Comportamento ‘dar de tudo’ aos filhos pode prejudicar no desenvolvimento da criança

A prática de saciar todos os desejos de consumo da criança e do adolescente pode torná-lo em um consumista compulsivo no futuro

É comum ouvir pais dizendo que gostariam de “dar de tudo” aos filhos. Mas, essa prática pode prejudicar o desenvolvimento da personalidade da criança e do adolescente porque esse costume de saciar as vontades instantâneas das crianças pode incentivar o consumo excessivo, transformando a criança em um consumista compulsivo. A psicóloga Patrícia Poletti explica que “a criança precisa aprender a ter limites, a saber ouvir e falar um ‘não’, e isso se aprende nestes momentos também. Ter limites é aprender a se cuidar, a se controlar e evita sofrimentos e problemas futuros”.

Uma vez que a criança associa o consumo ao sentimento de felicidade, ela pode carregar esse costume para o decorrer de sua vida. Além disso, a especialista diz que “o ‘dar de tudo’, além de prejudicar no desenvolvimento desta compreensão dos limites e saber lidar com a frustração de não ter algo, também cria cidadãos preocupados somente no ‘ter’ e não no ‘ser’, preocupados em mostrar o que têm e não com o que são, seus valores”. Essa relação desde a infância influencia na criação de indivíduos “que não se preocuparão com os outros ou com os valores morais para terem o que querem”, finaliza Patrícia. Mas, o consumo exagerado não é um desejo que surge da criança somente, ele é um hábito que ela desenvolve através de sua família. “A criança não nasce consumista ou ansiosa, são comportamentos que ela aprende em casa”, salienta a psicóloga. O comportamento é comum nos adultos e deles, então, é passado para as crianças.

O adulto consumista compulsivo realiza este comportamento para substituir ou compensar um problema, seja preocupação, sofrimento ou qualquer outro sentimento ruim. Mas, estas sensações boas que a compra traz são momentâneas; passado esse momento, o consumista pode sentir culpa, tristeza e angústia. A recomendação é para que se aprenda, desde criança, a lidar com os sentimentos, sejam eles sofrimentos, frustrações ou alegrias. Pensando nisto, Patrícia estimula a refletir sobre as relações paternas. “Por isso, repensar nossos comportamentos e valores, e valorizar o tempo que temos com nossos filhos, dar-lhes atenção, brincar e conversar com eles são partes importantes disso tudo”. Ela traça um paralelo das crianças e adolescentes com os adultos. “Os pais não devem se perguntar o que de material falta para o filho, mas sim, de quem ele sente falta de verdade. Se o adulto supre a tristeza, sofrimento ou a solidão com compras, a criança supre também”.

Com isso, é importante lembrar que “o remédio não é comprar, mas dar amor e atenção de verdade”. Na fase da adolescência, “é um pouco mais complicado, pois, além das pressões dos pais e da mídia, há as pressões dos grupos a que ele pertence”, a especialista comenta. A adolescência, segundo a psicóloga, é marcada pela necessidade de se sentir parte de um grupo, o que pode agravar o quadro consumista.

Cuidados

A psicóloga Patrícia Poletti traz dicas sobre os cuidados que os pais devem ter para a criação das crianças.

A primeira atitude que os pais devem tomar é refletir sobre seus próprios comportamentos de consumo e os exemplos que estão passando para as crianças. As crianças aprendem o tempo todo e repetem nossos comportamentos. Precisamos ensinar nossos filhos que podemos ser felizes e nos divertir sem ter o consumo interferindo nisso.

Em segundo lugar, é abandonarmos a ideia de que ser bons pais é ‘dar de tudo’, mas, sim, dar o que é suficiente, e é claro que até o que é suficiente precisa ser repensado.

Em terceiro lugar, criança é criança e precisa se vestir e se comportar como criança e a sua idade ser respeitada, claro que adequando à modernidade e à tecnologia, mas sem perder de vista que uma criança está sempre em processo de aprendizagem e, por isso, não tem como decidir o que é bom para ela ou não, sendo os pais que devem fazer isso.

E claro, o mais importante é o ‘não’, o limite, que deve ocorrer desde pequenininho. Crianças sempre desejarão coisas, adultos também, o que muda é a forma como lidam com isso e a intensidade. Podemos considerar que o consumo está excessivo numa criança quando isto a preocupa. Criança precisa se preocupar em estudar, ir bem na escola, brincar, etc., e não em comprar ou que precisa ter algo. Quando nossos filhos já têm esta preocupação e o comprar toma conta deles, temos que ficar alertas, pois, isso pode virar um problema. Se para se divertir, ou ir a algum lugar ou para fazer qualquer coisa a criança faz exigência de que se compre algo, novamente isso é o consumismo. E não podemos aceitar, como pais, que nossos filhos se contaminem com a necessidade de só se satisfazerem quando compram ou ganham coisas.

A “Birra”

A birra, segundo a psicóloga, é um comportamento muito comum em crianças menores, de até cinco anos, mas, ela diz que o comportamento está sendo observado cada vez mais em crianças maiores e até mesmo em adolescentes. “Claro não se jogam no chão, mas, fazem a birra do jeito deles”, conta Patrícia. A especialista conta que birra é uma demonstração da insatisfação frente a uma “frustração, a um não, ou ao outro não fazer o que queremos, e quanto mais precoce intervirmos nisso, mais fácil será acabar com ela ou minimizá-la”. Além disso, Patrícia conta que “o adulto, quando ouve um ‘não’, também fica triste, com raiva e afins, mas já aprendeu a controlar estes sentimentos e não mostrar em público isso. A criança está aprendendo e devemos ter paciência nestes momentos”.

Patricia C. Poletti Psicóloga CRP: 06/85002 Medclin - Cosmópolis  Fone: (19) 3872-1345 / 9 9127- 0383 Convênio : Bradesco Saúde e Mediservice

Patricia C. Poletti Psicóloga CRP: 06/85002 Medclin – Cosmópolis Fone: (19) 3872-1345 / 9 9127- 0383 Convênio: Bradesco Saúde e Mediservice

Ela também alerta que “na birra, não adianta bater, tentar conversar e outras coisas, neste momento, a criança está com raiva e muito triste, por isso, o melhor é nos afastarmos dela e, quando ela acalmar, conversar sobre o ocorrido. Se a criança for pequena ou tiver muito agitada, podemos pegá-la no colo, abraçá-la, mas sem conversar com ela”. E para os casos que a criança faz ‘birra’ em público, é recomendável que os adultos não sintam vergonha pela ‘birra’ e que não cedam. “Ceder é a única coisa que não podemos fazer”, finaliza Patrícia.