A Leishmaniose é uma doença infectocontagiosa causada por um protozoário, conhecido como Leishmania spp., que é transmitido pela picada do mosquito flebótomo infectado, também conhecido como “mosquito palha” ou “birigui”. É considerada uma zoonose e pode acometer homens e cães.
Há dois tipos de leishmaniose: a cutânea e a visceral. A cutânea é causada por dois tipos de parasitas, a Leishmania braziliensis e a Leishmania mexicana.
A visceral é originada pelos parasitas Leishmaniadonovani, infantum e chagasi, “mas é importante saber que, em 99,9% das vezes em que o tema é leishmaniose em cães, é da leishmaniose visceral canina que se trata, devido aos seus sintomas e letalidade”, explica a médica veterinária Natalia Idalgo de Queiroz.
Transmissão
A doença não é transmitida de um cão infectado para um cão sadio. A transmissão só ocorre quando o animal é picado pelo mosquito infectado e, uma vez doente, “o cão não oferece risco para outros animais e nem mesmo para o ser humano. Desta forma, o homem só pode ser infectado se também for picado por um flebótomo contaminado”, comenta Natalia.
Sintomas e diagnóstico
O primeiro sinal clínico mais comum a aparecer é a perda de pelos, sobretudo, ao redor dos olhos, nariz, boca e orelhas. À medida que a doença progride, o cão perde peso. É habitual o desenvolvimento de uma dermatite ulcerativa (ferida), que pode se disseminar por toda a superfície corporal do cão, sobretudo, nas regiões do corpo do cão que têm maior contato com o chão quando ele está sentado ou deitado.
Em uma fase mais avançada, começam a se observar sinais relacionados com a insuficiência renal crônica e acelerado crescimento das unhas. O cão também pode apresentar outros sintomas, como vômito, diarreia, falta de apetite. “Apesar da leishmaniose visceral canina apresentar tantos sintomas, há cachorros que não demonstram qualquer sinal de algo errado. É importante saber que a maioria das contaminações é assintomática”, alerta.
A confirmação da doença pode ser feita através de exame de sangue que aponte aumento das enzimas hepáticas ou anemia; de exame sorológico; de exame citológico, feito a partir de pequenas amostras de tecidos, como a medula óssea, o baço e o fígado; e de exame histopatológico. “O diagnóstico da leishmaniose canina é complexo e, infelizmente, nenhum exame é totalmente confiável, todos têm margens de erro”, diz.
Tratamento
O tratamento não permite uma cura completa. Geralmente, consegue-se a remissão dos sinais clínicos, no entanto, o animal pode continuar portador do parasita, situação que chamamos de reservatório da doença. Por se tratar de uma questão de saúde pública, o diagnóstico da leishmaniose canina era praticamente uma sentença de morte até pouco tempo atrás. “O Ministério da Saúde não permitia que o tratamento fosse realizado, pois, a doença não tem cura. Essa realidade começou a mudar em 2016, quando surgiu um novo medicamento regulamentado pelo Ministério da Saúde e com resultados bastante positivos. Mas, é preciso lembrar que a leishmaniose canina permanece sem cura total. O que esse tratamento faz é promover uma cura clínica e epidemiológica. Como complemento dessa medicação, é possível promover medidas paliativas para amenizar os sintomas. Esse suporte pode ser indicado para tratar um problema causado pela doença. Por exemplo, um fígado afetado pode receber medicação específica”, explica a veterinária.
Prevenção:
Uma das principais formas de prevenção é evitar a proliferação do mosquito. Como ele gosta de ambientes ricos em matéria orgânica, é importante manter o ambiente onde o seu cachorro vive higienizado. Instalar telas de proteção em casa ajuda a proteger o seu pet, impedindo que o mosquito entre e contamine o cachorro.
“Existem poucos produtos disponíveis que possuem indicação em bula contra a picada do flebótomo. A melhor opção é a utilização de coleiras impregnadas de Deltametrina, tal como é recomendado pela Organização Mundial de Saúde”, esclarece.
Outra forma de prevenção da leishmaniose canina é a vacinação. “A vacina pode ser tomada por filhotes acima dos 4 meses de idade. É administrada em três doses, com intervalo de 21 dias entre elas, e deve ser repetida todos os anos. Entretanto, é preciso ressaltar que somente os cachorros avaliados como soro negativo (que comprovadamente não apresentam o parasita) podem tomá-la. E embora seja importantíssima para a prevenção e tenha bons resultados, a vacina, infelizmente, não protege 100%”, alerta a especialista.
Onde e quando
mais acontece
É mais comum em áreas onde o saneamento básico deixa a desejar e há fatores facilitadores da propagação do inseto. Além do Brasil, é encontrada em mais de 80 países. “O número de casos da doença tem aumentado em nossa região”, enfatiza a especialista.
Natalia diz que casos acontecem mais em meses mais quentes e úmidos, de outubro a março, quando aumenta a população do mosquito transmissor.
Mitos e verdades
“Um dos mitos é que o contato físico (mordida, arranhão, lambedura, urina, fezes) com o cão transmite diretamente a doença ao ser humano, o que não é verdade, precisa ter a picada do mosquito infectado.
Uma das verdades é que os exames podem dar falso positivo ou falso negativo. Por esse motivo, o diagnóstico não pode ser baseado em um único exame.
Outro mito é que, com o uso do medicamento, o cão estará curado da doença. O cão poderá obter a cura clínica e epidemiológica. Porém, apesar de reduzir significativamente a quantidade de parasitas e o cão deixar de ser transmissor da doença, a Leishmania permanecerá em seu organismo. Por esse motivo, é muito importante o acompanhamento e monitoramento do animal por um médico veterinário com exames clínicos e laboratoriais; além da repetição do tratamento, a fim de manter os níveis baixos da quantidade de parasitas”, diz Natalia.
A especialista ressalta que a forma mais eficaz de combater a doença é combater o vetor (mosquito-palha), ou seja, trabalhar com a prevenção.
Caso o seu animal apresente os sintomas, levá-lo a um especialista é de extrema importância.