Cobranças excessivas quanto aos estudos podem se mostrar prejudiciais à vida do estudante

A primeira quinzena de fevereiro é marcada, principalmente, pela “volta às aulas”. Período compreendido por muitos jovens como um pesadelo, sendo ele relacionado à convivência em grupo ou ao sentimento de obrigação com os estudos que, muitas vezes, são ditados pelos pais.
Segundo a psicóloga Maristela Ramos, a escola possui uma classe detentora do saber formada por professores e administradores e a classe formada pelos alunos que devem direcionar o seu comportamento e pensamentos para a classe anterior se quiserem “passar de ano”. “No 1º dia de aula é possível contemplar olhos amedrontados dos alunos e seus rostos cheios de ansiedade. Eles podem até contar sobre suas experiências de alegria na escola nos anos anteriores, falando da amizade e do companheirismo entre eles, mas pouquíssimos falarão sobre a sua alegria de estudar”.
Maristela ainda explica que, nesse momento da fase escolar, as crianças e adolescentes não conseguem visualizar a importância dos estudos. “Seria interessante que os pais e professores pedissem a eles que em sua imaginação visualizem uma sociedade sem escolas, quais serão as consequências? Essa reflexão pode ser um tema que despertaria uma boa discussão em sala de aula nesse início de ano letivo”, comenta.
A pressão familiar e da sociedade, na grande maioria das vezes, coopera para o desinteresse e dificuldades do aluno. “Ser obrigado a comparecer diariamente e por várias horas do dia lendo, escrevendo, ouvindo explicações dos professores e, ainda por cima, sendo avaliados não se mostra uma tarefa chamativa aos jovens”, explica Maristela. “Tem-se sempre que tirar notas boas para passar do Ensino Fundamental I e II para o Ensino Médio, depois para a universidade, consequentemente conseguir um bom emprego, casar, ter filhos, levá-los para a escola onde irão estudar um monte de coisas para tirar notas boas e… começando todo o ciclo novamente”, continua.
Aos pais é aconselhado estarem sempre atentos às provas comentando o resultado com os filhos e que não negligenciem o boletim. Fazem parte da vida algumas cobranças, e o adolescente em particular precisa ter um cobrador externo para que ele construa um “cobrador interno”. Depois, levará isso para a sua vida adulta em que, mesmo na ausência de cobranças externas da vida, fará o que tem que fazer por si só.
“O problema é quando essa cobrança dos pais está em desequilíbrio e se torna autoritarismo, passando a impor que o filho seja sempre o melhor aluno da classe, não admite notas baixas e que jamais cometa erros. A criança/adolescente pode desenvolver a crença, que persiste na vida adulta, que só por meio da perfeição se consegue o afeto das outras pessoas, que causa muita angústia por ser uma pessoa ‘falha’. O perfeccionismo também pode aparecer e em casos graves de uma educação exigente em demasia, há a tendência de gerar sentimentos de rejeição, desvalia, incapacidade e inadequação, isto é, autoconfiança nível zero”, alerta a psicóloga.

Maristela Lopes Ramos
Psicóloga
CRP: 06/136159
R. Santo Rizzo, 643
Cel. (19) 98171 8591

O ideal é que os pais tornem-se aliados dos professores, pois ambas as partes são responsáveis pelo sucesso escolar. Mostrar-se como parceiro aliado do filho e não como um “fiscal”. “A cobrança deve ser saudável para que se obtenha a melhor nota pelo esforço e não pelo medo de ser castigado”, esclarece.
Não estabelecer notas é de suma importância. Auxiliar na superação de falhas, fazendo o jovem entender que todos cometem erros e o ajudando a repará-los pode se mostrar muito mais eficaz.
“E por último, quando perceber de alguma forma que essa relação paisfilhos na vida escolar estiver causando prejuízos na saúde física ou mental em ambas partes, é importante saber que se pode recorrer a profissionais da psicologia para ajudar a recobrar o equilíbrio tão necessário”, conclui.