mínimos detalhes de nosso dia-a-dia.
E, em meio a tantas questões e complexidade de nosso comportamento através de nossas vestes, veio, então, a vontade de sempre tentar me expressar através de roupas.
“Produção de moda” não trata apenas de montar cenários, mas, tentar criar uma ideia, e nela passar a complexa ideia de felicidade, tristeza, entre outros sentimentos. Nós tentamos criar um universo: seja visualmente confortável, ou que simplesmente incomode.
Uma curiosidade é que até os tons que escolhemos passam sentimentos, como o amarelo, por exemplo (Vah Gogh explica).
Como vim querer criar algo em Cosmópolis? Eu quis mostrar que eu não era “tão estranha” quanto parecia, que por mais diferente seja, cada um tem sua história e seu amor pela arte. Cosmópolis é uma cidade pequena onde pode-se encontrar amantes da arte. Em QUALQUER lugar, há pessoas necessitadas em querer sair da caixa, há pessoas que RESPIRAM arte, mas que nunca encontraram ninguém disposto a dividir o mesmo ar.
Eu conheci tanta gente sendo cria do IA (Instituto das Artes UNICAMP), e a maioria delas, pasmem, era de cidades do interior. Então, qual o problema de Cosmópolis? NENHUM, eu concluí.
Eu comecei no melhor lugar possível meu atual trabalho. Aprendi muito com meu chefe, que me deu total liberdade criativa em meu trabalho, e com seu braço direito, que me ensinou MUITO sobre VM (Visual Merchandiser). Em um dia qualquer, eu peguei meu celular e falei: Galera, vamos criar algo? E aos poucos foram surgindo ideias e pessoas dispostas a criar conteúdo. Foi com muito amor e dedicação (e UNIÃO) que nossos trabalhos começaram a crescer mais e mais, como, por exemplo, a foto do Ângelo (fotógrafo) na VOGUE Itália, e cada vez mais nossa animação cresceu para criar todo conteúdo artístico visual possível.
A princípio, houve muitas críticas que nos taxavam como um “grupo fútil”, e questionamentos como: “Quem veste isso?”, “Isso é moda?”, “Mas nossa, aquela menina é meio doidinha, né?”. Contudo, queria que todos sentissem a energia POSITIVA que temos quando nos apoiamos, quando cada um se disponibiliza para ajudar no projeto do outro. E olha que nem visamos lucro, muito pelo contrário, nos unimos para apoiar o amor pela arte do outro!
É muito bom quando você se descobre, conhece e apoia a arte de pessoas em uma cidade pequena. A ARTE SALVA, e sempre estamos rindo e nos enchendo de amor quando o projeto ou o trabalho de alguém cresce/cria visibilidade.
Temos artistas maravilhosos em Cosmópolis, cabeleireiros, maquiadores, modelos, artesãos, diretores de cinema e roteiristas, cantores e fotógrafos. Eles só precisam de um pouquinho de incentivo e de que vocês os vejam com um olhar mais “atencioso”. Meu trabalho existe graças a um montão de gente! Minha “segurança” surgiu de uma pessoa simples aos meus olhos, que simplesmente me mandou uma mensagem dizendo: “Oi, te acho tão diferente e segura do que faz, adorei seu estilo. Vamos fazer um projeto?”, e eu fiquei surpresa com a forma que uma pessoa de um ambiente tão diferente do meu tivesse uma visão tão maravilhada quanto a quem eu sou. Eu mencionei acima o quanto meu trabalho me ajudou, mas ter uma opinião de uma pessoa fora do MEU mundo mudou completamente a minha visão sobre como eu poderia explorar mais o meu lado criativo, mesmo que em uma cidade pequena e sem tantas pessoas interessadas nele. Menciono isso, pois, cada incentivo, por menor que seja, pode mudar a vida e o trabalho de alguém!
Apoie o seu amigo, seja qual for o trabalho! Incentive sempre o levante, o ajude mesmo que isso te custe algumas horinhas de seu dia corrido, porque, no final, nada compra a felicidade que é ser parte do crescimento de alguém!
Cosmópolis, realmente, é uma cidade pequena, mas uma cidade pequena cheia de artistas”.
Por Malú D’arc