Toda união familiar e o amor de vó eram expressados ali, naquele lugar tão simples, mas que guarda momentos tão felizes
Dizem que casa de vó é doce, cheia de recordações de afeto. Só quem teve o privilégio de ter uma vó “doce” sabe o quanto era bom, e quanta saudade deixou. Doce lembrança da infância.
Fecho os olhos e consigo lembrar os detalhes da casa dela, o cheiro bom de sua comida, o suco gelado, o barulho da chaleira, as cores das flores…
A casa da minha avó era muito simples, arquitetura antiga, sem luxo. No jardim, um lindo canteiro de margaridas. No corredor lateral externo da casa, um diversificado canteiro de roseiras. O piso xadrez chamava atenção. Na entrada principal, tinha uma pequena área, onde acima da porta, tinha um pequeno recuo, uma espécie de um pequeno altar onde minha avó colocava uma imagem de sua santa de devoção.
Ao entrar na sala, os sofás e uma TV em preto e branco com uma película colorida na frente.
No quarto da minha avó, em cima da sua cama, sempre um livrinho de palavras cruzadas, uma caneta Bic e seu inseparável pito, usado com fumo de corda.
Em outro quarto, uma cômoda chamuscada chamava a atenção. Um pequeno descuido e uma vela acesa caíra sobre o móvel, dando tempo de apagar o fogo.
A cozinha era o melhor lugar. Tinha um fogão à lenha onde, por algumas vezes, lembro da chaleira apitando. Na sua geladeira tinha sempre 2 jarras de suco aguardando os netos. Aos domingos, a casa ficava cheia. Era um dia sagrado, o dia que a família se reunia e almoçavam todos juntos. Dia de comer macarrão com frango e polenta. Enquanto minha avó cozinhava, as crianças corriam pela casa e os adultos jogavam baralho.
Na parte de fora, aos fundos da casa, ficava o único banheiro, seguido da lavanderia e uma área coberta. Nessa área tinha um poço, alvo da curiosidade sem fim das crianças. Lembro-me de muitas vezes espiar, com meus primos, escondido dos adultos, o proibido e enigmático poço. Pela fresa das tábuas que o tampava, tentávamos ver o fundo. De onde vinha tanta água? E por que tão fundo? Cadê o fim? Sabíamos que ali tinha perigo, mas a curiosidade sempre falava mais alto.
Ao lado da área coberta, já nos últimos metros do terreno, tinha uma horta e um pé de ameixa sempre carregado de frutas. Completava a alegria das crianças. Subir no pé era uma aventura. As frutas apanhadas, o troféu.
Toda união familiar e o amor de vó eram expressados ali, naquele lugar tão simples, mas que guarda momentos tão felizes. Época que pedíamos a bênção aos mais velhos.
Hoje, os domingos não têm mais o mesmo sentido. A reunião familiar semanal “saiu de moda”. O convívio faz-se pela tela do celular, em redes sociais. Mas e o abraço? E aquele carinho de vó? E as aventuras das crianças brincando e correndo pela casa? E o suco gelado? Sorte das gerações que puderam vivenciar isso. Bons momentos lembrados e compartilhados com os mais jovens, apresentando a vida em uma época de felicidade sem tecnologia.