De entregas em domicílio em charretes a uma oferta diversificada de produtos, as padarias passaram por profundas transformações desde a crise dos anos 80 até a moderna experiência gastronômica de hoje
Durante vários anos, os pães eram entregues aos clientes em domicílio. Os padeiros faziam a entrega. O meio de locomoção era charrete, e os pães deixados no picuá pendurado na porta de cada casa, e anotados em uma caderneta.
Com a vinda de muitas famílias para a cidade, os padeiros passaram a entregar os pães em Kombi, levando doces e outras guloseimas para vendas em domicílio.
Com a população crescente na cidade, as padarias logo começaram a aparecer.
Chocolates em formato de peixinho, guarda-chuva, bola e até mesmo formato de cigarro; casquinha de sorvete com maria mole e doce de leite, bengala, leite de saquinho, baleiro giratório de vidro… Esses eram alguns itens que não faltavam nas padarias.
Em uma época que o Brasil enfrentava uma grande crise econômica, com inflação altíssima e aumento de preço quase que diariamente, as padarias, assim como os açougues, sofreram uma grande crise de desabastecimento de carne e leite entre os anos de 1986 e 1987. As padarias foram obrigadas a limitar a quantidade de vendas do leite a apenas 1 litro por pessoa, e para conseguir comprar o leite era necessário enfrentar demoradas filas para garantir o alimento.
Ao adentrar o estabelecimento nessa época, de longe avistávamos o baleiro giratório redondo, de vidro, que dava o destaque mor que enchia os olhos de toda criança. Nesse baleiro ficavam expostos balas e chicletes. A bala Soft tornou-se inesquecível por seu formato, com rumores de que várias crianças perderam a vida engasgadas com essa bala. Também tinha a tradicional bala de Coca- Cola. Os chicletes eram Ping Pong, Buballoo e Ploc. Tinha também o Chicletes Mini, que eram pequenos quadradinhos coloridos dentro de um saquinho, e o inconfundível Chiclets. E na lembrança de muitos, o pirulito Pirocóptero, um palito que somado a uma hélice de plástico, virava um quase helicóptero. Outro pirulito em destaque era o Zorro Caramelo.
No balcão ficavam expostos variados doces, todos coloridos, e alguns, para se tornarem mais atrativos às crianças, continham brindes, como bexigas e anéis. Doce de abóbora de coração, paçocas, geléias, pé de moleque, maria mole, suspiro, casquinha de sorvete com doce de leite ou maria mole eram alguns dos doces em exposição. Nessa época, também eram vendidos os tradicionais chocolates Galak, Surpresa, Sonho de Valsa, Diamante Negro, Prestigio, Chokito. Em todas as padarias, também eram vendidos os sorvetes mais tradicionais das marcas Yopa, Nestlé e Kibon.
A frequência diária dos clientes na padaria garantia sempre o pão fresquinho e o leite vendido em saquinho. Na época, toda padaria vendia bengala, um pão tipo francês, porém, maior no tamanho. Impossível não lembrar das pontas crocantes desse pão. Os leites eram vendidos em saquinhos de 1 litro e eram conservados em geladeira. Tinham poucos dias de validade.
Aos sábados, os padeiros caprichavam nos doces. Eram feitos os sonhos e uma variedade de roscas doces, aquelas guloseimas todas que, além de deliciosas, enchiam os olhos. O cheiro característico dos pães assando, aos sábados, era mais convidativo ainda, talvez pela produção desses doces todos no forno.
À época, os pães eram embrulhados com maestria pelos atendentes em papel finíssimo e com pontas dobradas, ou amarrados com barbante ou presos com fita adesiva. Não usavam sacolas nem sacos de papel.
Os refrigerantes vendidos eram lata ou vasilhames de vidro e acondicionados em balcões refrigerados. Não tinha geladeiras atrativas como hoje.
Aos dias atuais, temos grande variedade de salgados, pães e doces o dia todo. Bolos, doces, chocolates, refrigerantes, cafés, sucos naturais, lanches, tudo servido no próprio local. Mas a lembrança do simples que hoje é tão diferenciado sempre se fará presente.