As Fotos do Álbum

Fim de ano, fui acordado por um telefonema. Era uma de minhas irmãs que estava chorosa e inconsolável. Dizia que não conseguia deixar de lembrar os bons momentos que vivíamos quando crianças junto dos pais e irmãos.
– “Estou vendo umas fotos antigas pra matar a saudade, acaba sendo pior…” – ela disse.
Eu disse-lhe algumas palavras de consolo, mas, logo que larguei o telefone, fui para o meu cantinho reservado onde faço minhas escritas. Ao relembrar os velhos tempos, me peguei também numa destas nostalgias.
Desde criança, em fins de ano, a empolgação tomava conta da gente. Naquelas noites especiais, vestíamos nossas melhores roupas e depois, em um encontro restrito apenas com familiares, pousávamos para algumas fotografias. Na minha idade até hoje, não consigo me lembrar de Natal em que papai e mamãe não passariam junto de seus filhos.
Depois, com o casamento de alguns de nós, a família ficou dividida entre o Natal e o Ano Novo. Assim, sem qualquer norma ou indicação, o Natal foi trocado pelo Ano Novo. Os filhos casados passariam o Natal com familiares de seus respectivos cônjuges e o Ano Novo ficava guardado para nossa família. Virou uma tradição, que nenhum de nós ousaria romper. Para a festa, as tarefas ficavam distribuídas em varias etapas: Mamãe era responsável pelo “marketing”, lembrando a todos do “encontro de todos em sua casa”. Papai se incumbia de reparar alguns móveis, arredar alguns deles e preparar a pequena casa para acomodação de todos. Já outros membros da família ficavam no abastecimento, para que a festa tivesse o efeito desejado.
No dia do encontro, logo que anoitecia, já começavam a chegar os convidados e a casa refletia de felicidade. Pouco antes da meia noite, embrulhávamos num montão de abraços na brincadeira de “amigos secretos”. À meia noite, começava a corrida para mais um ano que se iniciava. O tempo era curto, uma noite e um dia, muitas vezes sem dormir bem, mas cheio de alegria. Quando as câmeras captavam nossas imagens, viam-se nossos sorrisos triunfantes, todos dando “vivas”, declarando que aquele era um milagre de Ano Novo!
Agora, quando olho para essas fotos, vejo olhos e faces diferentes em cada um de nós, comparando com o dia de hoje. Às vezes, até não deixo de rir com algumas delas. Fotos engraçadas, pegas de surpresa, mas com a felicidade estampada. Mesmo que tivéssemos gastos quantias que até nos pudesse ter feito falta, mas valia a pena.
São essas lembranças hilariantes que tornam cada foto especial. Esses álbuns que temos em várias versões narram os vários capítulos de nossa história. Quando pequenos, numa foto que temos lá no sítio onde morávamos, parecemos “bonequinhos” com roupinhas simples, e no ano seguinte a foto com a mesma roupa, mas bem passada e limpinha, escolhida por mamãe.

Oscar do Carmo Silva Neto MTB – 66134-MT/SP
saudadedaminhaterra@hotmail.com.br
Rádio Livre Expressão Web
Programa aos domingos
Horário: 12h até às 15h
(19) 99752-3636

Agora, com a ausência deles e alguns irmãos, nossas fotos não mostram tristeza e nem sinais de angústia. Apenas nos vimos transformados. Deus os levou, é certo, mas nos permutou com tantas vidas que embelezam as nossas. Principalmente, nossos herdeiros.
Gosto de pensar que, nas fotos de outros tempos, florescendo como jovens, e meios desajeitados, diferente de hoje que as fotos são tiradas com câmeras digitais e podemos escolher antes de imprimir. Toda vez que tiramos essas fotos, tentamos nos convencer a deixar de lado a vaidade. Aí penso sempre: “Devemos ficar com a primeira foto como que se não houvesse recurso para escolher, pois é a primeira que nos pega o que somos e continuamos ser, ou seja, os mais velhos para as festas de Natal e Fim de Ano”.
Não nos desafiamos a pedir presentes a Papai Noel. Já ganhamos! Somos quem somos! Tudo, graças àqueles que nos ensinaram a bela maneira de termos a consciência de União. A única coisa que queremos é tirar aquela foto para acrescentar em nosso álbum para futuras lembranças.