Alcoolismo e dependência de drogas no Brasil

O álcool é lícito, porém, causa mais dependência que muitas drogas ilícitas

Maristela T. Lopes Ramos
Psicóloga
CRP 06/136159
Rua Santa Gertrudes, n°2063 – Bela Vista 

O dia 20 de fevereiro foi estabelecido pelo Ministério da Saúde como o Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo no Brasil. É uma data que traz a necessidade de lembrar que o consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas, lícitas ou ilícitas, é uma questão de saúde pública quando fica estabelecida uma relação de dependência química naquele que usa a substância, ou seja, vai além de um uso moderado ou recreativo, e também não está relacionado ao tráfico.
É preciso salientar que o álcool, por ser uma substância lícita, muitas vezes, não é considerado droga, mas tem, sim, a mesma conotação, pois altera a consciência e pode causar dependência química. O álcool é uma droga que está presente na maioria dos lares. Basta abrir a geladeira, basta haver qualquer tipo de confraternização doméstica que lá está o álcool. Muito raro quem nunca na vida experimentou um gole de uma bebida alcoólica. Geralmente, é na época da adolescência que a substância nos é apresentada, e dependendo dos lugares que frequentamos, das amizades que mantemos, das sensações que sentimos, vamos cada vez mais nos “familiarizando” com a substância, isto é, ela vai progressivamente causando uma dependência química no organismo. Sem falar da dependência psicológica/emocional.
Esse termo dependência química tem como sinônimos as palavras vício, toxicofilia, toxicomania e adicção. A adicção, segundo o dicionário da língua portuguesa, tem caráter de escravidão. E em se tratando da dependência psicológica/emocional, alguns autores pontuam sobre a escravidão dos indivíduos adictos a uma “solução” para escapar da dor mental ou dor da alma. Não há uma consciente intenção do usuário tornar-se um escravo, pelo contrário, recorre-se a uma substância imaginando qualidades positivas para atenuar os estados afetivos vividos como intoleráveis e que não se está conseguindo suportar ou lidar.
Em outras palavras, quando, diante de momentos difíceis, acontecimentos externos ou mesmo internos ultrapassam a capacidade habitual de conter e elaborar essas questões, o mecanismo encontrado é buscar uma substância ou um comportamento que “amorteça”, “anestesie” a dor psíquica, acabando por se tornar mais adiante, uma compulsão. E nesses estados entram também possibilidades de abuso e dependência de jogos, internet, televisão, condutas alimentares, sexo, compras, cigarros, medicamentos.
Existe uma pergunta recorrente sobre esse tema: “o que leva uma pessoa a usar drogas?”. Não existe uma só resposta, porque não se pode generalizar. Cada pessoa tem a sua história de vida, cada um traz os fatores orgânicos, emocionais, ambientais, sociais. Acredita-se que uma pessoa já nasce com a predisposição orgânica de se tornar um dependente químico, se essa pessoa nunca experimentar a droga, ela nunca nem saberá que tem essa predisposição, mas se usar, a chance de se viciar é muito graande.
Muitas vezes, uma pessoa experimenta uma droga ou álcool apenas na curiosidade, imaginando que a substância é inofensiva, que jamais ela irá se tornar dependente, que jamais ela perderá o controle. Passado um tempo, pois como já dito, a doença vai progressivamente se instalando na pessoa, isso mesmo é uma doença, progressiva, incurável e fatal. Incurável porque uma vez a doença instalada não tem como retornar ao estado original. Não tem cura, mas tem tratamento. É uma doença crônica assim como o diabetes e a pressão alta, vai ter que cuidar, tratar sempre.
O tratamento vai depender do nível de dependência e compulsão que se encontrar essa pessoa. Muitas pessoas não têm forças nem para pedir ajuda, ou não reconhecem que necessitam de ajuda. Nesses casos, muitas vezes, são os familiares que têm que intervir e pedir uma internação compulsória (involuntária), e é baseado na abstinência da substância. Existem também tratamentos baseados na redução de danos, que é dar um tempo no abuso da substância, ou mesmo apenas diminuir. Em uma internação, o tratamento é multidisciplinar, isto é, vai envolver acompanhamento médico, psicológico, nutricional, atividade física, entre outras atividades.
Enfim, esse é um tema muito amplo, e para mais informações às famílias ou aos próprios dependentes químicos, buscarem um profissional da psicologia que poderá analisar todo o histórico e direcionar para um tratamento indicado de acordo com cada caso.