Como os vícios se instalam no cérebro

As drogas são viciantes porque elas ativam o sistema de recompensa cerebral. Na verdade, ocorre o desequilíbrio do sistema levando à compulsão do uso

Toda pessoa, certamente, consegue pensar em algo que te proporciona satisfação e prazer, enquanto que situações

Maristela T. Lopes Ramos
Psicóloga
CRP: 06/136159
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Rua Santa Gertrudes, 2063 – fundos

de desconforto e dor são para quase todas as pessoas algo a ser evitado. Cada pessoa tem as suas ações singulares que causam sensações prazerosas, e são essas que as motivam a, por exemplo, comer uma sobremesa depois da refeição, ir ao encontro de amigos, sentir-se bem ao levantar na manhã de domingo para praticar exercícios, entre outras.
Isso acontece por causa do sistema de recompensa cerebral, onde são processadas as informações relacionadas às sensações de prazer e satisfação. Esse sistema está presente em diversas espécies, sobretudo, nos mamíferos. É um sistema arcaico, evolutivamente antigo em que os animais precisavam de motivações concretas para buscar alimento ou sexo, ações consideradas recompensadoras e que garantiam a sobrevivência da espécie.
Para compreender melhor, é possível pensar no cérebro como se fosse um processador de computador e que cada item foi desenvolvido para processar dados. Há diversas partes que só serão ativadas quando necessárias. O cérebro também funciona assim, e o sistema de recompensa é ativado quando a pessoa tem uma experiência prazerosa.
Algumas áreas do cérebro relacionadas às emoções e à produção de dopamina (neurotransmissor do prazer) são ativadas durante uma situação de prazer, e também outra área, como o córtex pré-frontal que está relacionado à atenção, memória e tomada de decisão. De forma simplificada, a dopamina percorre essas determinadas áreas do cérebro avisando que está tudo muito bem.
Esse sistema também pode ser ativado naturalmente por meio de estímulos ambientais agradáveis, interação social, sexo, alimentos, música, experiências religiosas e espirituais.
Vamos usar como exemplo quando se come um chocolate e isso causa aquela sensação de satisfação e felicidade. O cérebro registra na memória o quanto isso é agradável e prazeroso, prontamente irá considerar como sendo um comportamento para ser repetido em outro momento. As áreas do sistema de recompensa “pedem” para que repita a ação. Mas quando o pedido chega a área da razão do cérebro (córtex pré-frontal), ocorre a modulação, isto é, é iniciada uma luta da razão com a emoção, já que podem haver algumas consequências negativas por se comer muito chocolate. Se o comportamento prazeroso de comer o chocolate for repetido, essa via fica fortalecida e se tornará potencialmente mais difícil de resistir ou abdicar outras vezes.
Mas, se conseguir interromper o ciclo, o cérebro não vai esquecer o chocolate tão fácil assim, e pode descobrir que exista talvez uma fruta prazerosa e que cause sensações de prazer proporcional, gerando a possibilidade do sistema de recompensa ser ativado.
O complicado é que esse sistema é aquele que nos causa os vícios. Vício é um hábito repetitivo que, na maioria das vezes, causa danos ou prejuízos em diversas áreas na vida de uma pessoa. Assim ocorre no abuso de drogas, em que a maioria delas vão influenciar na produção de dopamina, trazendo as sensações prazerosas. Elas são viciantes porque ativam o sistema de recompensa cerebral; na verdade, ocorre o desequilíbrio do sistema, levando à compulsão do uso.
A internet, bem como os dispositivos eletrônicos, jogos de vários tipos, comprar e até relacionamentos amorosos ou de amizade, muitas vezes, relações abusivas, são exemplos de objetos, situações e comportamentos que agem nessa mesma área do cérebro: o sistema de recompensa.