Ano novo: como podemos lidar com recomeços?

Para muitos, essa época do ano representa uma vida nova; para outros, é apenas uma continuação da vida

Nessa época do ano, muito se ouve a frase “ano novo, vida nova”. Para alguns, a entrada para um ano novo é apenas a vida que continua; para outros, significa um recomeço. Ainda mais quando essas pessoas tiveram um ano difícil, de crise, de dificuldades, de problemas e conflitos. Isso sem mencionar os anos recentes de pandemia que todo mundo viveu.
A pessoa pode ter passado por situações pessoais, amorosas, familiares ou profissionais muito difíceis, como também pode não aguentar mais o estilo de vida vivido e acreditar que as rotinas precisam ser reconfiguradas ou radicalmente transformadas.
Além de perceber que é hora de recomeçar, reconstruir, reiniciar um novo ciclo diferente e mais eficiente que o anterior, é preciso agir. Esse processo não é simples, é necessário aprender a seguir em frente apesar da bagagem de experiências sofridas que se carrega. Não é possível esquecer, isso seria amnésia, são como cicatrizes que marcam a pele, mas essas marcam nosso ser, nosso íntimo, nossa alma.
De alguma forma, cada uma das pessoas encontra a sua forma interior de olhar para suas feridas, e vai depender também do ponto de vista, do viés que se olha para tal. Se a pessoa olhar do “lugar” do vitimismo, irá passar mais um ano reclamando e se lamentando sobre o que lhe aconteceu, o que a vida ou o que as pessoas lhe causaram de mal. Isso é remoer, ruminar o sofrimento, isso nunca passa, e muitos vivem uma vida assim.
O outro ponto de vista que se pode adotar para a vida é contar com o apoio da própria resiliência. Termo originário do latim, resílio que denota retornar a um estado anterior. Refere-se, então, à habilidade de superar adversidades. Um exemplo muito utilizado na psicologia para explicar esse termo é se espelhar na planta bambu. Ela possui a característica de ter o tronco reto, cilíndrico, fino e pode alcançar até 25 metros de altura. Diante de uma tempestade de muita chuva e vento, o bambu consegue a proeza de se envergar de um lado a outro, quase vai ao chão, mas quando a tempestade passa, ele retorna ao seu estado original.
E assim é a resiliência para o ser humano, conseguir passar pelas “tempestades da vida”. Ter resiliência não significa não sentir, não sofrer. Significa, apesar do sofrimento, conseguir dar a volta por cima, conseguir seguir em frente, levando como aprendizado as experiências difíceis que passou.
Por que algumas pessoas são mais resilentes que outras? Vai depender das habilidades emocionais/psicológicas desenvolvidas desde a infância na convivência com quem se é criado. Muito se imagina que as crianças apenas “brincam” e que são alheias ao mundo dos adultos. Mas não é bem assim. Os adultos são os modelos de pessoas para todos quando crianças. Elas subjetivamente vão absorvendo a maneira com que os cuidadores lidam com as adversidades da vida, e com isso vão desenvolvendo ou não suas próprias habilidades.
São as habilidades de compreender e dar um sentido ao sofrimento vivenciado. Esse sentido é um conjunto de crenças de como se pensa e se sente o mundo, baseado na educação e princípios religiosos passados pelos cuidadores. Habilidade de perceber os problemas mais como desafios e aprendizados do que como cargas pesadas. E também habilidade de conseguir utilizar os recursos que possui para lidar com os problemas, ao invés da passividade de “eu não posso fazer nada porque não tenho dinheiro, ou não tenho ninguém para ajudar, não tenho estudos, e etc.”. Ter uma atitude ativa com as possibilidades que há no momento, apenas a fé é uma possibilidade, pois não deixa morrer a esperança. A psicoterapia é uma possibilidade de fortalecer a resiliência e de ressignificar as experiências sofridas de vida.
Enfim, é possível resumir essa reflexão em duas frases. A primeira do filósofo Nietzsche. “O que não me mata, me torna mais forte” e a outra do filósofo e escritor Jean-Paul Sartre, ”Não importa o que a vida fez de você. Importa o que você fez, do que a vida fez de você”.

Maristela T. Lopes Ramos
Psicóloga -CRP: 06/136159
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