Ação nas redes sociais é o reflexo da sociedade atual imediatista e consumista que valoriza o ter e não o ser
Por mais ocupada que seja uma pessoa, ela conseguirá um tempo do seu dia para acessar as redes sociais e ficar por dentro das postagens das pessoas, das polêmicas e “memes” atuais, ou mesmo irá postar um bom dia, a foto do prato do almoço, a localização de um lugar incrível.
É possível pensar a perspectiva da pessoa que tudo que lhe ocorre de bom ou ruim ela acaba por contar, seja para os amigos, conhecidos, familiares e até em postagens.
A exposição nas redes sociais é o reflexo da sociedade atual imediatista e consumista que valoriza o ter e não o ser. O status reconhecido virtualmente, uma grande quantidade de seguidores, curtidas e comentários positivos trazem a sensação, na maioria das vezes ilusória, de bem-estar, de prazer em ser aceito, incluído, validado. O nosso cérebro vai amar essa sensação e pode até começar a buscar essa repetição como forma de regulação do humor/do emocional dessa pessoa, já que torna-se, sem mesmo perceber, algo automático e imediato.
Um exemplo: a pessoa acorda desanimada e só consegue ir melhorando depois de fazer uma postagem, os likes irem aumentando, a galera comentando: “que massa, que top, que show”. Com essa situação, a pessoa pode estar perdendo a oportunidade de se perceber e investigar o que pode estar lhe causando esse desânimo diário.
Nesse caminho, foram surgindo os Heathers – o legal, popular, atraente, cada vez criando mais e mais conteúdos virtuais, e como a internet jamais estaciona, o novo está sempre chegando e pessoas vão ficando para trás, e essas tendo que lidar com essa espécie de abandono. Seu tempo já acabou! Outros chegam com novas ideias mais criativas.
Mas também há um outro lado, aqueles que só olham, não se envolvem, raramente curtem algo, não expõem a vida particular. São adeptos da frase do Filósofo Confúcio: “O silêncio é um amigo que nunca trai”, ou seja, ”aquilo que ninguém sabe, ninguém estraga”, pois muitas vezes o invejoso está apenas esperando saber da vida da pessoa para saber o ponto fraco e prejudicá-la.
E o que é a inveja senão “a dor pela boa sorte do outro, estimulada por aquele que tem o que deveríamos ter”. As redes sociais são justamente esse lugar de fantasias e ilusões, um palco repleto de imagens e vidas perfeitas que todo mundo deseja para si. A inveja é um sentimento que faz parte do ser humano, ele pode ficar mais intenso em alguns momentos da vida dependendo da fase que está se passando. A maioria das pessoas o negam sentir, pois é considerado um sentimento vil, ruim, negativo. Outros, nessa negação em si, acabam por projetar no outro dizendo que são as pessoas que o invejam.
Ao se olhar ao redor, pode-se ver pessoas bem-sucedidas no trabalho, adquirindo bens materiais, fazendo viagens, tendo relacionamentos saudáveis e outras tantas realizações de sonhos. Deparar-se com isso desperta sim nas pessoas o desejo de também ter e viver tudo isso, e não há nada errado em querer isso para si, já que para tanto é esperado que a pessoa se movimente, corra atrás, trabalhe muito, estude, busque mudanças, se conheça e muito mais. Todo mundo tende a buscar o que deseja para si a partir do que vê no mundo, e as outras pessoas fazem parte dele, e isso não é a inveja. Isso é o desejo que move o ser humano.
Inveja é não querer que o outro tenha, é desenvolver a raiva, o ódio e o ressentimento pelo outro ter a felicidade que essa pessoa não tem ou até mesmo ter pensamentos e comportamentos que caminham para a destruição do outro.
Portanto, esse ponto do sentimento da inveja é destruidor de si mesmo e dos seus relacionamentos. A pessoa, muitas vezes, vive esses episódios de repetição da inveja e nem mesmo se dá conta, não conhece isso nela própria, apenas sente-se vítima da vida, das pessoas, até dos próprios pais. Sente-se injustiçada, e vive no questionamento do porquê a vida dela é assim, porque não tem sorte como os outros. Essa maneira de enxergar a vida não vai mudar “do nada”, há de se reconhecer a necessidade de ajuda psicológica/psicanalítica para identificar-se as raízes dessa inveja patológica que pode estar na base da construção da autoestima e da autoconfiança que são características da personalidade construídas desde a primeira infância.