Com o aumento da procura, se faz necessário esclarecer dúvidas referentes a manutenção e cuidados
A tendência mundial é de automatização de tudo, por que o carro não seria? É com esse questionamento que o especialista em câmbio automático, Joelci Gomes, explica a preferência de diversos motoristas pelo câmbio automático. Joelci conta que, nos últimos 20 anos, a tendência se tornou optar por esses modelos. Com isso, levamos até ele questionamentos recorrentes sobre a transmissão, a fim de esclarecer os cuidados que devem ser tomados: revisão, vantagens e o tão falado consumo de combustível.

A revisão consiste na troca de fluidos e filtros. (Foto: Cedida)
GAZETA de COSMÓPOLIS: Como é feita a revisão do câmbio automático?
Joelci Gomes: Basicamente, a revisão consiste em troca de fluido e filtros; evidentemente, esse segundo item nem sempre é acessível em alguns modelos de câmbios porque alguns deles não têm uma janela ou cárter de acesso para substituir o filtro. Nesse caso, teria que remover o câmbio para trocar o filtro. Esses casos são mais críticos.
Em tese, essa seria a manutenção básica e a verificação de possíveis vazamentos. Esse é um dos maiores problemas dos câmbios automáticos. Acontece que um pingo hoje e um pingo amanhã fazem com que a quantidade de óleo diminua com o passar do tempo e, mesmo que o câmbio ainda funcione bem, vai absorver menos calor, levando o câmbio a trabalhar com uma temperatura maior. Com isso, existe o comprometimento dos materiais internos que, em grande maioria, são derivados de materiais sintéticos, sensíveis às altas temperaturas, comprometendo a sua vida útil.
GAZETA: Existe o método de troca através da Máquina de Flushing. Esse método é recomendado?
Joelci: Sim. Ele remove quase todo o fluido porque, se tirar apenas a tampa do dreno, não haverá a drenagem por completo porque o conversor sempre reserva uma quantidade acerca de um a dois litros de fluido que não vai conseguir extrair. Dizem que o Flushing consegue retirar um pouco mais, porém, a situação ainda é crítica naqueles casos onde não se tem acesso ao filtro. Trocar o fluido parcialmente, ou por completo em alguns casos, ainda continua com o filtro interno sujo, mas, essa é uma característica dos câmbios mais modernos, ou seja, a diferença em si não é tão grande assim.
Mas, indiferente, a troca de óleo, seja parcial ou completa, trará alguns benefícios, não há dúvida.
GAZETA: Além da revisão, quais os cuidados no cotidiano de dirigibilidade que o motorista deve ter quando usa o câmbio automático?
Joelci: O câmbio automático é muito durável, eu diria até que ele é à prova de barberagem. É muito difícil quebrá-lo utilizando normalmente.
É uma engenharia muito complexa e resistente. A transmissão de movimento é diferente do câmbio manual, por não haver contato mecânico entre o motor e o câmbio (a transmissão do movimento do motor se dá por acoplamento hidráulico), o funcionamento é muito suave, absorvendo muito do torque excessivo do motor, aliviando o impacto sobre as rodas de tração, tornando o veículo extremamente confortável.
GAZETA: Qual a periodicidade que deve ser feita a revisão do câmbio?
Joelci: Depende do fabricante, alguns recomendam 40 mil quilômetros, mas, existem modelos europeus, principalmente, que utilizam o óleo ‘long life’ para o qual não há previsão de troca. Isso significa que ele dura toda a vida útil do câmbio. São fluidos bem mais caros, mas dispensam a troca.
GAZETA: Nos modelos que necessitam troca e essa não é feita, quais os componentes que sofrem com a falta da manutenção?
Joelci: O lubrificante, quando envelhece, perde as características, entre elas os elementos antiatritos começam a diminuir e comprometem os metais por conta do atrito aumentado. Mas, também, quando não trocado o óleo, esse óleo velho compromete a capacidade de absorção de calor. Uma coisa que o câmbio automático não suporta é temperatura acima do seu limite de trabalho; passando desse limite, a vida útil do câmbio diminui drasticamente.
Por exemplo, o carro sofreu uma avaria no sistema de refrigeração do motor e ferveu; automaticamente, aquece o câmbio, porque, em sua maioria, ambos utilizam o mesmo radiador e todos compartilham o mesmo fluido de refrigeração para fazer a troca de calor. Ao super aquecer o motor, o câmbio automático também será afetado.
GAZETA: Na sua opinião, qual a principal vantagem de ter um câmbio automático?
Joelci: É uma tendência mundial, principalmente, pela automatização de tudo, por que o automóvel não seria?
Os câmbios automáticos trazem grandes inovações como as mudanças manuais (tiptronic) que agregam esportividade ao conforto, coisas que não são possíveis em câmbios manuais. Mudanças de marchas suaves acionadas por toques na alavanca ou em borboletas no volante sem a necessidade do velho pedal de embreagem são realmente sensacionais.
É claro que, para isso, teve-se que quebrar muitos paradigmas, principalmente, no Brasil, que era um país onde tradicionalmente se usavam veículos de câmbio manual. Mas, nos últimos 20 anos, a tendência mudou e hoje é quase um requisito no momento da compra de um automóvel de preço médio.
GAZETA: Por que se dá essa resistência ao uso de câmbio automático?
Joelci: Acontece que os primeiros carros a chegarem ao Brasil com câmbio automático, por volta da década de 50, quando eles quebraram, não havia reparadores especializados. Com os tempos da ditadura, a coisa só piorou, pois, o Brasil se fechou à tecnologia de fora, qualquer tipo de produto importado tornou-se muito difícil. Sendo assim, quando o câmbio automático chegava aqui, não tinha acesso a peças para a reparação e profissionais que a fizessem, com raríssimas exceções. A maioria deles acabava recebendo um câmbio manual adaptado. A indústria nacional também não estimulou essa preferência, limitando-se a produzir poucos exemplares com essa tecnologia.
GAZETA: Ainda existe uma desvantagem com relação ao câmbio automático? Ou já chegamos a um momento de transição definitiva?
Joelci: É uma questão matemática, o reparo do câmbio automático é mais caro? Sim, mas se ele for bem cuidado, pode durar por volta de 6 anos, o que raramente você consegue com um câmbio manual. Esse segundo, mesmo que internamente continue funcionando bem, ainda assim terá custos de embreagem, rolamentos de embreagem, platô e cabos pelo menos uma ou duas vezes nesse período. Só que esses custos são menores e são distribuídos. Então, você não sente tanto o valor da despesa. Já o câmbio automático, quando falha, você paga o valor integral de uma só vez e o custo pode parecer muito pesado.
Existe um caso ou outro que tem mais tendência a dar problemas. Entretanto, eu diria que, na média, os câmbios automáticos são muito duráveis e bons. Acredito que qualquer carro que você compre, com algumas exceções, não terá problemas nos primeiros 100 mil quilômetros.
GAZETA: O consumo de combustível de um câmbio automático é de 15% maior. Isso se deve a qual motivo?
Joelci: Eu concordo que para alguns modelos essa conta é válida, mas, para outros, nem tanto porque a tecnologia tem desenvolvido muita coisa no sentido de reduzir consumo.
Ele é um pouco mais ‘gastão’ na cidade. A explicação é simples, o câmbio mecânico utiliza uma embreagem de acoplamento por disco em que o movimento de entrada é igual ao movimento de saída, ou seja, um por um. Já no câmbio automático, você não consegue essa relação porque o contato se dá apenas por acoplamento hidráulico, então, a perda é em torno de 0,08%. Isso é uma característica de todo câmbio automático que utiliza conversor de torque.
Os fabricantes de câmbios automáticos criaram um dispositivo interno ao conversor, chamado ‘look up’, que nada mais é que uma embreagem que, a partir de uma certa velocidade, torna o acoplamento mecânico. Mas, para isso, o veículo precisa estar rodando acima de 30 ou 40 km p/h, velocidade essa mais comum na cidade. Então, esse dispositivo raramente é acoplado na cidade. Porém, na pista, com velocidades superiores, esse dispositivo será acionado e, então, o consumo praticamente será o mesmo de um carro de câmbio manual.
Hoje, com a chegada dos câmbios com seis marchas ou mais, houve um ganho considerável na economia de combustível por conta de uma melhor otimização entre a rotação do motor e a seleção de marchas.
GAZETA: O senhor gostaria de deixar algum comentário ou informação adicional?
Joelci: Além dos cuidados com vazamentos e trocas regulares de óleos, também é bom ficar atento ao modo de segurança.
O câmbio automático tem um recurso chamado ‘Fail safe mode’ ou ‘modo de segurança’ que é ativado toda vez que ocorre uma falha no funcionamento do câmbio. O sistema travará em uma marcha, que pode ser segunda, terceira ou quarta, e não mudará mais. Se isso ocorrer, não insista, procure um serviço especializado.
Nesse modo, o ‘look up’ não vai acionar e, se for percorrida grandes distâncias em baixa velocidade, o câmbio superaquecerá porque, não havendo as trocas normais, haverá um esforço excessivo dos componentes em ação, podendo acarretar problemas que antes não existiam.
GAZETA: Quando que é acionado o modo de segurança?
Joelci: Toda vez que houver um problema envolvendo o câmbio, como: patinação de embreagem por avaria ou falta de óleo, falha em sensores de rotação, solenóides, queima de fusíveis e também componentes do sistema de injeção (entre outros), pode ativar o sistema de segurança . O próprio computador do câmbio vai reconhecer a falha e vai colocar avisos luminosos (lâmpadas) no painel, Carros com tela multimídia podem vir a “escrever” mensagens como: ‘falha na caixa automática’ ou ‘anomalia na caixa automática’. Isso significa que o câmbio não está mudando de marcha. Lembrando que, nesse caso, scanners apropriados serão necessários para diagnosticar o problema. Nem sempre tais situações exigem a remoção e abertura do câmbio.
GAZETA: E o vazamento, se dá por conta do que?
Joelci: Pelos retentores que são peças vulneráveis a sofrer desgaste prematuro por vibrações com estradas em más condições, por exemplo. Mas, também há outros fatores que provocam vazamentos: batidas ou amassamentos no cárter embaixo do câmbio, pelo retentor e buchas do conversor de torque causado por ressecamento; e até por funcionamento irregular do motor.
Esses são os principais cuidados que devem ser tomados.