Originado na Iugoslávia, o circo Stankowich teve início com uma família nômade de saltimbancos, (artistas que se apresentavam em praças e, logo em seguida, pediam dinheiro), pratica esta que foi muito difundida antes do surgimento do circo.
Após a primeira Grande Guerra, a família refugiou-se no Brasil, aportando no estado do Rio Grande do Sul, onde, a partir de então, iniciou suas práticas e passou a migrar junto ao circo.
Hoje, a Companhia encontra-se na 5ª geração, sob a administração de Marcio Antonio Stankowich, de 57 anos. “Nasci no circo que, na época, encontrava-se no Rio de Janeiro. Sempre vivi neste ambiente e posso afirmar que é diferente de tudo. Passamos o tempo viajando, construindo novas amizades e as deixando, que é a parte mais triste. Mas, também transportamos alegria, e isso vale muito a pena”, afirma Stankowich.
O dono afirma que a vida circense é dinâmica. Os trâmites para instalação da Companhia nas cidades demandam grandes acordos burocráticos com a Prefeitura e com empresas de eletricidade e água. “Durante todo o ano, vivemos esta ‘loucura’. Não temos folga. Durante o dia, todos visam a manutenção do ambiente e, durante a noite, são todos artistas. O paradeiro é incerto, mas, sempre buscamos algum lugar”, comenta.
A ideia mantida pela família Stankowich é preservar o circo tradicional, mostrando-se encantador a muitos olhos que procuram o proprietário em busca de oportunidades. “Sempre instruímos as pessoas que desejam entrar para a Companhia. Não somos uma escola, por isso, indico locais para o aprendizado. Visamos artistas profissionais”, explica.
E um desses profissionais é o palhaço Piriquitovisk, personagem de Jodson da Costa Brito (25). O ator paraibano afirma que sua trajetória no mundo da arte iniciou logo cedo, aos 8 anos de idade, quando frequentava aulas de teatro.
Com o passar do tempo, Jodson teve a chance de apresentar-se para um circo, ato este que ganhou o gosto do artista. “Tive a oportunidade de fazer parte de um circo maior, e aceitei. Fui para o Canadá e voltei para o Brasil junto a uma empresa grande. Com o Stankowich, estou há, mais ou menos, 1 mês e meio”, explica.
Mesmo não sendo nascido no circo, como muitos dos integrantes da Companhia, Jodson afirma que não enfrentou grandes problemas em adaptar-se à vida nas estradas. Morar em trailers, migrar de um estado a outro em poucas semanas foi simples, já que seu gosto pela arte circense sempre existiu. “Eu ia muito ao circo quando criança; isso sustentou o meu amor pela área”, afirma.
E para o jovem, trabalhar em uma empresa como o Stankowich é de suma importância para sua carreira. “É um circo muito tradicional, onde já trabalharam pessoas que hoje estão no Cirque Du Soleil ou fora do país. Isso é emocionante”, pondera Jodson.
A composição do personagem de Jodson é feita sob o auxílio de diretores, mas, as cenas presentes no espetáculo são feitas pelo ator. “Tenho um figurinista que cuida das roupas, mas, a maquiagem eu mesmo faço. Tive que me adaptar a isso (risos)”.
Nascidos na arte
Segundo Nathalia Cepuveda Stankowich (18), brincadeiras de crianças circenses passam longe de amarelinha ou jogo de futebol. Sua infância resumiu-se a cambalhotas, camas elásticas e escaladas no trapézio, o que a fez dedicar-se, desde muito cedo, aos ofícios do circo. “Hoje, tenho especialidade em força capilar e trapézio”, conta.
Para Nathalia, a vida da cidade não é ordinária. Acostumada a migrar não só de cidades, mas também de escolas, a artista sempre viu grande normalidade da dinâmica de sua rotina. “Eu devo ter estudado em 50 escolas (risos)”, afirma.
Por lei, filhos de famílias circenses ou itinerantes devem ser aceitos nas escolas das cidades onde se estabelecem, independente do tempo de estadia. “A gente acaba pulando de escola em escola, mas isso nunca foi um problema”, afirma Nathalia.
A jovem faz parte da Segunda Companhia Stankowich, atualmente localizada em Sorocaba – SP. “Não pretendo abandonar o circo nunca! Quero passar para os meus filhos e assim sucessivamente”.
Já para Daniel Stankowich Alves (18), trapezista, a vida fora do circo também se mostra estranha, já que o mesmo possui certa experiência. “Namoro uma moça de fora. Ela mora no Guarujá e nós nos conhecemos há alguns anos. Já passei um tempo na casa dela e é extremamente estranho. No começo, eu não sabia onde ficavam os cômodos, justamente pelo costume no trailer. Hoje, consigo viver em ambos os lugares, mas, prefiro a minha casa, que é o circo”, pondera.
Daniel, além de trapezista, também apresenta malabarismo ao longo do espetáculo. Segundo o jovem, a concentração é mais do que fundamental. “Não se pode entrar 99% no palco, qualquer distração é margem de erro, principalmente, para o número que faço vendado no trapézio”, explica.
E o amor pela arte está no sangue, o que faz qualquer intenção de largar a carreira, mero estresse. “Isso é a minha vida, não quero abandoná-la nunca”, conclui Daniel.
A Companhia Stankowich está instalada na Avenida da Saudade e deve permanecer no local até o dia 19 de agosto.
FOTOS: Gazeta de Cosmópolis