Após demissões, hospital se reestrutura para manter aberto atendimento

O Hospital Beneficente Santa Gertrudes (HBSG) passou a funcionar parcialmente desde a última semana.

Com o agravamento da crise, que atinge o hospital nos últimos anos, a direção decidiu abrir o hospital em períodos menores, passando a funcionar como um Day Hospital.

O encerramento do contrato com a Prefeitura aconteceu no dia 01 de maio. Desde então, o atendimento no HBSG passou a ser de forma particular e também através de convênios médicos.

Com o início do mês de junho, outras medidas também foram tomadas, pela direção do hospital, para adequar o funcionamento, com a demanda da população por atendimento.

No domingo (4), por exemplo, o hospital não funcionou. No sábado (3), o atendimento no local aconteceu de forma parcial.

Osiris Paula Silva, Diretor Administrativo do Hospital Santa Gertrudes

Na manhã de segunda-feira (6), o diretor administrativo do Hospital, Osíris de Paula Silva, falou sobre a situação do hospital.

Segundo Osíris, “nesse período que nós estamos trabalhando, de 35 dias, desde o término do convênio SUS, nós corremos atrás de fechar alguma parceria para sustentabilidade do hospital. Durante o mês de maio, nós fizemos vários contatos. Infelizmente, nós não conseguimos evoluir na negociação“.

Ao todo, segundo o administrador, quatro empresas foram contatadas para que o negócio fosse concretizado. Porém, com três delas, as negociações não evoluíram.

“Um quarto contato que nós tivemos, esse é o que continua interessado. Mas, juridicamente, nós não conseguimos fechar detalhes, que atendessem a legislação e o estatuto do hospital. Nós não podemos fugir da legalidade do negócio. Estamos tentando, esta semana, formatar essa última proposta, que ficou interessada. É uma empresa que se interessa em pegar o hospital pelo valor da dívida. Esta é uma semana decisiva para o hospital”.

Diante dessa incerteza, o hospital adotou um atendimento diferente do que vinha acontecendo no mês de maio.

Osíris explicou que “nós conseguimos funcionar normalmente até o dia 31 de maio. E a partir de sexta-feira (2), os médicos da cidade estão se mobilizando para não deixar o hospital fechar em definitivo. Eles se propuseram a fazer um Day Hospital, que é um hospital que funciona das 7h até às 19h, fechando no período noturno”.

Com o impasse na parte jurídica, o que atrasa o fechamento do acordo, a administração do hospital tenta fechar um acordo prévio. “Nós propomos uma medida paliativa. O que queríamos é que eles já viessem para dentro (do hospital), para que começássemos a trabalhar juntos. Como se estivesse sendo feita a transição, enquanto juridicamente fôssemos cumprindo os requisitos para que isso aconteça em definitivo”, completou Osíris.

 

Dívidas

Segundo Osíris, após levantamento realizado pela atual administração, o agravamento da situação financeira do Hospital teve início no ano de 2009.

O valor da dívida, sem a atualização dos juros e encargos, passa de R$ 8 milhões.

A atualização somente acontece no momento do pagamento. No entanto, segundo estimativas da administração do hospital, os valores atualizados passam de R$ 13 milhões.

“A atualização e todas as incidências de encargos ocorrem somente no momento do efetivo pagamento. Então,  temos uma estimativa de R$ 13 milhões”, completou Osíris.

O administrador também falou sobre a progressão da dívida do hospital. Segundo ele, “o hospital começou com problema de gestão em 2009. Só que ele tinha ‘gordura’ para queimar. Então, de 2009 até 2012, ele foi perdendo receita e começou a haver o desequilíbrio, mas, as ‘gorduras’ ainda pagaram as contas. Na virada de 2012 para 2013, não pagou. Então, em 2013, já tem dívidas. Em 2014, foi o pior ano, foi quando o hospital mergulhou de vez, sendo R$ 2,5 milhões de endividamento só naquele ano”.

 

Funcionários

Na quinta-feira (1), funcionários do hospital, que foram dispensados, juntamente com representantes sindicais, distribuíram uma carta aberta para a população.

A carta fala em número de funcionários demitidos e também do não pagamento de verbas rescisórias.

Osíris confirmou as demissões e ressaltou que novas demissões podem acontecer.

“Até o momento da carta, tinham sido dispensados vinte e três funcionários. Mas, foram selecionados quarenta e cinco funcionários em um primeiro momento”, completou Osíris.

No entanto, o número de funcionários ainda pode aumentar. Segundo estimativas, feitas pela administração, com a demanda atual, o número final de funcionários deve ficar por volta de setenta, de um total de cento e sessenta.

Isso, no entanto, não quer dizer que esse número de funcionários estará presente todos os dias no hospital. Devido a escalas, o número durante o dia pode ser menor.

 

Verbas rescisórias

Osíris também confirmou que não houve o pagamento das verbas rescisórias. Também falou sobre o não pagamento de salários para os funcionários.

Segundo o administrador, isso só aconteceu porque o hospital não recebeu valores oriundos da prefeitura municipal.

“Realmente, não foram pagas. Até porque o hospital não tem recursos e não pagou o salário de abril. Houve, dentro da nossa visão contratual, a retenção de recursos referentes ao mês de abril, que deveriam ser repassados ao hospital. Houve a retenção desses recursos, que vêm do governo federal, que repassa para a prefeitura e a prefeitura não repassou para o hospital”, completou Osíris.

Diante disso, o hospital entrou com uma ação judicial, na tentativa de reaver esses recursos.

Esses recursos, segundo Osiris, foram repassados para a prefeitura no dia 11 de maio, e deveriam ser repassados pela Prefeitura em três dias úteis.

Osíris também disse que o valor do repasse seria de “R$ 344.361,00, que garantiriam toda a folha de pagamento do mês de abril. Ingressamos com uma ação judicial no dia 17 (de maio)”.

 

Questionado sobre se o rompimento do contrato com a prefeitura teria sido a melhor decisão tomada, Osíris disse que “é difícil dizer se foi a pior ou a melhor. Quando estamos diante de duas decisões ruins, não falamos em melhor, falamos em menos pior. Era uma decisão necessária. A decisão do hospital só antecipou uma decisão que já estava escrita para acontecer”.

A Prefeitura de Cosmópolis foi procurada para comentar sobre eventuais valores que não foram repassados ao hospital.

Até o fechamento desta reportagem, a prefeitura não havia retornado.