Antiga máquina de beneficiar arroz fez parte da história do comércio de João Scarpa

João Scarpa, comerciante de 77 anos, tem muita história para contar de como iniciou sua vida profissional e do quanto Cosmópolis foi essencial nesse processo, que aconteceu há 35 anos. Atualmente, ele reside no bairro de sítios Serra Velha, que já é considerado município de Limeira, e é vizinho do Nova Campinas. João se considera cosmopolense, apesar disso.

Como tudo começou
“Tudo começou quando comprei, em 1981, esse barracão, que tinha apenas uma grande máquina de arroz dentro. Eu e minha esposa moramos até hoje no sítio. Porém, sabemos que, no sítio, as coisas são mais difíceis, a vida é muito sacrificada. Na época, meu irmão, meu cunhado e eu tínhamos poucas terras para plantar, e então tínhamos que plantar nas terras de outros proprietários… Assim, dávamos algumas partes da colheita para o patrão. Do que sobrava, repartíamos entre nós três. Contudo, chegamos a um ponto que estávamos ficando velhos, não íamos conseguir sair daquela vida.

Sr. João Scarpa tem 77 anos e começou as atividades em Cosmópolis comprando uma máquina de arroz

Sr. João Scarpa tem 77 anos e começou as atividades em Cosmópolis comprando uma máquina de arroz

Um dia, falei que, se desse certo, eu mudaria o ramo: da plantação, eu iria mexer com uma máquina de arroz. Não poderia ser outro serviço, porque eu tinha pouco estudo. Trabalhar com máquina de arroz é um serviço mais braçal, grosseiro, e força a gente tinha muita! Principalmente, para pegar todas aquelas sacarias de arroz.

Um belo dia, minha filha estava indo para a escola e passou em frente desse barracão, que tinha somente uma máquina de arroz, e ela me avisou que estava à venda. No mesmo dia, peguei meu fusquinha, fui até lá conversar e negociar com o proprietário da máquina. Porém, eu não tinha o dinheiro suficiente para comprar. Eu estava querendo comprar ‘em sociedade’ com meu irmão e cunhado, o que acabou acontecendo mesmo. Aí, eu propus dar três lotes de terra que eram nossos, dentro da cidade, para ele e completar o restante do valor em dinheiro. Porém, também não tínhamos dinheiro para completar! (risos).

Para isso, fizemos um levantamento no banco e conseguimos mais uma parte do pagamento. O que faltou, consegui quitar após 120 dias, porque o trabalho com a máquina começou a dar lucro. Graças a Deus, nós nunca demos calote em ninguém, conseguimos tudo por esforço e mérito próprio, porque sabemos que existem pessoas que sobem na vida passando outras para trás, e isso não está certo.
Confesso que teve um momento em que eu desanimei, e pensei em desistir dessa ‘loucura’ de comprar a máquina de arroz. Minha esposa, Alzira, me fez continuar em frente e não desistir da ideia.
Quando comprei o barracão, ele estava caindo aos pedaços! (risos). Estava tudo muito antigo. Chamaram-nos até mesmo de loucos! Conforme o lucro foi aumentando, fomos restaurando o barracão aos poucos”, detalha o comerciante.

A máquina
“A máquina podia receber arroz, milho, quirela… mas, na época, só beneficiávamos arroz. Vendíamos os demais no varejo, mas, o arroz era preparado para ser vendido no atacado, e vendíamos de quilo. Como o barracão não tinha prateleiras e nem balcões, pegávamos caixas de madeira vazias, virávamos ao contrário e usávamos aquilo para apoiar o arroz.

Foto antiga de parte da máquina de beneficiar arroz, antes de ser desmontada

Foto antiga de parte da máquina de beneficiar arroz, antes de ser desmontada

Com o tempo, meu cunhado saiu da sociedade e meu irmão também saiu uns seis anos depois. No sítio, já havíamos separado as terras, então, cada um tinha a sua. Nesse momento, eu já havia começado a montar a agropecuária, porque o serviço da máquina de arroz estava ficando defasado, a procura havia diminuído. Isso começou a acontecer quando a Usina Ester começou a dar refeição aos empregados, e a Prefeitura, cesta básica aos funcionários. Faz uns oito anos que parei totalmente com a máquina, e ela foi desmontada. Porém, eu já havia começado com a agropecuária bem antes, e hoje faz uns 20 anos que ela existe aqui”, informa João.

Mudanças
“Cosmópolis mudou muito. Quando entramos aqui, não tinha a instalação da Polícia Militar, não tinha rodoviária, não tinha Câmara Municipal, Plenário… nada disso. Estávamos praticamente isolados nessa área. Eram só terrenos, sem construção. Chego a me lembrar vagamente da maquininha da Maria Fumaça que passava por aqui antigamente. Mesmo nos bairros, existiam poucas casas ainda.

Cosmópolis cresceu muito rapidamente! A questão da violência também mudou muito. Antes, podíamos deixar o carro aberto na rua, que não acontecia nada. Hoje, sabemos que é bem diferente”, recorda o comerciante.

Hoje, o quadro de funcionários da Agropecuária Scarpa é formado pela família de João: além dele, trabalham também a esposa, filho, nora e dois netos.

Comércio familiar: Sr. João Scarpa, Sra. Alzira de Campos Scarpa, Marcelo Scarpa, Tânia Maria Zutin Scarpa, João Carlos Scarpa e Mateus Scarpa

Comércio familiar: Sr. João Scarpa, Sra. Alzira de Campos Scarpa, Marcelo Scarpa, Tânia Maria Zutin Scarpa, João Carlos Scarpa e Mateus Scarpa