“Ocupando as mídias de forma crescente desde o ano passado, quando nos estados do norte (destacadamente Roraima e Amazonas), vimos um número assustador de casos da doença surgirem por fatores como a imigração de refugiados da Venezuela (país em grave crise humanitária com muitos indivíduos afetados pelo vírus) e o ambiente propício da baixa cobertura vacinal dos brasileiros de tal forma que, agora, temos o sarampo no ‘quintal da nossa casa’.
O ponto é simples e matemático: quando falamos em 95% de cobertura vacinal, impedimos a circulação do vírus. Não temos alcançado mais estes valores há tempos, ficando sempre bem abaixo, e tal como fogo em mato seco em dia de vento, assistimos atualmente a progressão da doença.
Isto, pessoalmente para mim, que pratico pediatria há um pouco mais de 20 anos, é até mesmo estranho. Chegamos a ser declarados área livre de sarampo até 2016. Pelo menos na região sudeste, víamos tão pouco que passei a minha faculdade inteira e mais o período de residência me deparando com um único caso.
São Paulo, estado mais rico e teoricamente instruído do país, tem contabilizado mais de 480 casos, sendo que, em torno de 360, somente na capital.
O sarampo é causado por um vírus, altamente contagioso, transmitido através de gotículas de saliva e secreções
respiratórias veiculadas por tosse e espirros.
Classicamente, a patologia é caracterizada por: febre elevada de até 40 °C, tosse persistente, coriza, conjuntivite aquosa e com grande grau de avermelhamento dos olhos. Aproximadamente 48 horas antes da vermelhidão, podem surgir manchas esbranquiçadas com um leve tom azulado na parte interna das bochechas próximo a área dos dentes molares, além de pequenas feridas na mucosa da boca. A vermelhidão da pele possui a característica de se iniciar na região da cabeça, disseminando-se em direção ao tronco e pés ao longo de 72 horas durando uma média de 6 dias. Quase sempre a febre se mantém ao longo da primeira semana de vida, com a tosse estendendo-se um pouco mais do que isso. Pode haver muito frequentemente como complicação do quadro viral, a associação de pneumonia, otite média (infecção de ouvido), além de complicações neurológicas, como as encefalites.
A doença é considerada de notificação compulsória, ou seja, todo profissional de saúde que se depara com um caso suspeito deve notificar o mesmo a uma autoridade sanitária local, como os serviços de vigilância epidemiológica.
O sarampo não possui tratamento específico, porém, o seu diagnóstico precoce é imprescindível a fim de que consigamos bloquear a progressão da doença.
Atualmente, nosso calendário vacinal preconiza aplicação de duas doses da vacina de sarampo com 12 e 15 meses de vida. Entretanto, em casos de bloqueio, ou ainda, levando em consideração a atual situação na capital, bebês a partir de seis meses farão uma dose antecipada que não será descontada das doses obrigatórias mencionadas anteriormente.
Na região de Campinas, por enquanto, a primeira dose só é feita aos 12 meses.
Casos onde a pessoa não possa ser vacinada, como, por exemplo: portadores de doença que afetem o sistema imunológico, grávidas e bebês com menos de seis meses, está indicada a aplicação da imunoglobulina, a qual tem na sua composição anticorpos para combater o vírus.
Muita das vezes, caros leitores, munido do mais puro amor maternal ou paternal, receosos de que algum mal aconteça, aderimos a pensamentos, por vezes, muito bem estruturados, decidindo não vacinar nossos filhos. Não imagino, entretanto, que dor deve sentir um pai ou uma mãe vendo na sua casa ou em um leito hospitalar seu filho adoecer por algo totalmente evitável em pleno século XXI.
Vacinas em geral podem causar complicações? Sim. Este que vos escreve já as assistiu algumas vezes. Mas, confesso aos senhores que assisti muito mais casos tristes relacionados com a falta de uma simples medida preventiva do que com o devido cuidado aventado neste texto”.
Por André Arruda