O mês de dezembro é marcado pela Campanha Nacional de Prevenção ao HIV/Aids e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), recebendo o nome de Dezembro Vermelho. Assim, a campanha tem foco na prevenção, assistência, proteção e promoção dos direitos humanos das pessoas que vivem com HIV/Aids.
Segundo o Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV e das Hepatites Virais do Ministério da Saúde, em 2016, a taxa de detecção de casos de Aids foi de 18,5 casos por 100 mil habitantes, uma redução de 5,2% em relação a 2015, quando eram registrados 19,5 casos. Já quanto à mortalidade, observa-se uma queda de 7,2%, a partir de 2014, passando de 5,7 óbitos por 100 mil habitantes para 5,2 óbitos, em 2016.
A GAZETA de COSMÓPOLIS conversou com a médica infectologista Dra. Nathalie Uski, que esclareceu algumas dúvidas sobre a doença.
GAZETA de COSMÓPOLIS: É possível contrair o vírus HIV no sexo oral?
Dra. Nathalie Uski: Sim, mas a chance de uma pessoa HIV-negativa contrair o HIV de sexo oral com um parceiro HIV-positivo é extremamente baixa. O risco é ainda menor se o parceiro HIV-negativo estiver tomando medicamentos para prevenir o HIV ou o parceiro HIV-positivo estiver tratando o HIV corretamente. Alguns comportamentos podem aumentar o risco, como ejaculação na boca com úlceras orais, sangramento gengival, feridas genitais e a presença de outras DSTs, que podem não ser visíveis. Além disso, outras infecções podem ser obtidas com sexo oral e a presença de fezes na boca durante o anilingus, que pode transmitir hepatites A e B, parasitoses e bactérias do trato gastrointestinal.
GAZETA: Todo portador de HIV tem AIDS?
Dra. Nathalie: Não, o paciente pode ter a infecção pelo vírus HIV por muitos anos e permanecer assintomático, até o momento em que aparecem os sinais e sintomas relacionados à AIDS. Esse período, até o desenvolvimento da síndrome da imunodeficiência adquirida, pode durar até 10 anos, enquanto o sistema imunológico fica preservado. O paciente tem AIDS quando está na fase mais avançada da infecção pelo HIV, com imunidade significativamente baixa.
GAZETA: No Brasil, é possível fazer prevenção medicamentosa para evitar a contaminação do HIV?
Dra. Nathalie: A prevenção medicamentosa do HIV é algo possível, já protocolado, mas ainda em implantação gradual no SUS. Atualmente, ela é indicada, principalmente, para populações mais vulneráveis e com práticas de maior risco, como homens que fazem sexo com homens, travestis, transexuais, profissionais do sexo e casais sorodiscordantes que não usam preservativo regularmente ou que fazem uso de profilaxia pós-exposição repetidamente. Quando falamos em “medicação para evitar a infecção pelo HIV”, temos que considerar a prevenção combinada, ou seja, toda uma rede que trabalha para lutar contra a disseminação do HIV, com testagem, o incentivo ao uso regular de preservativos, o diagnóstico e tratamento das DSTs, uso regular das medicações.
Atualmente, está disponível a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), que consiste no uso de medicações contra o HIV por 28 dias para evitar a multiplicação do HIV no organismo, nos casos de abuso sexual, relação sexual desprotegida e acidente de trabalho.
GAZETA: Como é feito o diagnóstico?
Dra. Nathalie: Não é qualquer exame de sangue que o paciente faz de rotina que detecta o HIV. O médico precisa pedir um exame específico ou o paciente pode procurar espontanemente. Pode-se fazer coleta de sangue ou fluido oral. Temos os testes rápidos, que detectam os anticorpos contra o HIV em cerca de 30 minutos, e podem ser feitos gratuitamente nas UBS e no CTA. O ideal é fazer o teste com regularidade e sempre que passar por uma situação de risco, mas, principalmente, evitar as situações de exposição ao vírus.
GAZETA: É possível contrair vírus HIV em estúdios de tatuagem, manicures e consultórios de dentista?
Dra. Nathalie: É possível sim contrair o HIV de uma agulha de tatuagem ou perfuração reutilizada ou não devidamente esterilizada, caso os equipamentos usados contenham sangue de outra pessoa ou se a tinta for compartilhada. O risco de contrair o HIV desta forma é muito baixo, mas aumenta quando a pessoa que faz o procedimento não está licenciada e não usa material descartável ou devidamente esterilizado.
No caso de manicures, o risco é baixíssimo, pois, o HIV sobrevive por pouco tempo no ambiente e superfícies. Para prevenir não somente o HIV, mas também hepatite C e proliferação de fungos e bactérias, os instrumentos devem passar por lavagem com detergente enzimático, escova e enxague para retirar resíduos orgânicos, com posterior esterilização adequada.
Atualmente, nos consultórios de dentistas devidamente registrados são usadas precauções universais de esterilização e materiais descartáveis, com procedimentos e fiscalização pela Anvisa, tornando este um ambiente seguro.
GAZETA: Portadores de HIV, mesmo fazendo tratamento correto, morrem mais cedo do que pessoas que não estão infectadas?
Dra. Nathalie: Os portadores de HIV começam o tratamento em fases diferentes de sua doença e isso influencia na quantidade de anos de vida pós-infecção. Se o diagnóstico é logo no início, o paciente pode ter uma vida normal e expectativa de vida semelhante a população não-infectada. Se o diagnóstico for tardio, a imunidade vai estar mais baixa e, mesmo tomando as medicações, podem contrair as infecções oportunistas, pois, o sistema imunológico demora um tempo para se recuperar. Além disso, os pacientes infectados pelo HIV possuem um risco aumentado de doença cardiovascular, além da exposição à toxicidade das medicações e, por isso, devem manter as consultas e exames em dia.
GAZETA: Mulheres soropositivas podem engravidar sem que o vírus HIV seja transmitido?
Dra. Nathalie: Sim, é essencial que a mulher infectada tome os medicamentos para tratar o HIV de forma correta e todos os dias e faça os exames solicitados regularmente para avaliar como está a quantidade de vírus no sangue. Além disso, não pode haver amamentação após o parto, pois o leite também contém vírus. O tratamento do HIV desde o início da gravidez ou mesmo antes da gestação, de forma planejada, reduz o risco de transmissão para o bebê a menos de 1%.
Dra. Nathalie Uski
Infectologista da Vigilância Epidemiológica (CTA) de Cosmópolis