Esta semana, a Gazeta de Cosmópolis realizou uma entrevista com João Batista Neres Andrade, também conhecido como Capotes. O empresário, de 49 anos, conta parte de sua história de vida, desde a saída de Minas Gerais para morar na capital paulista, até a vinda para Cosmópolis, que logo resultou na abertura de uma das lanchonetes mais conhecidas da cidade.
GAZETA de COSMÓPOLIS: Você nasceu onde?
João Batista Neres Andrade: Sou de Minas Gerais, mas, antes de Cosmópolis, fui morar em São Paulo (capital). Lá trabalhei como jardineiro e, pouco tempo depois, entrei na Lilly, uma empresa de produtos farmacêuticos. Através deles que vim parar na cidade de Cosmópolis.
GAZETA: Você tem formação superior?
Capotes: Não, mas já tive vontade e oportunidades. Entretanto, eu era muito novo e queria mesmo curtir. Em São Paulo, eu tinha tudo muito acessível, por isso, deixei a faculdade em segundo plano. Curiosamente, o meu maior desejo era me formar em veterinária, mas, a única coisa que fiz foi um curso de química, em decorrência do meu cargo na empresa de farmácia.
GAZETA: Cosmópolis e São Paulo são cidades com uma diferença gritante de ritmos. Para você, como foi se adaptar com o local? Houve muita estranheza?
Capotes: Sim! A minha primeira reação a Cosmópolis foi de uma cidade pacata e sem nada para fazer. Eu corria de volta para São Paulo todos os fins de semana. Lá, eu ainda possuía família, por isso, tinha a metrópole como meu ponto de escape. Passado certo período, fui conhecendo a população, criando vínculos de amizades e me adaptando até chegar ao ponto de odiar São Paulo (risos). Mesmo se me pagassem para morar lá, eu não iria.
GAZETA: E como surgiu o desejo de trabalhar com um negócio próprio?
Capotes: Foi uma oportunidade. Assim que saí da empresa, surgiu o ponto, que abrigava uma lanchonete antigamente, por um preço justo, e eu, prestes a casar, achei uma ideia boa investir.
GAZETA: Como foram os primeiros anos com um negócio próprio?
Capotes: Quando eu comprei o ponto, não tinha a pretensão de torná-lo meu sustento definitivo. Muitas pessoas me falavam que eu não conseguiria lidar com aquilo por mais de 3 meses e era bem difícil ouvir isso no começo. No fim das contas, fiquei com aquele ponto por 15 anos e aqui estou há 6 meses.
GAZETA: Produção farmacêutica e gerenciamento de um negócio próprio divergem em todos os âmbitos possíveis. Foi difícil mudar radicalmente de área profissional?
Capotes: Eu sempre fui uma pessoa muito extrovertida e comunicativa. Então, para mim, foi simples me adaptar com atendimento ao público. Meu maior problema foi no âmbito financeiro. Em um emprego fixo, eu possuía um salário que era meu. Já com um negócio, eu finalizava a noite com muito dinheiro, mas que, na verdade, pertencia aos fornecedores, reposição de estoque e funcionários. O dinheiro faturado não me pertence; e eu demorei um pouco para entender isso.
GAZETA: Quanto tempo levou para que conquistasse uma boa clientela?
Capotes: Lá no Capotes Beer, quando comprei, já possuía uma boa clientela, a única coisa que aconteceu foi o aumento de clientes. Tentei manter isso enquanto estive na direção do negócio.
GAZETA: Trabalhar com um negócio especificamente noturno lhe rendeu muitos aprendizados? Quais as dicas que você daria para alguém com o desejo de administrar um local como este?
Capotes: Sim, eu aprendi muito com isso. Um dos maiores aprendizados foi a descoberta da minha paixão pelo comércio noturno. Apesar disso, eu não poderia aconselhar ninguém a seguir o ramo. Aqui, você se torna escravo de si próprio. Não há tempo para diversão, os fins de semana são dedicados ao trabalho. Eu ainda consigo me divertir um pouco, pois muitos dos meus amigos me visitam aqui, onde sentamos para tomar algo, brinco com os clientes e converso bastante. Entretanto, no caso de pessoas introvertidas, um negócio como este não é uma boa ideia.
GAZETA: Como você concilia a vida pessoal com os negócios, que, de certa forma, são interligados?
Capotes: Para mim, era difícil. No começo, fechávamos a lanchonete por quinze dias durante o mês de julho e dezembro, para viajarmos. Com a crise e a queda do negócio, paramos de tirar férias, o que foi extremamente prejudicial.
GAZETA: Como surgiu a oportunidade de montar o IlCapotes?
Capotes: Foi bem de última hora. Eu estava trabalhando em uma churrascaria em Paulínia, e, com o surgimento deste ponto, um amigo do dono me ofereceu ajuda para montar um cardápio aqui. Eu fiz questão de investir. Esse rapaz que colaborou com o cardápio também me ajudou a montar o ambiente e deu a ideia do nome “IlCapotes” .
GAZETA: E qual o significado de ‘IlCapotes’?
Capotes: O ‘Il Capo’ em italiano significa ‘O Chefe’. Por isso, acrescentamos o resto para que desse a ideia de ‘O Chefe Capotes’ (risos).
GAZETA: Teve medo de não ter a mesma repercussão que o antigo ponto possuía?
Capotes: Sim, o tempo inteiro. Ouvi diversas vezes que investir neste local era insanidade, principalmente, pelo histórico dos antigos comércios que por aqui passaram, mas eu insisti e está dando muito certo.
GAZETA: Quais os planos para o futuro?
Capotes: Esperar 2020 (risos). Quero dar continuidade na política e trabalhar para ver Cosmópolis em boas mãos.
GAZETA: Você se sente satisfeito com tudo que fez até hoje?
Capotes: Não! Eu ainda tenho muito que fazer, muito a dar, principalmente, para Cosmópolis, que foi a cidade que me acolheu. Tenho uma dívida muito grande com ela (emocionado).