Conheça mais sobre a “síndrome do jaleco branco”

Pesquisas também concluíram que não tratar a síndrome aumenta a chance de doenças cardíacas

Maristela Lopes Ramos
Psicóloga
CRP: 06/136159
R. Santo Rizzo, 643
Cel: (19) 98171-8591

Ficar nervoso, ansioso, suar frio, taquicardia, pressão arterial alta são reações que acometem algumas pessoas frente a médicos, enfermeiros, dentistas e outros profissionais da área da saúde. Basta agendarem uma consulta, entrar no consultório/hospital, sentar diante do profissional ou imaginar exames futuros para as reações acontecerem. Esse medo tem um nome “iatrofobia”, em grego “iatrós” significa médico. Popularmente é conhecida como a “síndrome do jaleco branco”. Foi identificada, pela primeira vez, no início dos anos 80 em que o principal sintoma era os pacientes apresentarem leituras de pressão alta em ambiente médico e pressão normal fora desse ambiente.
O medo e a fobia são distintos; enquanto o medo é uma emoção que faz a pessoa evitar situações que lhe irão causar danos, a fobia é um medo desproporcional, irracional e persiste tanto que acaba por afetar significativamente a vida da pessoa.
Estudos demonstram que fobias médicas atinjam 1 a cada 5 pessoas e representam mais da metade das fobias dos pacientes que procuram ajuda médica e psicológica.
É uma fobia situacional e a avaliação profissional envolve não apenas saber do que ou de quem é o medo e intervir sobre eles, ou somente medicar para amenizar ou sanar os sintomas físicos, e sim, entender a razão emocional da causa. Há várias situações que podem ter levado a pessoa a desenvolver essa fobia, e mesmo que apenas manifestada na vida adulta, a raiz/ligação/associação deve-se a alguma experiência de vida, principalmente da infância.
A Psicologia ajuda a entender que a história de cada ser humano é única, singular, e quando se analisam os sintomas de uma pessoa, mesmo que sejam iguais os de muitas outras, como nesse conjunto de sintomas (síndrome), a base emocional original é diversa e multifatorial, jamais é possível generalizar.
Apenas para exemplificar e não generalizar, um fator que pode desencadear a síndrome do jaleco branco é a pessoa ter passado por algum trauma médico ou ver uma pessoa muito querida passar. Pode até ser algo simples como uma injeção, em que na sua subjetividade (maneira única de sentir e perceber o mundo e tudo o que nos acontece), essa experiência foi associada com a dor.
Essa sensação ruim, desconfortante, e que causa medo fica “impregnada” em nós, mesmo que nem lembramos mais dela, ela está lá, guardada em algum lugar da nossa memória inconsciente. Quando a pessoa então entra em contato com situações relacionadas à saúde (médico, dentista, enfermeiros, mobiliário de posto de saúde, corredor de hospitais, macas de consultório, ambulância, entre outros), acaba por haver uma resposta emocional automática em forma de sintomas físicos como taquicardia, pressão alta e outros sintomas já descritos.
Como nossa mente é muito complexa, não necessariamente a associação pode ser com trauma médico. Como já escrito, tem a ver com experiências que suscitaram principalmente sensações de medo/dor/pavor que ficaram associadas, e que hoje a pessoa tenta ao máximo evitar senti-las novamente. Os sintomas vêm de certa forma “acenar” que existem questões emocionais não resolvidas, isto é, não tratadas.
Pesquisas também concluíram que não tratar a síndrome aumenta a chance de doenças cardíacas e o risco de morte pela mesma, já que os sintomas físicos são reais como o aumento da pressão arterial. Infelizmente, ainda existe um ceticismo sobre essa síndrome. Para o diagnóstico, é sugerido aos médicos que se utilizem de equipamentos de monitorização domiciliar de pressão para que esse paciente não seja medicado com anti-hipertensivos e sofra seus efeitos colaterais desnecessariamente.
Como lidar com a Síndrome? Pode até serem indicadas algumas “técnicas” de respiração e relaxamento e medicação como os ansiolíticos, pois podem ajudar, sim, quando os sintomas fóbicos estão ocorrendo no corpo e como coadjuvante da terapia. A terapia é o processo que trará o autoconhecimento para esse paciente em que irá se identificar as raízes de onde tudo começou, no caso esse medo. A ressignificação, que é dar outro significado, ter outro entendimento, outro olhar, para as experiências traumáticas que podem ter desencadeado a associação do medo. Enfim, esse conhecimento sobre o que acontece no íntimo do nosso ser, saber por que agimos ou não de certa forma pode ser libertador.