Atualmente, encontramos alguns fatores desencadeantes a transtornos típicos da modernidade, tais como o consumismo, transtornos alimentares (anorexia, bulimia), depressão, ansiedade, e o interesse desmedido às redes sociais. Esses fenômenos são ditos como modernos, visto que surgiram com maior intensidade na contemporaneidade.
Com a revolução tecnológica nas comunicações, particularmente com a interação entre as pessoas, não se requer mais um local específico, podendo ocorrer no mundo virtual, em forma de bate papo em tempo real.
Não podemos negar a magnitude do avanço tecnológico, que possibilita o processamento de informações, a aquisição de conhecimento, a propagação de descobertas científicas e o acesso a informações de uma forma rápida e prática.
Contudo, a Psicóloga Renata Pinheiro Estevam adverte que o acesso às redes sociais pode trazer alguns prejuízos, como, por exemplo, a busca por automedicação e esclarecimento somente via navegação, substituindo o contato com o médico, ou especialista da área em questão.
De acordo com a especialista, no que diz respeito à psicologia, muitas pessoas pesquisam em sites que prometem elucidar certas patologias, esclarecer certos sentimentos. “Porém, eles denotam fatores exatos e concretos do conceito, não levando em conta a história de vida, nem a singularidade de cada pessoa, o que leva o sujeito a um possível adoecimento, gerando mais dúvidas e ansiedades”, alerta ela.
Outro ponto a destacar seria a terapia online, que está ocorrendo nesse meio. É possível criar um ambiente para esse tipo de trabalho. “Vale ressaltar que formas de linguagem não verbais, como expressão facial, tom e ritmo da voz e da postura, se perdem, mesmo com recursos avançados, como webcam e microfones. O ambiente físico, o olhar face a face é determinante para a formação do setting terapêutico. Até porque, no ambiente virtual, o paciente pode ter acesso ao computador do trabalho, casa, lanhouse, o que dificulta a legitimidade de sentimentos, o ambiente pode interferir em seu relato”, adverte a especialista.
O processo terapêutico é uma experiência que transforma e pode se sair dela sem a queixa de início, mas com consequentes mudanças. Ao fim, não seremos nós mesmos sem dor, seremos outros, diferentes. “Crianças e jovens estão cada vez mais interligados, e explicitam um prazer que manifestam em uma espécie de mundo à parte e virtual, onde as dores, emoções são menos intensas, mais controláveis, chegando a um estado de dependência da realidade virtual, essa que para o sujeito pode ser modelável, aumentando o isolamento físico, emocional, rendimento acadêmico, profissional e relações interpessoais”, esclarece a profissional.
REDES SOCIAIS
A Psicóloga define como dependência o excesso de horas dedicadas a tal atividade, em detrimento a outras. “Esse empobrecimento das relações não se pode afirmar que seja só pelo avanço tecnológico, e o excesso de horas dedicado a ele, seria possível pensar inclusive na heterogeneidade das cidades contemporâneas, os laços afetivos cada vez mais superficiais, transitórios, casamentos desfeitos com grande frequência, rotatividade profissional em grande escala, pouco ou nenhum contato com vizinhos, parentes distantes, poucos amigos reais e mais ‘virtuais’. Consequências são sujeitos individualistas, solitários, com menores recursos sociais para suportar a demanda tão instável”, informa a especialista.
O consumismo pode ser entendido como tendo uma ligação estreita com o acesso desmedido às redes sociais. “O sujeito busca cada vez mais bens materiais para se sentir seguro e aceito na sociedade em que vive. Não é incomum perceber a euforia momentânea que esse evento traz. Cabe ressaltar que é momentânea, e a sensação de vazio, falta, permanece no sujeito. Pois não pode ser preenchida com esses ideais, o que pode favorecer outros quadros psicopatológicos”, adverte a profissional.
Renata afirma que a psicologia tem o papel de possibilitar o encontro com o sofrimento do sujeito, com um olhar empático e clínico, facilitando a vida do mesmo na sociedade, dentro dos seus limites de suportabilidade diante da demanda trazida pelo mesmo. Este processo é o que denominamos como auto-conhecimento.