A obesidade é uma epidemia e, indiscutivelmente, um fator de risco para diversas morbidades. Porém, por aversão a esse crescimento, a sociedade tem desenvolvido também uma obsessão crescente pela magreza, num estereótipo muito difícil de ser alcançado, que pode incentivar práticas não saudáveis.
E quando se fala em tratamento de transtornos alimentares, os objetivos incluem restaurar a nutrição adequada, trazendo o peso para um nível saudável, reduzindo o exercício excessivo e interrompendo a compulsão. Além disso, é necessário acompanhamento com psicoterapia e, muitas vezes, uso de medicamentos antidepressivos.
“É uma linha de abordagem para o atendimento nutricional na qual buscamos uma mudança de comportamentos e hábitos de forma permanente, por meio do autoconhecimento e autovalorização.
Na nutrição comportamental, trabalhamos para desmistificar o conceito de dietas e construir hábitos duradouros. Quando isso não acontece, muitas vezes, há prejuízos nutricionais e emocionais, pois, o paciente já tentou de tudo e não consegue seguir uma dieta pré-estabelecida”, explica Daniela Belinatti Menardo, nutricionista.
Atualmente, há uma divulgação muito ampla nos meios de comunicação sobre alimentação, classificando alimentos saudáveis e não saudáveis, bons ou ruins. “Por conta desses conceitos encarados de maneira errônea, poderão desencadear transtornos alimentares e, às vezes, até prejuízos nutricionais se não for feito um acompanhamento. Por exemplo, se a pessoa decide retirar o glúten e, no lugar, acaba colocando apenas farinha de arroz, pode ter até uma intoxicação por arsênico, que é extremamente tóxico para nosso organismo. É preciso saber se alimentar com equilíbrio. Entender que a alimentação faz parte da vida e que um alimento ou outro que não seja considerado saudável não vai acabar com um estilo de vida”, aconselha a especialista.
Daniela explica que a melhor forma de identificar o transtorno alimentar é: sempre uma boa conversa, de uma forma que o paciente participe da construção da mudança de hábitos. “Deve ser feita uma análise do que leva a pessoa a ter os tipos de comportamentos alimentares, avaliando pensamento, crenças e emoções. Para que a mudança seja de dentro para fora, a pessoa decide o que é melhor para ela e o que ela consegue mudar, para o desenvolvimento e reconhecimento da fome e saciedade” e exemplifica “os pacientes com bulimia nervosa, por exemplo, apresentam um comportamento alimentar que constitui um ciclo que se alterna em jejum ou restrição alimentar intensa, seguido de episódios de compulsão alimentar e utilização de métodos purgatórios, como vômitos auto-induzidos, utilização de laxantes, diuréticos e exercícios físicos intensos para evitar o ganho de peso.
O exagero no consumo alimentar desencadeia ansiedade e medo de engordar, levando à prática de comportamentos compensatórios inadequados para controle de peso, instalando-se aí um ciclo de restrição alimentar, episódio de compulsão alimentar e purgação”.
Os princípios básicos da terapia nutricional para transtornos alimentares:
• Minimizar as restrições alimentares, explicando ao paciente que não existem alimentos proibidos e que a proibição/restrição leva posteriormente a episódios de compulsão alimentar;
• Estabelecer um modelo regular de refeições não compulsivas (três refeições diárias, além de dois lanches
intermediários). A quantidade de refeições é aumentada paulatinamente, dependendo do número inicial de refeições que o paciente costumava realizar. Às vezes, o paciente pode se assustar um pouco se, de imediato, for determinada a realização de cinco refeições ao dia. Podemos dizer que este é nosso objetivo final, mas isso deve ser feito aos poucos;
• Incrementar a variedade de alimentos consumidos, diminuindo as crenças e tabus alimentares de cada paciente;
• Corrigir deficiências nutricionais, a fim de estabelecer padrões dietéticos de macro e micronutrientes adequados; e
• minimizar as restrições alimentares e estabelecer práticas de alimentação saudáveis.
O uso de um diário contribui para o desenvolvimento de um plano alimentar e para a normalização das refeições para esses pacientes.
“Os pacientes devem entender que a primeira intervenção é a normalização do padrão alimentar. Qualquer alteração de peso deverá ocorrer como resultado da normalização das refeições e da eliminação das compulsões”, esclarece.
“No tratamento nutricional, a contagem de calorias ou pesagem dos alimentos é desencorajada, visto que estes pacientes demonstram extrema atenção à composição dos alimentos e seus valores calóricos.
O nutricionista é o profissional mais adequado para ajudar os pacientes no esclarecimento de mitos alimentares. Sua atuação é importante para a prestação de informações sobre “dietas da moda” e nutrição aos membros da equipe ligada à terapia, para que todos estejam conscientemente envolvidos no tratamento que é oferecido a este tipo de paciente”, conclui a especialista.