Cartões postais disputadíssimos por colecionadores ao redor do mundo, raridades leiloadas por impressionantes valores. O progresso industrial, agrícola e ferroviário, matas sendo desbravadas, vilas transformando-se em cidades, imigrantes descobrindo o Brasil, a colonização do interior.
Imagens registradas por Guilherme Gaensly, reconhecido internacionalmente como um dos maiores fotógrafos paisagistas da história. O suíço naturalizado é considerado o primeiro fotógrafo a registrar as terras cosmopolenses, ainda nos tempos da Fazenda do Funil.
Precursor da criação dos cartões postais no Brasil, fotos que registram referências locais, retratou Cosmópolis em inúmeras imagens. A mais significativa, a excursão que marcaria o nascimento da progressista vila campineira.
PASSEIO AO FUNIL
Oficialmente em 12 de dezembro 1896, Gaensly visitava, pela primeira vez, a Fazenda do Funil, terras que originariam Cosmópolis. Contratado pelo Barão Geraldo de Rezende, o fotógrafo registraria uma excursão às terras do Funil e demais fazendas da região. As fotos, uma singela recordação aos participantes do passeio ao Funil. Como descreve as fotos, o próprio Barão Geraldo, nas descrições de oferecimento aos amigos.
Nesta excursão, o Barão Geraldo de Rezende apresentava aos investidores da família Nogueira Ferraz, autoridades e políticos, as terras da Fazenda do Funil.
Um registro feito na “Cachoeira do Funil”, região do atual “Poção”, retrata o nascimento de Cosmópolis. Após a data deste registro, as propriedades foram vendidas para criação da “Carril Agrícola Funilense” e “Usina Ester”. Próximo da cachoeira, ficava a sede da fazenda do Funil, um casarão dos anos 1830, demolido para a construção da Usina.
Nesta histórica foto, estão José Paulino, Major Arthur Nogueira e irmãos, Coronel Silva Telles, Antônio Campos Salles (então prefeito de Campinas), João Aranha, Bento Quirino, e demais autoridades. Acompanha a visita, o familiar do Barão, o Coronel João Manuel de Almeida Barbosa, proprietário da Fazenda do Funil, e experientes mateiros.
O PROGRESSO COLONIAL
E AGRÍCOLA
Sua experiência pelo interior paulista, principalmente, a região oeste, traria Gaensly outras vezes para as terras cosmopolenses. Na capital, começou a prestar serviços a jornais e editoras de livros, registrando imagens das cidades paulistas, industrialização do interior e o surgimento dos núcleos coloniais.
Trabalhos fotográficos de uma qualidade incrível, com técnicas próprias e inovadoras, trazendo um diferencial único às imagens. Qualidades profissionais que chamavam a atenção do governo, que contrataria seus serviços para registrar os núcleos coloniais paulistas, em especial o Núcleo Colonial Campos Salles, em Cosmópolis.
Desta nova excursão fotográfica, datada de 1897, Gaensly passou por todos os núcleos criados, realizando as mais importantes imagens da imigração no Estado.
Iniciando seu percurso no porto de Santos, registrou da chegada ao Brasil pelos navios, o credenciamento e pouso na hospedaria dos imigrantes, saída dos trens para o interior, a instalação dos imigrantes nas colônias.
Em Cosmópolis, Gaensly realizou inúmeras imagens da concepção dos núcleos, desde a derrubada das matas, construção das moradias, criação e produção das lavouras.
As imagens dos núcleos cosmopolenses estão entre as mais significativas da sua obra pelo interior. Deste percurso no Núcleo Campos Salles, Santo Antônio, Usina Ester e a primeira excursão de 1896, resultaram em dezenas de trabalhos.
Imagens usadas como propagandas governamentais, ilustrações em livros de estudos do Estado e Brasil, como da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ), Instituto Agronômico de Campinas (IAC), e as séries de cartões postais, todos com circulação mundial, sendo impressos em vários idiomas.
A qualidade das fotos cosmopolenses resultaria na sua inserção em novos seguimentos de postais, como as séries mundiais colorizadas. Na época, entre os mais sofisticados postais do mundo. As fotos, eram minuciosamente colorizadas manualmente por Gaensly, impressas na França e Inglaterra.
Anos depois da passagem por Cosmópolis, Gaensly era contratado pela “São Paulo Tramway Light and Power Company”, popular Light, futura Companhia Paulista de Energia (CPFL), que na época iniciava o processo de transmissão de energia no Estado.
Voltava Gaensly à progressista Villa de Cosmópolis, registrando a chegada da energia no interior. Campinas estava entre as primeiras cidades do Brasil a receber transmissão de energia, ao lado de São Paulo e Rio de Janeiro.
Sendo distrito de Campinas, em 1899, Cosmópolis já possuía toda sua área povoada com energia elétrica. Progresso conquistado da parceria entre a companhia de energia, prefeitura de Campinas e a Usina Ester.
Na Light, Gaensly permaneceu até seu falecimento em 1928. Possuía estúdios fotográficos na Bahia, onde iniciou seus trabalhos nos anos de 1860, e São Paulo, realizando também os tradicionais retratos pessoais e familiares. Mesmo sendo exímio em retratos, foi a fotografia de paisagens e criação de cartões postais, que lhe consagraram mundialmente.
Entre os inúmeros prêmios recebidos em vida, destaque para as congratulações do Imperador Dom Pedro II, honrarias nacionais, e as medalhas de prata das exposições de Paris (França), em 1889, e Saint Louis (Estados Unidos), em 1904. Gaensly foi contemporâneo e amigo de Marc Ferrez, criando técnicas de captação e revelações fotográficas, até hoje utilizadas.
Figura emblemática, extremante tímido, não aceitava ser fotografado, não existindo nenhuma imagem sua. Seus cartões postais foram a primeira revelação da fotografia em Cosmópolis, principalmente, no formato múltiplo em grandes tiragens, precursor em divulgar nossa terra para o mundo.
Entre 100 imagens postais e publicações foram realizadas por Gaensly em Cosmópolis, podendo ser adquiridas em leilões pela internet, nos valores de R$ 100,00 até R$ 5 mil, como as edições do livro “Impressões do Brazil no Século Vinte”. Editada e impressa na Inglaterra, pela “LLoyds greater Britain publishing Company”, a publicação possui inúmeras imagens de Gaensly registradas em Cosmópolis.
Texto: Adriano da Rocha
Historiador, responsável pela página e blog Acervo Cosmopolense