A violência presente na internet e como isso afeta diretamente os jovens

O Ciberespaço foi criado na década de 1980 e significa num sentido amplo uma rede de computadores vasta e crescente denominada internet. Não se trata de um espaço físico, e sim imaginário ou mais conhecido como virtual que resulta numa forma específica de se relacionar. O ambiente virtual possui suas vantagens em que coloca pessoas em contato umas com as outras de uma forma rápida e as pessoas acabam aprendendo coisas novas o tempo todo. Acessar bancos, pagar conta, fazer compras, estudar, trabalhar, visitar outros países, resumindo, é a praticidade ao controle dos dedos. Mas, a internet também possui seu lado obscuro.
“Esse ambiente não possui barreira de tempo e espaço e o fato das pessoas poderem se comunicar de qualquer parte do mundo, em tempo real, pode fazer com que o ser humano passe a ver e a sentir o mundo de forma diferente, sendo capaz de promover uma mudança na identidade humana. Novas formas de relacionamento entre as pessoas podem não corresponder à realidade, pois o ciberespaço permite que o usuário crie personalidades virtuais imaginárias. Os usuários podem dissociar sua verdadeira identidade para uma identidade virtual, para poderem se sentir menos vulneráveis, ter um comportamento menos inibido do que o comportamento da vida real, criando um “eu verdadeiro” e um “eu on-line”. Pesquisas demonstram que os jovens sentem-se mais seguros quando interagem na internet, se comparado com o plano físico, conseguem expressar assuntos íntimos mais livremente”, complementa a psicóloga Maristela T. L. Ramos.
Para grande parte dos adolescentes, a internet é uma ferramenta de comunicação que faz parte de seus cotidianos. Não existem estudos suficientes que permitam conhecer todas as consequências decorrentes desse uso contínuo e a repercussão em suas vidas, mas sabe-se que essa tecnologia tem transformado a forma com que acontecem os relacionamentos.
“A internet possibilitou a exposição e troca de informações entre as pessoas e se isso for utilizado de forma incorreta pode tornar-se perigosa”, diz. Ela ainda completa que “a sensação de invisibilidade e anonimato presente no ciberespaço pode levar algumas pessoas a apresentarem atos abusivos, violentos e mal-intencionados. As pessoas abandonam os controles sociais necessários para uma boa convivência, atuando, muitas vezes, de maneira agressiva, desrespeitosa que promove relações caracterizadas pela violência”.
A grande parte das agressões virtuais está voltada aos adolescentes, pois a maioria subestima os riscos, que pode ser explicado pelo egocentrismo e pela impulsividade natural da adolescência. “Outro fator é que os adolescentes, muitas vezes, não são orientados ou educados para o uso consciente e seguro da internet”, diz.
A especialista diz que, entre os adolescentes, o cyberbullying é a agressão com maior incidência. “É conhecido como um fenômeno de humilhar e ridicularizar pessoas na rede; é caracterizada por comportamentos agressivos, ameaças, insultos, difamações, maus tratos intencionais, entre pares e no meio virtual, corresponde ao bullying no meio físico. São ações violentas e repetitivas
Quando o assunto é violência, muitos imaginam que sejam apenas agressões físicas, mas a violência psicológica e emocional também machuca e causa dor, até muitas vezes causando cicatrizes que permanecem ao longo da vida.Atualmente, já existe penalização em leis, mas ainda é mais difícil coibir e punir os infratores no mundo virtual”.
Um exemplo de comportamento que vem acontecendo é a agressão contra os professores. “Essas redes têm se transformado em ferramentas sem filtro para agressões e ameaças. Muitas vezes, crianças e adolescentes irritados com seus professores usam a internet como principal forma de atacá-los. Pesquisas demonstram, também, que as novas tecnologias têm sido aliadas na propagação de violência nos relacionamentos dos jovens, sejam em relações momentâneas ou longas.
Redes sociais como o Instagram, Facebook e WhatsApp facilitam o controle e a manipulação da vida da pessoa com quem se relaciona, um querendo ter acesso ao conteúdo dos celulares do outro, ou ainda impedindo que se tenha amizade com outras pessoas. Acreditam contraditoriamente que esse controle sobre o outro não seja uma violência, e sim, como uma prova de amor, e se a outra pessoa não permite o acesso é encarado como uma traição. Entre os jovens, existem crenças de violência em forma de amor, justificando o ciúme excessivo como aceitável, como se fosse um cuidado com o outro. Em alguns casos, tapas, beliscões e arranhões também passam por algo normal”, afirma a especialista.
Atualmente, estão considerando necessária e urgente a adoção de medidas que visem a educação das crianças e adolescentes nas escolas sobre as agressões virtuais. “Alguns professores e escolas já estão tendo a iniciativa de trabalhar com esse assunto. Pais e familiares, muitas vezes, não sabem como agir para que os filhos não se envolvam em casos de agressão virtual, pois, também não foram educados para as novas tecnologias.
O desconhecimento por parte dos adultos sobre essa problemática acaba dificultando a orientação aos jovens. Resultados satisfatórios sobre essa questão só serão possíveis de forma cooperativa. Há de se haver investimentos em profissionais/educadores que possam propor intervenções adequadas. Aos pais, o olhar sempre atento aos filhos incluídos nessa grande rede, pois estes podem estar causando agressões virtuais, como também sendo vitimas delas, e essas podem ter consequências drásticas para todas as partes.
Busquem conhecimento e orientação sobre o assunto. Proibir o uso da internet não educa e não previne, o importante é dialogar conscientizando sobre a responsabilidade que se tem para si ao se utilizar a internet.
Enfim, permitir o acesso com regras e limites negociados, para não privar os filhos desta importante tecnologia de comunicação, estudo, diversão e pesquisa”, conclui Maristela.