Pesquisa feita com 30 mil pessoas, de 60 paises, indica que casar está nos planos de 19% da chamada geração Z, que têm entre 15 e 20 anos, e de 17% da geração Y, que têm de 21 a 34 anos, a média da idade entre os casados é de 30 anos
O casamento é a união de duas pessoas que optam por viverem juntas. Atualmente, nos deparamos com várias formas de união, como o casamento religioso, civil e a união estável. Independente da escolha, esse momento representa um marco na vida de qualquer pessoa.
Com o passar dos anos, o comportamento das pessoas mudou com relação a esse evento. A psicóloga Renata Pinheiro explica que “na atualidade, percebemos uma mudança na visão tradicional do casamento. As pessoas optam por se casarem mais tarde, e nem sempre o relacionamento dura como antes”.
Em 2016 uma pesquisa com 30 mil pessoas, de 60 países, mostra que casar está nos planos de 19% da chamada geração Z, que têm entre 15 e 20 anos, e de 17% da geração Y, que têm de 21 a 34 anos.
Uma coisa é querer, outra coisa é casar, e isso está acontecendo cada vez mais tarde no Brasil. Nas décadas de 80 e 90, eles casavam com 27 anos, em média, e elas com 24. O levantamento mais recente mostra noivos com 33 anos, em média, e noivas com 30 anos.
Como exemplo de casamento tradicional, duradouro e, por muitos, uma relação invejável, temos Zilda Moreira, 83, e João Ferreira Moreira, 87, casados há 63 anos. Eles compartilharam de diversas experiências juntos. Mama Zilda, como é conhecida por amigos, conta que conheceu João na época de escola, pois, moravam no mesmo bairro e iam até a escola juntos. Foi aí então, com aproximadamente 7 anos, que tudo começou. Mais tarde, 10 anos depois, eles foram apresentados e começaram a namorar.
O namoro foi breve, logo estavam casados, morando juntos e dividindo os serviços no sítio. Mama Zilda conta que, por conta da situação financeira, eles tiveram muitas dificuldades no casamento, tanto que o mesmo teve que ser adiado por isso. Porém, mesmo com todas as dificuldades, nunca se passou pela cabeça do casal largar um do outro.
As conquistas vieram aos poucos, o sítio, a casa e os filhos. Tudo com muito suor, dedicação e companheirismo. “Amor e muito sacrifício” – é assim que Mama Zilda resume a motivação para as conquistas que eles tiveram juntos.
Já na atualidade, a psicóloga Renata nota que é possível perceber que a valorização do eu, das conquistas profissionais e pessoais contribuíram para essa nova visão de casamento. “De modo geral, esse novo público procura parceiros que compactuam com seus ideais de vida. A união nesse sentido busca o aprimoramento das relações, com respeito de sua individualidade, buscando um encontro verdadeiro com o outro e consigo”.
Quando dois sujeitos optam por então se unirem, a psicologia afirma que deve-se compreender que, além da paixão, amor, outras bases estão em jogo, como a relação com os familiares de ambos, filhos, cultura, cumplicidade, respeito, compromisso e o diálogo, inclusive, as idealizações que ambos constróem do parceiro. Essas idealizações carregam grande parte da relação que se estabelece. Quando essas idealizações não atendem mais as expectativas, criam-se as desilusões, gerando, em muitos casos, o término do relacionamento.
Com isso, a especialista relata que se faz necessário pensar que, para manter relações saudáveis e férteis, é preciso perceber o parceiro “como realmente é, com seus defeitos e qualidades, não somente idealizado”.
Zilda percebeu isso cedo. Ela conta que abriu mão de diversas coisas, e dançar foi uma delas. “Eu tive que parar de dançar, pois, ele não gostava de dançar. Além disso, abri mão de muitas coisas para crescermos juntos”. Porém, nenhuma delas fez com que eles deixassem de sonhar com o casamento.
‘Preciso encontrar a tampa de minha panela, ou a metade de minha laranja’. Esse ditado ficou para trás. A psicóloga Renata diz que “devemos buscar ser sujeitos totais, nos amar em primeira instância, para com isso poder manter relações significativas com outro sujeito que também possa vislumbrar essa condição”.
Para a duração de um relacionamento, não existe receita ou fórmula pronta. Cada casal funciona de uma maneira, com rotinas singulares. Cabe dizer que o tempo é relativo. Vista de forma estereotipada, a cultura acredita que um casamento bem sucedido foi um casamento longo; a psicóloga lembra que nem sempre isso é verdadeiro.
Existem casamentos que duram um ano, no máximo dois, como também alguns que duram quase uma vida. Em ambos os casos, não é o tempo que define sua qualidade, e sim, o que fora vivenciado por ambos. A troca que tiveram enquanto pessoas, as experiências, a intensidade, a amizade, a fertilidade do convívio.
Mama Zilda, hoje, cuida do seu marido que está acamado e suas filhas a veem como um exemplo. Deusdete e Terezinha se espelharam no casamento da mãe para construir suas relações. Deusdete conta que eles deram exemplos de honestidade e motivação para o amor. “Vejo-a cuidando dele na beirada da cama, cantando músicas e o beijando… Fico imaginando que isso é amor verdadeiro. Levo esse exemplo para minha vida toda”.
Para Terezinha, o maior legado que o casal deixa é um exemplo de união. “Eles mostram o que é o casamento de verdade, na alegria, na tristeza, na saúde e na doença”.
A psicóloga Renata diz que “quando em um casamento já não se pode vislumbrar a troca, admiração, carinho, desejo, amor, o respeito pelo outro enquanto indivíduo único, é importante repensar a união”. Ela ainda lembra que “a perfeição é uma utopia, mas para que exista um casal, é necessário que existam duas pessoas, que estejam relativamente satisfeitas com a relação e consigo mesmas dentro desta mesma relação”.
Quando o casal enfrenta esses conflitos, é de grande valia uma psicoterapia de casal, que visa contribuir para amenização dos conflitos internos e externos, favorecendo a compreensão da relação e uma possível integração satisfatória para ambos.
Porém, quando um personagem do relacionamento opta pelo término do relacionamento, é um momento de grande sofrimento. A psicóloga explica que o sofrimento não é somente para quem recebe a notícia, mas é também para quem opta por fazê-la. “Muitos desses relacionamentos acabam, e nem por isso significa que acabou o amor. O relacionamento deve ser cultivado, muitas vezes, até transformado de acordo com as necessidades expostas na relação. Quando não for possível, o apoio da família e amigos é essencial para facilitar esse processo”.
O tratamento psicológico contribui de forma pontual e essencial também nesses casos. Inclusive, para desconstruir o sentimento de culpa e inadequação que ambos podem vivenciar, possibilitando a ressignificação destes, para um amadurecimento e compreensão do ocorrido.
Em última instância, para se investir em uma relação matrimonial, a profissional Renata recomenda que haja “o encontro consigo, e com o outro como sujeito de escolhas e vontades”. A reciprocidade do respeito e carinho também se faz essencial.
“O ser humano, por si, busca companhia, um legado, uma família. Então, busquemos não o príncipe ou princesa encantados, não alguém que nos venha a completar. E sim, busquemos nos encontrar, nos amar, para assim poder construir uma relação saudável e criativa”, finaliza a especialista.