A jornada de Heloisa Barrozo entre artes cênicas, psicodrama e psicanálise

Artista revela como o fascínio pelo ser humano e suas complexas relações a levaram a seguir diversas áreas de atuação e a desenvolver uma abordagem integral como arte-educadora

A cosmopolense Heloisa Barrozo seguiu um caminho artístico e interdisciplinar, explorando o ser humano em sua totalidade. Fascinada pela complexidade das relações e das emoções, a artista, psicanalista e criminóloga acredita que todas as áreas em que atua estão conectadas. “Trabalho essencialmente com pessoas, e as coisas relacionadas a elas. Qual é o instrumento da atriz? O corpo e tudo que há nele: mente, sentimentos, voz, expressões”. Para Heloisa, é essa união entre as áreas que permite um olhar mais profundo sobre a natureza humana e os conflitos internos.

 

Como arte-educadora, ela aplica suas variadas formações para ver seus alunos de forma integral. Ela acredita que a arte é uma ferramenta poderosa para acessar emoções e pensamentos, promovendo um ambiente de acolhimento e empatia. “A arte é uma das maneiras mais eficientes de acessar as pessoas, suas emoções, sentimentos, pensamentos. Eu busco fazer um acolhimento do que aquela pessoa pensa, sente… tenho uma escuta ativa, empática”, explica.

O papel da arte e do teatro no desenvolvimento social e emocional

Para Heloisa, a arte e o teatro desempenham papéis essenciais no desenvolvimento emocional e social. “A arte é um caminho para a gente entrar em contato com a gente mesmo, com os sentimentos, emoções, ideias, pensamentos, ideologias… e também, um caminho para acessar os outros, para afetar os outros”. Segundo ela, o teatro ensina o respeito mútuo, pois mesmo em um monólogo, a experiência é compartilhada. “Vivemos em comunidade, e a arte nos ajuda a termos essa consciência, a sermos seres atuantes nesta sociedade”, conta.

 

Ao longo de sua carreira, Heloisa destaca o valor dos projetos de criação coletiva. “Eu gosto muito dos processos de criação coletiva, como esta peça em que estou trabalhando atualmente junto com o Kiko Pissolato. Isso nos fortalece enquanto grupo e traz uma identidade marcante para o que estamos fazendo”.

Ela também compartilha seu processo de escrita em seus livros, inspirados por suas experiências pessoais. Nitidez pelo trinco – resquícios da Pauliceia em um único ato, uma coletânea de poemas, nasceu de suas vivências em São Paulo, Rio de Janeiro e Santiago de Compostela. “Escrevo desde criança, mas sempre mantive ali, dentro do meu universo. Publicar foi uma exposição gigantesca, então foi um processo me permitir.”

Já seu segundo livro, Colagens, rabiscos e poesia – Como o espinho da flor, que faz o dedo sangrar, foi viabilizado pela Lei de Incentivo Paulo Gustavo, trazendo temas sociais e oferecendo acessibilidade por meio de audiodescrição.

A escritora acredita que os desafios para artistas brasileiros ainda são muitos, especialmente pela falta de incentivo acessível. “Infelizmente, a arte ainda é muito elitista. Fazer arte é caro, consumir arte é caro. Trabalho há mais de 20 anos tentando trazer a arte para um lugar mais acessível”. Apesar dos retrocessos recentes, Heloisa vê nas Leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc uma esperança para revitalizar o cenário artístico. “Com esses editais, conseguimos movimentar a arte de maneira mais acessível e inclusiva”.

 

A artista defende a implementação de um Conselho de Cultura ativo em Cosmópolis para promover políticas públicas que integrem a arte na educação. “A arte tem que entrar nas escolas, fazer parte do dia a dia das crianças. Assim, teremos consumidores de cultura e futuros artistas… Estamos pensando muito também na formação dos fazedores de cultura, prezando pelo desenvolvimento e qualidade dos nossos artistas locais”, finaliza.