O dia das crianças será no próximo dia 12 de outubro, e muitos pais, padrinhos e familiares podem estar pensando em como fazer desta data um dia especial para os pequenos. Muitos pensariam em presentear, o que seria o convencional. Porém, quando o presente é a única coisa que importa para a criança, e a mesma o exige, é preciso ficar atento. Esse costume se repete não só neste dia, mas, também, no Natal, aniversário da criança, Páscoa…
Segundo a Psicóloga Renata Pinheiro, os pais e familiares podem preferir dar presentes, por dificuldades de manejo nessa difícil situação. “Precisamos analisar isso com cuidado. As pessoas, de modo geral, têm uma necessidade de aceitação, pertencimento, inserção social. O consumo entra como uma ferramenta de acesso a isso. O sujeito busca de forma exacerbada o consumo de bens materiais para se sentir seguro e aceito na sociedade em que vive. Não é incomum perceber a euforia momentânea que esse evento traz. Cabe ressaltar que é momentânea, e a sensação de vazio permanece no sujeito, porque não pode ser preenchida com esses ideais – o que pode favorecer outros quadros psicopatológicos”, informa.
A especialista faz uma ressalva: ninguém nasce consumista. “O consumo se torna um estilo de vida favorecido pela própria cultura, marcada pela sociedade atual. Uma sociedade que vislumbra o consumo inconsciente, propiciando o que possuímos, e não o que somos; o que podemos oferecer ante o que significamos como sujeitos de potencialidades e criatividade”, alerta ela.
Renata esclarece que a criança vivencia um processo de desenvolvimento físico, psicológico e emocional, e, portanto, possui uma vulnerabilidade maior que os adultos ao consumismo. “A mídia, internet, televisão, meios de comunicação, vitrines, shopping, alimentos, colaboram de forma ativa nesses casos, consequentemente favorecendo uma possível erotização precoce, obesidade, interesse por álcool, tabaco, estresse, agressividade, violência, apatia, individualismo”, afirma.
“A criança, neste movimento, construiu uma inversão de valores, o que prejudica seu desenvolvimento como sujeito oportunizador de mudanças. Vale lembrar que essa criança de hoje será o adulto de amanhã – um adulto possivelmente frustrado, inseguro perante si mesmo e o que representa para as pessoas e para o mundo. Portanto, é de suma importância que seja bem esclarecido para essa criança o significado do ser humano e de sua dimensão”, orienta a Psicóloga.
A profissional ainda afirma que o papel dos pais e educadores é de suma importância para contribuir para um desenvolvimento mais sadio, favorecendo uma sociedade menos consumista e mais realista. “A criança que apresenta esse tipo de comportamento é reforçada na medida em que os pais ou familiares colaboram para o mesmo. Os pais, geralmente, possuem dificuldades no manejo dessa situação, seja pela frustração que os filhos demonstram, seja por possíveis sentimentos de culpa. Ou seja, eles não conseguem participar ativamente da vida dos pequenos como gostariam, e os compensam com bens materiais. Essa dificuldade de tempo está relacionada à correria do dia a dia, às mudanças culturais e às exigências sociais. A qualidade do tempo passado com o filho é um instrumento valioso, mais eficiente que a quantidade de bens”, esclarece Renata.
Os pais podem promover critérios de consumo, para que, com isso, os valores não sejam distorcidos. “Construir um consumo mais consciente e responsável, conceituar as necessidades do produto, evitar o desperdício e o gasto desnecessário, visualizar, com a criança, que na escolha de uma coisa, abre-se mão de outra, facilitar os acordos, construir o senso crítico dos mesmos…”, aconselha a especialista.
A Psicóloga indica outro ponto importante, que seria os pais darem o exemplo, evitando consumos desnecessários, planejando e investindo com consciência e, dessa forma, inspirando valores para os filhos.
Por fim, podemos fazer desta celebração, e outras, uma data significativa da seguinte forma: “dialogando com a criança o seu real sentido, fazer passeios ao ar livre, parque, cinema, brincadeiras criativas e lúdicas… Essas são boas opções para passar um tempo com seu pequeno. E, mais uma vez, lembre-se: melhor presente, muitas vezes, é estar presente”, recomenda a especialista.