Psicóloga explica que é essencial reconhecer o transtorno de ansiedade para que se trabalhe a fim de diminuir os impactos que o mal pode causar
A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou, neste ano, um relatório que coloca o Brasil no topo da lista de nações com maior percentual de pessoas com algum transtorno de ansiedade.
Os dados, colhidos em 2015, indicam que 9,3% ou 18,6 milhões dos brasileiros sofrem do mal, índice três vezes maior do que a média mundial registrada no mesmo relatório.
No mundo, estima-se que 264 milhões de pessoas sofram com transtornos de ansiedade, uma média de 3,6%. O número representa uma alta de 15% em comparação a 2005.
A psicóloga Maristela Ramos diz que a ansiedade é “um sinal de alerta que nos avisa de perigo eminente e que possibilita tomarmos medidas para enfrentar as ameaças”. Ela traz consigo uma sensação de receio, apreensão, aflição, perturbação do espírito, mas, sem causas evidentes.
O medo também se manifesta de forma similar, com sentimento de grande inquietação frente a possibilidade de um perigo real ou imaginário e distingue-se da ansiedade por ser uma resposta a uma ameaça conhecida, definida.
“Todo mundo tem medo e ansiedade, não importando a idade, e esses dois sentimentos, ou sensações, sempre andarão juntos, formando uma parceria íntima sem a possibilidade de se imaginar sentir um sem o outro”, conta a psicóloga. Sendo assim, sempre que o medo está presente, a ansiedade se revela em sinais físicos ou psíquicos.
Taquicardia, respiração ofegante, sudorese, fadiga, falta de memória, inquietude, preocupações antecipatórias, algumas vezes delirantes, são exemplos de manifestações da ansiedade.
“O grande problema é quando essa dupla (medo-ansiedade) se desequilibra e se torna incontrolável”. Se por um lado a ansiedade é uma “vivência comum de todo ser humano, por outro, pode se tornar patológica quando se apresenta de maneira generalizada e persistente, podendo evoluir para a Síndrome do Pânico”, explica Maristela.
Na medicina, o termo recebeu o nome de “Transtornos de Ansiedade”, que é quando o medo excessivo e a ansiedade passam a causar prejuízos expressivos para a vida da pessoa. Esses transtornos ansiosos variam em grau, intensidade e na forma como se apresentam.
A psicóloga conta que os transtornos de ansiedade podem ser percebidos em diversas situações como “aquelas lembranças que não nos deixam após experiências traumáticas (luto, separação); nas fobias sociais (falar em público, participar de eventos); no temor a determinados objetos ou animais (elevador, avião, insetos); no pânico que surge do ”nada” e dá a sensação de morte eminente; preocupações excessivas com fator corriqueiro, nos pensamentos obsessivos, comportamentos repetitivos, entre outros, que apesar de terem características e manifestações distintas estão relacionadas ao medo e à ansiedade.”
Mas o que pode acarretar esse transtorno?
O excesso de informações, principalmente, por conta da constante presença da informação digital, pressões comportamentais, sociais e culturais podem acarretar o transtorno de ansiedade. Esse conjunto colabora para o aumento do estresse e inquietude.
Além disso, fatores genéticos, hormonais, relacionados a alterações dos neurotransmissores ou devido a alguma outra condição médica e até induzida por substâncias, também podem estar associados ao mal.
O ideal é a avaliação de um profissional da medicina ou da psicologia, para que se possa identificar o grau em que se encontra o transtorno. Somente o médico poderá receitar um ansiolítico se houver necessidade, ao psicólogo cabe o tratamento psicoterápico (apoio psicológico).
Casos leves de ansiedade melhoram dramaticamente os sintomas apenas com psicoterapia por meio de algumas técnicas de relaxamento, treinamento respiratório, e na busca de razões inconscientes para esse sintoma, a ansiedade, ter aparecido como uma linguagem de que algo não anda bem com psiquê.
Além disso, a psicóloga afirma que muitos problemas de saúde são gerados devido a ansiedade, pois, o organismo permanece ligado num ritmo acelerado por muitas horas, dias e até meses. Com isso, o coração tem que dobrar o seu trabalho, tentando compensar a energia física e mental despendida, os rins e o fígado têm que filtrar muito mais toxina que o normal.
A especialista diz que “para que o corpo todo não sofra males maiores, é preciso compreender o transtorno, para se lidar com o ponto chave da ansiedade, que é a falta de aceitação; aceitar que não podemos ter controle do ambiente e das pessoas que nos rodeia”.
Além disso, ela afirma que nada é mais insuportável para a pessoa ansiosa que a ideia de não ter o controle sobre tudo. “Ainda que o mundo não seja totalmente previsível, uma pessoa pode dar início, tentando controlar apenas certa parte, como o dia de hoje, o mês das férias, há de se conseguir fazer alguns planejamentos”.
Sabe-se que a mudança no padrão de pensamentos ansiosos não acontece de um dia para o outro. “Porém, reconhecer a necessidade de uma ajuda profissional para lidar com esse sentimento já é meio caminho andando rumo à cura da ansiedade patológica”, finaliza Maristela.