A luz do mundo

Para quem tem boa visão, é difícil imaginar como é ser cego. O ator Jamie Foxx sabia disso. Assim, ao ser convidado para interpretar o cantor cego Ray Charles no filme Ray, decidiu ficar sem ver durante o dia inteiro. Ele não apenas colocou óculos escuros e simulou ser cego, mas, cada manhã, colocava uma venda nos olhos e somente a tirava no fim do dia. Sua atuação rendeu-lhe o Oscar de melhor ator.
No tempo de Jesus, havia muitos cegos. Um deles, cego de nascença, nunca havia visto o olhar da mãe, o rosto do pai, a cor das tâmaras, o voo dos pássaros, o colorido das flores, a beleza do pôr do sol e o sorriso da namorada, se tivesse uma. Ele não imaginava que o amarelo é tão… amarelo. Ou que o vermelho é tão vivo.
Sua vida era difícil, até porque o mundo está organizado para as pessoas que veem. E, acima de tudo, seu mundo era escuro, pois a cegueira total é a completa ausência de percepção visual da luz e das formas.
Então, Jesus cruzou seu caminho e o viu (Jo 9:1). Jesus sempre vê. No meio de uma multidão de cegos, ele vê um homem cego. Não importa se você é cego, Ele o vê. Você pode não ver Jesus, mas Ele o vê. Jesus viu o cego e o fez ver.
Porém, no contexto daquela cura espetacular, nem todos viam. Os discípulos estavam cegados pelo julgamento teológico, achando que a doença era resultado do pecado, uma punição de Deus (v. 2). Os vizinhos estavam cegados pelo ceticismo, imaginando se era realmente ele; pois, afinal, conheciam um homem cheio de limitações, e agora viam uma pessoa dinâmica e com muita energia (v. 8, 9). Os judeus estavam cegados pela sua tradição religiosa, furiosos porque a cura ocorrera no sábado (v. 13-16), dia em que era proibido colocar saliva nos olhos. Os fariseus tinham um ponto cego. Não conseguiam ver Jesus do jeito certo nem conseguiam perceber o que Deus estava fazendo a seu redor. Os pais do homem estavam cegados pelo medo, temerosos de serem expulsos da sinagoga (v. 18-22). Hoje, se alguém for removido de uma igreja, pode entrar em outra na próxima esquina. Entretanto, naquele tempo, ser expulso da sinagoga significava ser expulso da vida social, econômica e religiosa.
Felizmente, depois do encontro com Jesus, o homem começou a ver. Passou a ver o próprio Jesus de forma diferente. Note a progressão: primeiro, ele viu um homem chamado Jesus (v. 11), depois disse que Jesus devia ser um profeta (v. 17), então expressou implicitamente o desejo de se tornar um discípulo (v. 27, “vocês também”), a seguir insistiu que Jesus devia vir de Deus (v. 33) e, por fim, adorou o autor do milagre como o Filho do homem (v. 38). O ex-cego, finalmente, via a luz do mundo.

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