Boderline: vivendo no limite das emoções

O Transtorno da Personalidade Boderline (TPB) é um diagnóstico descrito pelo Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-V), no qual caracteriza a personalidade boderline por certa instabilidade limítrofe no psiquismo do indivíduo, que afeta seus aspectos comportamentais e existenciais.
“Segundo Lopes (2017), os Transtornos da Personalidade (TP) estão relacionados ao modo de ser e de se comportar de um indivíduo frente às situações do cotidiano. A forma como o sujeito lida com suas próprias emoções e percepções que tem de seu mundo, se faz notória a proeminência de um desequilíbrio no psiquismo humano, mediante aos aspectos biopsicossociais e suas relativas inferências comportamentais”, explica Abigail M. Faria, psicóloga.
Este transtorno psicopatológico descrito pelo DSM-V especificamente no agrupamento B “que concerne os transtornos relacionados com as personalidades Antissocial, Narcisista e Histriônica – é caracterizado pela manipulação e pela impulsividade”, esclarece Abigail.
“Gabbard (2006) propõe um apanhado histórico sobre a patologia e reflete que, nos anos 1930 a 1940, a psiquiatria começou a descrever pacientes acarretados por desequilíbrio emocional e/ou perturbação psíquica que não cabiam ao perfil psicótico convencional, no qual recebiam um diagnóstico de esquizofrenia. Nesta busca por compreender estes aspectos psicopatológicos de seus pacientes, a psiquiatria iniciou seus primeiros estudos clínicos sobre estas novas demandas psíquicas”, diz a psicóloga.
Ao longo dos anos, vários estudos clínicos foram realizados e, nestes avanços, o surgimento da personalidade boderline tomou visibilidade no campo da psiquiatria, engendrando seu início na adolescência ou no início da vida adulta. “Considera-se o quadro boderline como um mal-estar contemporâneo e atual, decorrente da evolução social de constantes desarranjos na vida cotidiana resignificados por novos modelos sociais causadores de angústia, que afetam a existência humana, no qual pulsiona o indivíduo a se comportar de forma impulsiva ou descontrolada – numa busca incessante de preencher um vazio”, explica Abigail sobre esses transtorno.

Sintomas mais característicos: afetividade, comportamentos e sintomas psicóticos:

Afetividade
– Raiva e Ira: são sentimentos vivenciados frequentemente, dirigidos a pessoas e/ou objetos. É percebível parecer que estes afetos são únicos experimentados pelo indivíduo.
– Depressão e Ansiedade: a depressão está relacionada ao profundo sentimento de solidão e rejeição – sentir-se fútil, só, isolado e rejeitado pelas pessoas ao seu redor. Sintomas ansiosos são sentidos como afetos intensos, intempestivos e instáveis. Outros sentimentos de desprazer podem ser vivenciados pelo indivíduo como: desamparo, fraqueza, medo do abandono. Sentimentos de autocrítica e desvalia como: culpa e inferioridade. A autocrítica é predominante por parte do indivíduo diagnosticado.

Comportamentos
A característica mais saliente e intensa dos comportamentos de indivíduos boderline é o caráter impulsivo e autodestrutivo de seus atos. O espectro de atos autodestrutivos abrange no indivíduo uma necessidade imensa pela busca de afeto, assim sendo à abertura para a promiscuidade sexual e perversões. A automutilação é utilizada para chamar a atenção das pessoas, no sentido de manipulá-las aos seus desejos e vontades – principalmente em situações conflituosas.
Torna-se propício o envolvimento com drogas e/ou outros vícios. Outra característica é a confusão na percepção de sua identidade sexual e dificuldade de se relacionar intimamente com alguém e manter relacionamentos saudáveis. Embora haja instabilidades no humor, estes indivíduos podem apresentar comportamentos opostos aos citados, como euforia e felicidade, alternando bruscamente ao estado de tristeza, mau humor, que difere do comportamento de indivíduos com bipolaridade que o espaço de tempo para a alternância de humor é maior.

Sintomas Psicóticos

Abigail M. Faria
Psicóloga
graduada pela Universidade Paulista – UNIP,
CRP 06-140725.
Contato: 19-99356-0327
E-mail: bigafaria@yahoo.com.br.

Alguns indivíduos boderline podem apresentar sintomas psicóticos transitórios, rápidos e reversíveis (não estáveis), isto é, devido ao limítrofe das emoções e comportamentos vivenciados intensamente. “De modo geral, não há presença de alucinações claras e estáveis ou ideias delirantes. Mas há presença de perplexidade, confusão e ideação paranoide (paranoias) pouco estruturada. Indivíduos boderline tendem a ter vulnerabilidade farmacológica e uso de alucinógenos”, completa.
“É imprescindível refletir que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (2015), o Brasil é o maior país no ranking a ter pessoas diagnosticadas com depressão na América Latina, chegando a sobrepor um número significativo de 11,5 milhões de brasileiros, e 18,6 milhões diagnosticados com transtornos de ansiedade, sendo que esta demanda da personalidade boderline entra para este viés também.
Deste modo, a OMS viabiliza pensar que pessoas diagnosticadas com depressão ou transtornos de ansiedade e/ou de personalidade aumentaram-se consideravelmente o número de suicídios entre jovens de 15 a 29 anos. Pontuo que pessoas acometidas pelo transtorno boderline, 75% são mulheres e 10% da população total de acometidos pelo transtorno cometem suicídio”, afirma a psicóloga
Abigail ressalta a importância do diagnóstico minucioso que é realizado pelo psiquiatra, que abrangerá a história de vida do paciente, comportando seus aspectos biopsicossociais, validando, assim, um diagnóstico preciso.
“Certamente, a terapia farmacológica será realizada e o devido encaminhamento à psicoterapia com profissional psicólogo que proverá a acolhida e escuta atenciosa ao paciente. Estes tratamentos não possibilitam cura, porém, propiciam qualidade de vida ao indivíduo e uma elaboração de sua condição, de sua personalidade, de si”, conclui a psicóloga.