População LGBTQIAPN+ sofre com a invisibilidade social, o desemprego, a precariedade no mercado de trabalho e a falta de acesso a direitos básicos
Em uma sociedade marcada por profundas desigualdades, a falta de consciência de classe é um dos fatores que mais prejudicam o desenvolvimento de uma comunidade justa. Consciência de classe refere-se à capacidade de um grupo social identificar sua posição dentro da estrutura econômica e compreender como as dinâmicas de poder e riqueza impactam suas vidas e seus direitos. Quando essa percepção está ausente, perpetua-se um sistema que privilegia poucos e marginaliza muitos, criando uma barreira para o progresso social. No Brasil, essa realidade é especialmente árdua para minorias sociais, como a população LGBTQIAPN+, que enfrenta camadas adicionais de preconceito e exclusão devido à sua orientação sexual, identidade de gênero e, muitas vezes, à sua condição socioeconômica.
A consciência de classe nos ajuda a entender que as lutas por direitos sociais e econômicos são interligadas. Sem essa consciência coletiva, cria-se uma falsa percepção de que questões de gênero, sexualidade e raça, por exemplo, são “problemas isolados”, ignorando o fato de que tais opressões estão profundamente enraizadas nas estruturas econômicas que perduram a exclusão. A população LGBTQIAPN+ sofre com a invisibilidade social, o desemprego, a precariedade no mercado de trabalho e a falta de acesso a direitos básicos, como educação e saúde de qualidade, ou seja, problemas que afetam desproporcionalmente aqueles que já se encontram em situação de vulnerabilidade econômica.
Um exemplo claro é o acesso à moradia digna. Indivíduos LGBTQIAPN+, especialmente aqueles rejeitados por suas famílias, muitas vezes enfrentam discriminação no mercado de aluguel ou são empurrados para áreas de risco e moradias precárias, demonstrando como a falta de uma visão crítica sobre as desigualdades socioeconômicas amplia as dificuldades para essas pessoas, que não enfrentam apenas preconceitos por sua sexualidade ou identidade de gênero, mas também pela sua posição na hierarquia econômica.
Além disso, a ausência de políticas públicas que contemplem a interseccionalidade — a sobreposição de diferentes formas de discriminação — impede que o poder público lide de maneira eficaz com os problemas enfrentados pelas minorias. Sem uma consciência de classe que compreenda a urgência de mudanças estruturais, a luta pelos direitos dessas populações fica segmentada, incompleta e lenta, agravando o ciclo de exclusão.
Para reverter esse cenário, a implementação de políticas públicas que promovam uma verdadeira inclusão social e econômica é urgente, reconhecendo as especificidades de cada grupo. Abaixo estão alguns exemplos para fomentar uma sociedade mais consciente de classe:
• Educação inclusiva e crítica: Implementar uma educação que aborde, desde cedo, questões de classe, gênero e sexualidade de maneira interseccional, ajudando a formar uma geração mais consciente das desigualdades e preparada para combatê-las.
• Programas de inserção no mercado de trabalho: Criar políticas afirmativas para a inserção de pessoas LGBTQIAPN+ no mercado de trabalho, com incentivos fiscais para empresas que promovam a diversidade e protejam seus colaboradores contra discriminação.
• Políticas habitacionais inclusivas: Desenvolver programas habitacionais que contemplem populações marginalizadas, garantindo que indivíduos LGBTQIAPN+ possam acessar moradias dignas sem enfrentar discriminação.
• Fortalecimento de redes de apoio e acolhimento: Ampliar o financiamento para ONGs e iniciativas sociais que ofereçam apoio legal, psicológico e financeiro para pessoas LGBTQIAPN+ em situação de vulnerabilidade econômica e social.
• Reforma nas políticas de saúde: Assegurar que o sistema público de saúde seja mais sensível às necessidades da comunidade LGBTQIAPN+, com campanhas de conscientização e formação de profissionais para lidar com as especificidades dessa população.
Essas medidas podem não transformar a realidade de forma imediata, mas são passos cruciais para que, com o tempo, a sociedade brasileira se torne mais justa, inclusiva e atenta às suas desigualdades de classe. É preciso entender que a luta por direitos não pode ser dividida por categorias estanques; a verdadeira mudança social só virá quando todas as camadas da população forem incluídas nas políticas públicas e na busca por um futuro mais equitativo.