Nunca é tarde, enquanto o coração bater, enquanto ainda se respirar, há vida, há sonhos, há esperança...
O medo é entendido como um sentimento de insegurança em relação a alguma situação, pessoa ou um objeto. Considerado pessoal/singular já que o que pode assustar uma pessoa, a uma outra pode ser indiferente.
Na dimensão física, o medo pode ser definido como uma sensação desencadeada pela liberação de hormônios como a adrenalina que causa uma série de reações físicas como a aceleração dos batimentos cardíacos, suor, respiração rápida, entre outros. Trata-se de uma resposta do organismo a um estímulo aversivo que tem como função preparar o corpo para possivelmente lutar ou fugir.
Algumas pesquisas dizem sobre o medo ser inato, isto é, que se nasce com o medo. Sim, o sentimento pode estar presente, mas é com o crescer que ele vai sendo despertado, aprendido e intensificado. Pode-se perceber isso quando se observa um bebê quando ele começa a engatinhar, ele quer conhecer todas as coisas. E sai pela casa sem temer os perigos, passa por quinas pontudas de mesa, coloca o dedinho na tomada, puxa o rabo de alguns animaizinhos como gato ou cachorro. São as pessoas que cuidam desses bebês que vão direcionar, orientar, corrigir. É a partir dessas experiências que vai se aprendendo o que é o medo e como expressar e lidar com ele. Por isso que é dito que é um sentimento muito pessoal, pois cada um tem uma experiência única.
O medo tem uma boa razão de existir, ele nos alerta e nos protege de alguns perigos iminentes, como por exemplo, um assalto, acidente no trânsito, ser atacado por um cachorro bravo que escapou. Mas, na vida emocional propriamente dita, o medo, muitas vezes, faz pouco sentido.
Existem muitos tipos de medos específicos, um deles é o medo da morte, conceituado como “tanofobia”. Até certo ponto, o medo da morte é normal e até necessário, no entanto, quando esse medo ultrapassa alguns limites, ele ganha um caráter obsessivo em que podem ocorrer desequilíbrios mentais e emocionais. Conscientemente ou racionalmente, as pessoas sabem que irão morrer um dia, mas, mesmo assim, o medo obsessivo persiste. A tanofobia dificulta essa visão de compreensão da finitude.
Não existe uma causa única, mas estudos sobre o assunto apontam para experiências traumáticas na infância ou em idade adulta, como acidentes fatais, doenças graves, morte de entes queridos, abusos ou vivências emocionais de muito sofrimento. Também algumas crenças religiosas, onde a pessoa acredita no sofrer e na morte como punição por erros e pecados cometidos em vida.
Assim como outras fobias, a tanofobia é um transtorno recuperável. O acompanhamento psicoterápico pode promover na pessoa a capacidade de identificar e tratar os motivos dessa desordem emocional.
Assim, o medo de morrer é natural, desde que não esteja impedindo o viver. O mais difícil é perceber, muitas vezes, que se está morto em vida. Que se foi morrendo um pouco dia após dia, desistindo da vida, dos sonhos, das esperanças. E quando se percebe que o tempo passa ou passou cronologicamente, que a idade chegou de verdade, ou que foi se vivendo uma vida que não se queria, uma vida que outra pessoa “impôs”, ou sorrateiramente “propôs”. Como exemplo, um estudo, uma profissão que não era o dom mais íntimo, ou passar a vida dentro de uma relação falida, mas que a dependência emocional escravizou, entre outras razões que cada um carrega as suas. Quando essa “ficha cai”, o desespero pode tomar conta, com pensamentos de que a vida vai acabar e ainda não viveu o que realmente sonhou, idealizou.
Nunca é tarde, enquanto o coração bater, enquanto ainda se respirar, há vida, há sonhos, há esperança. O passado são nossas referências (lembranças, erros e aprendizados), mas não se vive mais lá, e sobre o futuro, há sim as preocupações, mas, é necessário pensar apenas nas metas e objetivos, porque se vivermos no futuro, a ansiedade, as dúvidas e incertezas irão devorar a vida. Talvez viver o hoje, esse presente que se recebe diariamente, seja o que possa fazer a diferença para que se consiga, em vez do medo obsessivo da morte, conseguir não deixar a vida passar sem vivê-la na plenitude que cada um pensou e desejou para si.
Maristela T. Lopes Ramos
Psicóloga -CRP: 06/136159
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