Não é possível se livrar desta sensação, faz parte do ser humano; é o desequilíbrio entre expectativa e frustrações que preocupa
Frustração é um sentimento associado a uma sensação de impotência e desânimo que ocorre quando algo que era esperado falha ou não acontece. Tem em sua base a expectativa.
A frustração é algo que acompanha o ser humano desde a infância. O mundo é um lugar totalmente novo para os bebês. Desde que nascem, deixam o ventre da mãe que o supre integralmente para estar nesse mundo de sensações que, de início, é no mínimo bastante desconfortável. Sentem fome, frio, calor, cheiros, toques em seu corpinho, roupa, banho, sono, luz, etc. Só lhes resta chorar, que é a reação mais comum percebida, já que as coisas não acontecem mais como antes.
Criança ou Adolescente
A mãe ou o(a) cuidador(a) irá significar esse choro e lhe suprir com alimento, colo, ninar para dormir, cuidados com a higiene, entre outros. Logo estará quietinho.
Crianças maiores diante de algum desconforto ou quando querem algo ou fazer algo e não acontece como esperam, talvez não irão apenas chorar e podem ter mais dificuldade quando esse sentimento de frustração ocorre, desencadeando, por vezes, comportamentos agressivos (como empurrar, bater, morder, gritar).
Portanto, esse processo de lidar com as frustrações começa na infância e a maneira como aprendemos com nossos pais ou cuidadores é que será essencial para como lidaremos com as frustrações na vida adulta.
As crianças que são protegidas constantemente, isto é, poupadas de situações frustrantes, terão uma tendência maior à dificuldade em desenvolver a sua autonomia e capacidade para lidar com situações que a contrariem e consequentemente superar situações que não ocorram como o esperado.
Muitas vezes, ser criado com a superproteção, sendo suprido em todas as faltas, acaba por ter um efeito contrário. A criança, quando cresce, pode sentir que ´se foi me dado tudo sem que eu tivesse que buscar é porque não tenho capacidade, sou um fraco, ou incapaz de buscar o que desejo´.
Nunca é possível prever como essa criança ou adolescente que sempre foi poupado de se frustrar vai sentir-se na idade adulta. O que é percebido na maioria dos casos analisados é que vivenciar frustrações desde cedo tem um efeito positivo no desenvolvimento do ser humano, pois, promove a autonomia e a resiliência, já que, quando se tem a oportunidade de experimentar algo e fracassar é quando é possível aprender com os erros e fazer melhor numa próxima tentativa.
Para os pais e cuidadores, é uma tarefa difícil, pois não existe um manual de instrução de como agir e surgem as perguntas: “quando ou quanto devo deixar meu filho(a) se frustrar?”, já que pode também cair na negligência ou os filhos sentirem que os pais não ligam para eles. É uma linha tênue. O importante é a criança/adolescente saber lidar com os “nãos” e conseguir esperar aquilo que não pode ser ou ter na hora. Na verdade, é um exercício que irão aprendendo com o tempo, durante o crescimento/desenvolvimento.
Tipos
Existem tipos de frustrações de acordo com as áreas da vida, mas, na maioria das vezes, as frustrações apresentam sinais e sintomas físicos como sensação de falta de energia, cansaço, perda de apetite, insônia. Também sintomas psicológicos como sensações de desesperança, tristeza e raiva. Os níveis de ansiedade também podem se elevar e causar tanto sintomas físicos quanto psicológicos, mas é provável que ocorram na fase anterior da frustração se instalar, que é na fase da expectativa e idealização. Quanto maior a expectativa, maior será o sentimento de frustração (caso a expectativa não seja realizada).
Tratamento
Percebe-se, então, que cuidar, isto é, trabalhar terapeuticamente o nível de expectativa que a pessoa perceber que está em desequilíbrio pode ser a melhor tática, do que tratar sempre as frustrações. Terá, portanto, um efeito preventivo. O desequilíbro é percebido quando começam a causar prejuízos nas atividades diárias e nas relações interpessoais (familiar, amorosa, profissional, social). Uma ajuda profissional nesse momento para compreender ou lidar com a situação, sentimento ou pensamentos poderá ajudar.
No mais, não é possível se livrar do sentimento de frustração, faz parte do ser humano, é o desequilíbrio entre expectativa e frustrações que preocupa. Algumas estratégias são: aceitar a realidade dos fatos já que há coisas que não dependem exclusivamente de nós; não ficar esperando que as outras pessoas ajam como nós agiríamos; tentar não criar cenários ou planos pouco sustentáveis naquilo que seria possível acontecer. Enfim, escutar-se e questionar-se em seus pensamentos, sentimentos e comportamentos, o que pode promover o autoconhecimento que irá ajudar a perceber o que e quais as melhores formas para lidar com situações difíceis, essas mais conhecidas como “frustrantes”.
Maristela T. Lopes Ramos
Psicóloga -CRP: 06/136159
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