A amamentação cruzada pode ser compreendida como o ato de ceder um bebê a outra amamentadora que não seja a progenitora da criança. A prática é contra-indicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde, pois pode acarretar doenças infecto-contagiosas, como AIDS, ao recém-nascido.
A jornalista e consultora de amamentação Bruna Genaro explica que a prática de amamentação cruzada foi muito difundida no século 13, quando a “ama de leite” atuava como membro da família, fazendo do aleitamento uma fonte de lucros. No Brasil, era comum a escrava ser ama de leite e todo dinheiro conquistado pela prática do aleitamento era revertido aos seus senhores.
“Na última semana, tivemos um episódio em um folhetim nacional completamente equivocado incentivando tal prática. No entanto, vale ressaltar que nenhuma mãe deve deixar que seu bebê seja amamentado por outra mulher. É uma questão de vida!”, alerta Bruna.
Um dos fatores que contribuem para a busca de métodos como este decorre da insegurança que muitas mães possuem em amamentar seus filhos, algo que deve ser trabalhado no período de gestação. “Agora pense: uma mãe insegura de si e do seu leite, diante de uma mãe segura que confia em sua capacidade de nutriz, a mãe insegura não iria preferir que a mãe segura amamentasse seu bebê? Mas acontece que cada mãe tem o leite perfeito para o seu bebê. É uma questão de trabalhar nesta mulher insegura a sua capacidade de alimentar seu bebê. Não existe nada mais perfeito e mais completo que o leite materno. É o leite da espécie do bebê, ele nasceu para ser alimentado com este líquido. Se o leite é completo, certamente o problema não está com ele, e sim, com a nutriz. Por isso, mães que se sentem inseguras quanto ao aleitamento materno devem procurar ajuda de um consultor ou até mesmo um psicólogo”, aconselha a consultora.
Riscos
Além da AIDS, uma criança amamentada por uma mulher portadora da Hepatite B pode contrair a doença por meio do leite e, também, pela presença de sangue em caso de lesões mamilares. “De acordo com o Manual Normativo para Profissionais de Saúde de Maternidade, desenvolvido pelo Ministério da Saúde: ‘qualquer pessoa com vida sexual ativa, ou que tenha recebido transfusão de sangue, ou que seja ou tenha sido usuária ou parceira de usuário de drogas injetáveis, pode estar infectada pelo vírus HIV e/ou outras doenças transmitidas pela amamentação’”, explica.
Bruna ainda esclarece que o grau de intimidade e conhecimento entre duas mulheres não diminui os riscos da amamentação cruzada. “Mesmo que você conheça a mulher, podendo ser até alguém de sua família, uma pessoa que aparenta estar saudável, não significa que ela não tenha alguma doença que pode ser transmitida pelo leite, ou ainda, que faça uso de remédios contraindicados para o período do aleitamento. Além disso, uma mulher sexualmente ativa corre o risco de ser contaminada por HIV em qualquer momento de sua vida. Sendo assim, não dá para confiar nem em laudos médicos atestando sua boa saúde, já que ela pode estar na ‘janela imunológica’ (quando a doença ainda está incubada, sem sintomas)”, pondera.
No caso de dificuldade com a amamentação, a mãe deve procurar o Banco de Leite mais próximo ou um consultor para ajudá-la. “Em caso de mulheres portadoras de doenças infecto-contagiosas, como a AIDS, a recomendação é que este bebê seja alimentado com fórmula infantil”.
Já para mães adotivas, os riscos de contaminar a criança com alguma doença ainda existe, mas, a partir da adoção, a mulher torna-se inteiramente responsável pelo filho, podendo assim amamentá-lo pelo processo de relactação.“O leite oferecido no BLH, não é considerado aleitamento cruzado, pois há todo um processo de seleção, esterilização e pasteurização, o que garante a inativação térmica de 100% dos microrganismos patogênicos e controle microbiológico”, conclui a consultora.