Doença pode ser viral, bacteriana, por fungo... Há vacinas somente para as bacterianas
“A meningite é um termo que nós aplicamos para o acometimento inflamatório ou infeccioso das meninges. Eles são pequenos envoltórios. Nós temos três camadas, três meninges, que envolvem todo nosso sistema nervoso central, que inclui o nosso encéfalo, que é o nosso cérebro acoplado ao cerebelo e ao tronco cerebral, e a medula espinhal”, explica Dr. André Luiz Mathias Arruda, médico Pediatra.
O médico diz que “basicamente, existem vários tipos. Nós temos meningites causadas por vírus, bactérias, fungos e, inclusive, as que não têm a intermediação de um micro-organismo. Nós podemos ver isso envolvido em questões tumorais. Quando nos referimos ao que causa, o que as pessoas mais comentam são as de origem infecciosa, as virais e as bacterianas. É eventualmente causada por bactéria do tipo meningococo.
Os sintomas variam de acordo com a faixa etária. Bebês muito pequenos, até mesmo por não conseguirem expressar verbalmente o que sentem, podem ter sintomas muito inespecíficos, como febre, uma irritabilidade bem intensa, porque, muitas vezes, queixam-se de dor de cabeça, mas, não conseguem se expressar. No caso dos bebês, também pode haver irritabilidade pelo incômodo que se tem na região da nuca: a rigidez nessa área não é muito bem percebida. A ‘moleira’, presente em bebês novinhos, pode acabar ficando muito tensa, podendo, inclusive, ficar abaulada. Podem haver vômitos e ainda o acometimento motor quando existe inflamação do encéfalo, resultando em alterações motoras, como a mobilização dos membros; podem haver equivalentes convulsivos, embotamento do comportamento (a criança parecer desfocada).
Conforme vão ganhando idade, entram naquela sintomatologia mais clássica: dor de cabeça, vômitos, rigidez na nuca e febre. Podem haver também lesões na pele, que se assemelham a pequenos hematomas que aumentam com o passar das horas”, explica o médico.
Segundo Dr. André, “a melhor forma de evitar a meningite é através da vacinação, isso quando falamos das meningites bacterianas. Para as bacterianas, você vai encontrar três tipos básicos de vacina – a do primeiro tipo é o C, aplicada pela rede pública a partir do 3º mês de vida; e os outros dois tipos serão encontrados em rede privada, que são do tipo B e ACWY, podendo ser aplicadas a partir do 2º mês de vida. As meningites virais não possuem nenhuma vacina, porque elas são causadas por vírus cotidianos que causam doenças simples em crianças, mas acabam ocasionando meningite ou meningoencefalite, quando o bebê ou criança tem uma queda no seu sistema imunológico. As meningoencefalites virais, em geral, têm um bom prognóstico, exceto quando causadas pelo vírus Herpes, que requer medidas especiais.
As meningites bacterianas, quando causadas pelo meningococo, precisam de um prognóstico mais sério, mas ele é um pouco melhor quanto mais rápido for introduzido o antibiótico à terapia”.
Quando existe o contato das meningoencefalites em uma escola, é de suma importância saber qual o seu tipo. “Em geral, as virais não requerem cuidados específicos, como vacinação ou medicações. Já a meningocócica sim; então, a qualquer suspeita de meningoencefalite, deve-se comunicar o serviço de Vigilância Epidemiológica da cidade e, tão logo que se tenha o diagnóstico, estabelecer uma conduta mais adequada. Em casos em que sabemos que a meningite é meningocócica, essas medidas podem incluir medicações profiláticas (antibióticos) e também um aconselhamento vacinal. Já no caso das virais, não.
Especificamente, as idades vão variar. Claro que quanto mais jovem, o sistema imunológico é mais imaturo e é mais suscetível, mas não há idade para contraí-la. Adultos também podem contrair, e a doença pode ser igualmente fulminante em qualquer faixa etária”, esclarece o pediatra.
De acordo com o médico, “sabemos que a cura vem através da introdução de antibióticos. No caso da meningoencefalite bacteriana, existem antibióticos que precisam ser usados o mais precocemente possível. No caso das meningites virais, só temos tratamento para o vírus Herpes. Os outros vírus mais simples não requerem tratamento.
Quase sempre as meningites virais vão ter um bom prognóstico, embora elas possam dar muitos sintomas. Com exceção do vírus Herpes, possuem uma evolução muito positiva, quase sempre sem sequelas. As meningites virais, quando não causadas pelo Herpes, deixam o médico muito mais otimista do que quando se trata de meningite meningocócica, que possui uma taxa de complicação e letalidade sensivelmente maior. Nos pacientes que sobrevivem, existem complicações, como déficit da parte auditiva, pode incluir déficit da parte cognitiva, problemas vasculares causados pelo meningococo e, caso o quadro tenha sido muito grave, pode haver o acometimento de regiões do encéfalo, determinando sequelas na parte motora e cognitiva”, relata Dr. André.
Além disso, o pediatra diz que “por se tratar de uma urgência, você não irá ver ninguém marcando uma consulta para avaliação. A suspeita tem que ser analisada por um médico no pronto atendimento, seja ele um clínico ou um pediatra, no caso das crianças, onde é feito o exame físico, indicando, por fim, um exame complementar, que é a coleta da porção do líquido espinhal, capaz de estabelecer um diagnóstico. Porém, esse diagnóstico não pode ser usado como uma exigência para entrada precoce do antibiótico. Muitas das vezes, tão logo seja realizada a pulsão lombar, o médico já dá a ordem de introduzir antibiótico à terapia, mesmo que depois os resultados venham negativos e ele suspenda essa terapia.
Agora, em linhas gerais, o que acontece é o seguinte: se falarmos de tuberculose, se falarmos de AIDS ou se falarmos de infarto, toda doença tem uma prevalência, ou seja, existe um número de casos todo ano. Acredito que o mais importante, no caso das meningites, é discernir se ela é viral ou bacteriana.
As virais, em geral, têm um bom prognóstico quando não causadas pelo Herpes, e as bacterianas, quando são meningocócicas – e a maioria realmente é-, são muito mais sérias. Acredito que o ponto principal para a recuperação é a introdução do antibiótico precoce, mas, às vezes, a virulência é tão alta desse microorganismo que, infelizmente, a pessoa não consegue se recuperar, porque o indivíduo entra em uma ‘cascata’ inflamatória da qual ele não consegue sair”, explica o médico.
Dr. André ainda acrescenta que “houve recentemente o caso do netinho do ex-presidente, que foi uma situação muito triste, e isso está provocando uma corrida a postos de vacinação. Mas, até onde sei, não estamos com nenhum surto ou epidemia que tenha sido divulgado por autoridades”.