A Campanha da Fraternidade 2018 (CF 2018) é realizada todos os anos pela Igreja Católica no Brasil durante o período da Quaresma e coordenada pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). A Campanha da Fraternidade tem como principal objetivo despertar a solidariedade de todos os seus fiéis e também da sociedade brasileira, em um problema que envolve todos, buscando, assim, uma solução para resolver esses determinados problemas.
Todos os anos, são escolhidos temas, e o Tema da Campanha da Fraternidade 2018 é: “Fraternidade e superação da violência, tendo como lema Vós sois todos irmãos! (Mt 23,8)“.
A CF 2018 é realizada em âmbito nacional e envolve todas as comunidades cristãs católicas e ecumênicas do Brasil. A CF existe desde 1963.
Em Cosmópolis, a Campanha da Fraternidade também teve início na Quarta-feira de Cinzas. O Padre Ricardo Araujo, da Paróquia São Benedito esclarece o objetivo da CF e fala sobre o período da Quaresma.
Sobre a Campanha da Fraternidade
“A Campanha da Fraternidade é um momento, um estado de vivência diante dos problemas sociais. Todos os temas das campanhas de todos os anos sempre estão voltados para uma ótica social. Então, nesse tempo da Quaresma, utilizamos a Campanha da Fraternidade como sendo um instrumento da nossa transformação, que abre um leque para a vivência enquanto irmãos. Não dá para falar de um mundo melhor se não formos melhores, e a Campanha vem nesse sentido, com questões práticas concretas sociais que envolvem toda a sociedade. Só é celebrada aqui no Brasil e está voltada para a questão da violência, vem para resgatar o sentido da paz e pode ser englobada em todos os ângulos da sociedade, das escolas, violência urbana, violência das terras indígenas, violência da mulher e tantas outras formas de violência que têm por aí.
Começa na Quarta de Cinzas e encerra no Domingo de Ramos. Mas, não deve ser encerrada no Domingo, tem que continuar porque a paz não deve depender de nós trabalharmos em cima disso somente em 40 dias, porém, todos os dias, deve vigorar por toda a eternidade para que possamos ter uma vida realmente em paz.
O objetivo é pegar a questão da violência doméstica, de pais com filhos, filhos com pais, dentro das escolas, não só de agressão física, mas de sentimento, de leis injustas, que não favorecem a vida do povo – algo que tem crescido muito-, e trabalhar isso dentro da nossa realidade, na nossa região, vizinhança, favorecendo realmente uma vivência de paz. Quanto mais justiça buscamos vivenciar no mundo, mais em paz conseguimos viver.
Temos visto que a violência é um dos pontos culminantes na nossa sociedade; muitas vezes, a violência é camuflada. Aquilo que a igreja coloca, o mundo como a nossa casa, ele é nosso, precisa ser cuidado e é algo que tem que partir de nós, é hora de revermos pequenos gestos do dia a dia e transformá-los. Temos que resgatar a consciência do povo diante da realidade que estamos vivendo; isso é algo que podemos e devemos mudar. Começando por nós para conseguirmos mudar as esferas maiores.
Durante a Quaresma, temos muitos momentos de reflexão. Os grupos de rua, que são as pequenas células que acontecem nas casas entre vizinhos, se juntam para refletir, para dialogar, debater e rezar esse objetivo da Quaresma e o tema da Campanha. Ainda temos, dentro dos grupos da igreja, encontros na catequese com crianças e jovens, adultos, praticados, refletidos e debatidos também.
A Campanha não deve ser um movimento só dentro da igreja, deve ser fora, temos que unir as outras religiões também. Em busca disso, nós teremos um encontro na Igreja Luterana, com um debate e reflexão sobre a Campanha, com as diferentes igrejas da nossa cidade. Vamos tentar unir o maior número de pessoas e religiões, denominações de fé para debater isso, mostrando que somos uma só família”, esclarece o Padre Ricardo.
Sobre a Quaresma
“A Quaresma começa na Quarta-feira de Cinzas e vai até o Domingo de Ramos, que inicia a Semana Santa. São 40 dias de momento de parada, de reflexão da vida em busca da conversão da humanidade. É um período onde traçamos os ensinamentos de Jesus, tendo um ponto forte na oração, no jejum e na caridade. São 40 dias que utilizamos para nos aprofundar mais, refletindo e revisando a vida para olhar as atitudes enquanto temos como humanos que, às vezes, nos distanciam de Deus.
Este é um tempo forte e penitencial, para rever a nossa vida, tanto em nível humano, na questão social, questão do nosso mundo hoje, reconhecer nossos erros e nos penitenciar. Penitenciar no sentido de se transformar e não de se flagelar por conta dos erros que tivemos, mas como uma mudança e transformação na vida.
O nome ‘Cinzas’ vem do “viemos do pó e ao pó voltaremos”. Devemos refletir e preparar nosso coração para celebrar a Páscoa. A Quaresma não tem o sentido em si só, na penitência pela penitencia, jejum pelo jejum, mas ela tem o objetivo de nos preparar para celebrarmos a Ressurreição de Jesus, a alegria. Não podemos ficar parados só na questão negativa e penitencial, tudo isso é um caminho para que possamos contemplar a Ressurreição de Jesus no coração das pessoas. Sendo assim, vamos compreender que os nossos erros, pecados e limitações não são tudo na nossa vida, tem algo maior que ressuscita dentro de nós, que somos capazes de fazer essa busca durante esse tempo. Devemos voltar para dentro de nós e resgatar aquilo que somos, de onde viemos, que é o poder de Deus. Diante disso, Deus tem a última palavra e a vida tem a última palavra, muito mais que nossos pecados”, enfatiza o Padre Ricardo.
Práticas quaresmais
“Jejum, caridade e oração. Jejum é uma forma de também nos aproximar de Deus, não o jejum por si só, não só material, mas o de coração. Jejum de falar mal da vida dos outros, de práticas que acabamos tendo e se tornam habituais para nós, que não são fundamentais e, às vezes, acabam nos distanciando de Deus. O jejum é abrir mão de alguma coisa para poder oferecer outra. Abrir mão de falar mal da vida da pessoa, por exemplo, para poder anunciar o Evangelho; abrir mão de coisas materiais de consumo para poder ajudar aquele que tem necessidade.
A caridade, conhecida como esmola, é isso, é diante dessa prática que se faz da abstinência, das questões, podermos olhar o outro como irmão, ser solidário diante das necessidades materiais, espirituais, afetivas e tudo mais.
A oração é o que nos mantém em pé, que vai nos ajudar a dar passos para fazer um encontro consigo mesmo, com Deus e com o irmão. Tanto a oração individual, como em grupo, nos ajudam e fortalecem na caminhada quaresmal e em todo o momento de nossas vidas.
A penitência é uma forma de poder olhar nossos erros e saber que não fazem parte de nós, coisas externas que causam feridas no nosso coração. Conseguirmos reconhecer nossos erros e nos penitenciarmos não como forma de flagelação, mas como forma de transformação. Aí vem o sacramento da reconciliação; a confissão é um momento muito forte, tempo de olhar nossos erros para poder buscar a transformação”, diz o Padre Ricardo.
Importância do jejum
“O jejum é nos abster de coisas materiais e afetivas que nos impedem de caminhar e transformar isso como obra de caridade. Acolher, estender a mão para quem está sofrendo, seja por falta de material, falta de alimento, trabalho, por questões afetivas de sofrimento, momento de desolação na vida.
É uma dinâmica que tem que sair de dentro pra fora, senão fica tudo superficial, e aí acaba a Quaresma, fazemos a penitência e o jejum, mas, nada muda. Nada com imposição. O próprio Jesus coloca no Evangelho, quando fizer jejum, não fique cabisbaixo, não mostre que está fazendo jejum. Lave o rosto, mostre que está bem, pois quem precisa saber é Deus e não a outra pessoa.
Nos ajuda a rever e enxergar nossa humanidade, o quanto humano somos, e quanto mais humanos, mais próximos de Deus ficamos. Isso deve gerar transformação dentro de nós. Aquilo que procuramos buscar, a transformação no mundo, só acontece se existe a transformação no coração.
Caso contrário, acaba a Páscoa e volta tudo ao normal. O objetivo é passar por esse tempo para dizer que valeu a pena, que melhoramos; mais humildes, conseguimos olhar o outro como irmão, com amor, carinho e ter compaixão. Aquilo que Jesus sempre nos diz no Evangelho, sentir a dor do outro e isso deve ser carregado não só na Quaresma, como além da vida.
A cor roxa usada durante a Quaresma simboliza penitência e contrição.
O ponto fundamental é fazer uma experiência verdadeira, não porque a religião impõe, porque a igreja está falando, mas tudo aquilo que fizermos, que seja do coração. A igreja orienta para buscar a santidade, mas, isso só vai acontecer se partir do coração”, finaliza o Padre Ricardo Araujo.