O ser humano, por natureza, busca o prazer em sua rotina. No nosso corpo, sentir bem está ligado com substâncias como serotonina, endorfina e dopamina. Daniela Belinatti, nutricionista, afirma que “já foi relatado em estudo que fazer atividade física, estar com quem se ama, receber carinho, comer alguns alimentos, como gordura, sal e açúcar e usar drogas lícitas e ilícitas (álcool, medicamento para depressão) aumentam a sua liberação”, mas, completa explicando que “o consumo moderado desses tipos de alimentos ou até mesmo do álcool não é um problema.
Acontece que hoje estamos vivendo uma vida de maior abuso. É muito fácil comprar um doce na escola, é mais barato tomar refrigerante do que suco natural. Então, os alimentos que deveriam ser consumidos nos fins de semana estão fazendo parte do dia a dia de muitas pessoas, inclusive, crianças”.
Mas o que fazer para que as crianças não sejam dependentes desses tipos de alimentos?
Até os 6 meses, o recomendado é nada de água, chás e sucos, somente leite do peito. A especialista explica que “além de nutrir, imunizar e estreitar laços afetivos, o alimento materno deixa lições que a criança guarda para o resto da vida. Uma das mais importantes delas é a chamada autorregulação. Ao decidir quanto e quando vai mamar, o recém-nascido aprende a lidar com a saciedade, o que reduz, e muito, o risco de obesidade no futuro. A preferência por determinados alimentos e o controle de sua ingestão se dá por meio de um processo de aprendizagem que começa muito cedo. Acredita-se que a base dos hábitos alimentares seja formada já durante o primeiro ano de vida.
Nessa fase, a criança começa a ter contato com os diferentes sabores; isso acontece porque o gosto do leite muda conforme a dieta da mãe. Portanto, é absolutamente recomendável que a família siga uma alimentação balanceada, fugindo da monotonia”, explica.
Daniela esclarece que “depois do 6° mês, devem-se introduzir os alimentos sólidos, o que pode gerar estranhamento e estresse na criança. Com o tempo, ela deve se render aos prazeres da comida, mas, até lá, tenha bastante paciência. Fuja dos modelos de recompensa e de ameaça. As crianças tendem a não gostar de alimentos quando, para ingeri-los, são submetidas à chantagem, coação ou premiação.
Por outro lado, alimentos oferecidos como recompensa são os prediletos. Quer dizer, nada de festa se raspou o prato ou broncas porque cuspiu a comida. O ambiente deve ser o mais tranquilo e aconchegante possível na hora da refeição. O cansaço, a irritação e o nervosismo dos pais interferem no humor do bebê. Adotar horários fixos também é importante, assim o organismo dele vai se acostumando à rotina.
Em geral, eles tendem a rejeitar alimentos que não lhe são familiares. Esse tipo de comportamento já se manifesta tão cedo quanto em bebês de seis meses. Porém, com exposições frequentes, os alimentos novos passam a ser aceitos, podendo ser incorporados à dieta da criança. Em média, são necessárias de oito a dez exposições a um novo alimento para que ele seja aceito pela criança. Muitos pais, talvez por falta de informação, não entendem esse comportamento como sendo normal delas e interpretam a rejeição inicial pelo alimento como uma aversão permanente ao mesmo, desistindo de oferecê-lo.
Outro ponto importante é não misturar numa mesma papinha todos os alimentos, procure sempre dar cada alimento isolado, para que eles possam aos poucos desenvolver seu paladar. Vamos fazer uma analogia simples: dê a uma criança massinhas de modelar e observe o nível de interesse delas. Depois, pegue todas as cores, misture tudo, ofereça novamente essa massinha misturada e conte quantos minutos ela continuará brincando. O mesmo acontece com a comida; quando tudo está misturado, a cor é feia, o nível de interesse cai. O correto é apresentar todos os alimentos, um a um, para que aprenda a distinguir cada um e vá percebendo suas preferência e aversões.
E sempre evite fazer super propaganda de um alimento, afinal ninguém precisa fazer super propaganda de um sorvete ou bala por exemplo. O fato de você elogiar muito um alimento faz com que a criança suspeite de seu gosto, já que nunca te viu elogiar as famosas guloseimas; não subestime a inteligência deles (risos)”, aconselha.
E o açúcar?
“A recomendação seria introduzir o açúcar somente após o 2° ano ou 3º ano de vida. Um dos motivos de adiar esse consumo é para não estimular muito o paladar para o doce. O bebê tem a preferência inata pelo sabor doce. Servir açúcar aumenta a predisposição do bebê ao alimento de sabor adocicado e limita o paladar. Assim, ele pode ter maior dificuldade em gostar do sabor original do alimento ou dos sabores mais amargos.
Mas, é complexo ensinar uma criança a comer bem e de tudo. São necessários tempo e investimento. Antes dos 2 anos de vida, a necessidade de introduzir açúcar na vida do seu filho é do ADULTO. Como o adulto sabe que o açúcar gera um prazer especial, ele quer proporcionar à criança. Mas, os pequenos, antes do segundo ano de vida, não têm vontades específicas”, explica a nutricionista, que completa “portanto, aquele docinho antes do segundo ano de vida não vai matar, mas pode prejudicar a educação nutricional. O que custa esperar? Quando a criança falar: por favor, me dê um brigadeiro, tio. Aí sim, é hora de experimentar, antes disso, por quê?”.
Dicas para a alimentação de seu filho:
• Ofereça alimentos naturais, como frutas, verduras e legumes;.
• Opte por sanduíches, bolos e biscoitos caseiros;.
• Oferecer água e não sucos industrializados ou refrigerantes. Estes produtos contêm sódio e conservantes. A água
aromatizada é uma ótima opção ou sucos naturais sem adoçar.
• Opte pelo que tem validade curta, quanto menos tempo de prateleira menos conservante terá.
“Vamos descascar mais e desembalar menos!”, conclui.