Esta semana, a GAZETA de COSMÓPOLIS realizou uma entrevista com André Cavagnini, de 38 anos. O empresário conta como foi ser bancário, dono de supermercado e, hoje, administrador de um estacionamento multimarcas.
GAZETA de COSMÓPOLIS: Você nasceu em Cosmópolis?
André Cavagnini: Nasci em Cosmópolis, mas morei em Limeira e Piracicaba durante dez anos, pois, trabalhei por sete anos no Banco Real de Limeira. Após isso, fui montar um mercado na cidade de Iracemápolis. Como minha esposa trabalhava em Piracicaba, decidimos ter residência por lá. Depois que vendi o mercado, continuei em Piracicaba, pois, iniciei um novo emprego em outro banco.
GAZETA: Durante a juventude, pretendia seguir alguma carreira em específico?
André: Eu queria fazer engenharia mecânica quando criança, pois, sempre gostei de carros e de equipá-los. Nesse percurso, minha mulher engravidou e mudou um pouco a rota dos meus planos, pois, na época, eu tinha apenas 17 anos. Acabei indo estudar em Limeira para fazer Pró-Cotil.
Meu desejo era realizar um curso pré-vestibular e ir para a faculdade, mas tive que atropelar isso, sair do cursinho no meio do caminho para fazer um intensivo e ir direto para a faculdade. Fui para o ISCA cursar Economia, que não pude terminar. No final, me formei em Administração.
A verdade é que eu queria Economia, mas minhas aulas eram de manhã, pois trabalhava na tesouraria do banco no período da noite. Entretanto, minha classe era composta inteiramente por alunos de uma empresa em Limeira. Passado um tempo, todo esse pessoal foi transferido para outro horário, um que eu não podia acompanhar. Assim, tive que deixar o curso. Três meses após isso, fui promovido para gerente na agência bancária, o que me levou a cursar Administração. Sou meio economista e meio administrador (risos).
GAZETA: E como foi conciliar os cuidados com um filho pequeno e a construção de uma carreira?
André: Nem sei explicar. Hoje, meu filho mais velho tem 19 anos, mas, o início da vida dele e da nossa como pais não foi fácil. Na época, morávamos em Limeira, mas meus pais e os pais da minha esposa continuavam a morar aqui. Por isso, saíamos do banco, já que ela também era bancária, íamos direto para a faculdade e, quando saíamos, vínhamos para Cosmópolis para ver o nosso filho que ficava com a minha sogra. Minha esposa tirava leite e deixava em mamadeiras paravoltarmos a Limeira. Lembro-me que ela chorava por deixar o Leonardo aqui e voltar para casa. Era um ciclo que nos entristecia.
GAZETA: Como foi o trajeto até a abertura deste estacionamento?
André: Em 2005, eu estava no Banco Real, ainda como gerente, porém, meu salário estava muito curto. Banco é carreira. Com muitos anos atuando em um, você consegue um salário legal, mas com cinco, a remuneração não era assim tão alta.
Eu tinha uma ajuda de custo chamada ‘Auxilio Babá’, que me rendia uma verba para pagar uma escola particular pro Leonardo. Infelizmente, este auxílio estava acabando e nós precisávamos dele, já que nossa renda mensal não nos permitiria pagar o colégio.
Era complicado. Não tínhamos família para cuidar dele lá, por isso, decidi montar um negocio só para mim.
Na época, eu havia lido um livro chamado ‘Pai Rico, Pai Pobre’ e outro chamado ‘Aposentado Jovem e Rico’, que foram os pontos de partida e motivação para que eu investisse em um negócio meu.
Montei um supermercado chamado ‘Antale’, que era a junção do meu nome, André, da minha esposa, Tatiane, e do meu filho, Leonardo, em Iracemápolis. Ele tinha uma localização estratégica, já que precisava faturar em torno de R$ 20.000 para pagar despesas fixas do comércio e tirar um salário para mim, assim como o que eu tinha no banco.
No primeiro mês, eu faturei R$ 130.000! Entretanto, para o meu infortúnio, eu só pensava em grana e não no trabalho que eu teria. No banco, eu trabalhava de segunda a sexta, com folga em feriados. Já no mercado, me vi em um trabalho de domingo a domingo, onde eu entrava de manhã para sair às 22h da noite. O único dia que eu saía cedo era aos domingos. Para ficar junto com minha família, eu jogava um colchão na sala e dormia com eles. Isso durou dois meses.
Após esse período, recebi uma proposta de um outro dono de supermercado para a compra do meu estabelecimento. A verdade é que o meu comércio era estratégico, pois, funcionava das 8h às 22h e abria aos domingos, coisa que nenhum outro fazia. Por isso, ele me cedeu uma proposta para ter o meu mercado que era menor que o seu, sendo possível que ele mantivesse esta carga horária com um número reduzido de funcionários.
Não pensei duas vezes e vendi. Pensei em montar a loja de carros em 2005 mesmo, mas, um gerente do Banco Alfa me chamou para trabalhar na agência. Fiquei lá por dois anos.
Mesmo assim, continuei com a ideia de investir em carros, por isso, com o dinheiro do supermercado, passei a comprar automóveis e comerciá-los com terceiros. Chegou uma hora que eu faturava muito mais com os veículos do que no próprio banco, o que me fez deixar definitivamente meu serviço fixo em 2007.
GAZETA: Você chegou a ter algum receio dentro deste negócio?
André: Eu deveria ter tido, mas dei muita sorte. Peguei o negócio em uma época boa, no ano de 2007. A crise só passou a afetar o setor de automóveis a partir de 2009. Eu vendia muito no começo. Só fui sentir medo há dois anos. Eu cresci muito rápido, ganhei muito dinheiro, mas eu não tinha uma verdadeira noção de administração. Eu não rasgava dinheiro, mas não controlava muito os meus gastos, pois, na minha cabeça, eu não precisava.
Por isso, fui sentir os impactos disso há alguns anos. Eu não tive um começo difícil, mas meu caminho teve muitas pedras. Felizmente, isso me fez amadurecer e hoje estou me recuperando da crise que passei.
GAZETA: O que você pode dividir com as pessoas que desejam abrir um comércio?
André: Não tenha medo de nada! Lembre-se que tudo o que você fizer por dinheiro não dá certo. Tenha ideia dos gastos e dos custos para manter as portas abertas antes de se aventurar em algo novo. Sobre todas as coisas, goste do que faz, o dinheiro vem como consequência. Tenha um capital de giro, organização e conheça bem o ramo. Por fim, tenha paciência com clientes, pois haverá pessoas difíceis de lidar.