O presidente em exercício Rodrigo Maia sancionou, no dia 23 de junho, a lei que libera a produção, comercialização e o consumo de Sibutramina, Anfepramona, Femproporex e Mazindol, substâncias usadas para inibir o apetite.
O uso das substâncias Anfepramona, Femproporex e Mazindol já havia sido proibido em 2011 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pois, segundo o órgão, as substâncias estavam relacionadas ao risco de problemas cardíacos causados pelos inibidores de apetites.
A decisão tomada por Rodrigo Maia foi lamentada em nota pela Anvisa, que informou que “essa lei, além de inconstitucional, pode representar grave risco para a saúde da população. Legalmente, cabe à Agência a regulação sobre o registro sanitário dessas substâncias, após rigorosa análise técnica sobre sua qualidade, segurança e eficácia. Assim ocorre em países desenvolvidos e significa uma garantia à saúde da população. O Congresso não fez, até porque não é seu papel nem dispõe de capacidade para tal, nenhuma análise técnica sobre esses requisitos que universalmente são requeridos para autorizar a comercialização de um medicamento”.
Das drogas, somente a Anfepramona é vendida nos Estados Unidos, mas não na Europa. Femproporex não é aprovado nos EUA e foi proibido na Europa em 1999; e a substância Mazindol foi retirada dos Estados Unidos e da Europa em 1999.
Quanto à Sibutramina, foi reavaliada pela Anvisa e ficou demonstrado que o benefício era maior que o risco, desde que utilizada adequadamente e para determinados perfis de pacientes.
Diante de algumas dúvidas sobre o uso de inibidores de apetite, a Gazeta de Cosmópolis conversou com a endocrinologista Dra. Valéria Peixoto Meira e a nutricionista Lívia A. Almeida Santos.
Endocrinologista
Dra. Valéria Peixoto Meira
Gazeta de Cosmópolis: O que cada substância sancionada por lei que libera a prescrição, manipulação e venda de Anfepramona, Femproporex e Mazindol fazem?
Dra. Valéria Meira: Anfetaminas e seus derivados ocupam receptores de neurotransmissores, inibindo apetite, e aumentando a vigília, o que pode trazer agitação. Por competirem com os neurotransmissores e ocuparem seus receptores, diminuem a produção natural ou acentuam a deficiência, causando dependência química quando mal indicados ou mal usados ou usados por longos períodos.
Mas isso ocorre com outros medicamentos que nunca foram tirados do mercado. E mesmo essas medicações em fases agudas têm sua indicação. O grande problema está no comportamento do paciente quando ele quer tomar por conta própria, aumentar a dose sem permissão médica.
Gazeta: Para você, quais são os benefícios dos inibidores?
Dra. Valéria: Há pacientes que não emagrecem apenas com dieta e exercícios. E Obesidade é uma entidade mórbida. É uma doença e causa outras doenças. Precisamos abandonar os preconceitos e as ingerências. É doença e é da competência do médico, primeiramente. Demais profissionais como nutricionistas e nutrólogos, educadores físicos, psicólogos… fazem parte da equipe que deve mesmo ser multidisciplinar. Mas, antes de qualquer investida, o diagnóstico médico deve ser feito e o tratamento, quando medicamentoso, é da competência desse profissional.
Gazeta: Os inibidores de apetite ajudam a combater a obesidade? Por quê? Existem alternativas?
Dra. Valéria: Há sim outras opções. Inclusive, durante o tempo em que essas substâncias estavam proibidas, o tratamento da obesidade evoluiu com o uso de muitas alternativas e novos medicamentos.
Gazeta: Quais são os efeitos colaterais para quem toma?
Dra. Valéria: Efeitos colaterais de derivados anfetamínicos incluem a dependência, a agitação, insônia, sendo esses os mais comuns.
Gazeta: Em que casos são indicados a tomar esses medicamentos?
Dra. Valéria: Eles são indicados para o tratamento de obesidade com compulsão alimentar.
Gazeta: Quem não pode tomar esse medicamento?
Dra. Valéria: Cardiopatas, nefropatas e hepatopatas não devem usar. Ou pacientes psicóticos e depressivos. Gestantes, hipertensos descompensados e pessoas em uso de alguns outros medicamentos de metabolização hepática.
Gazeta: As pessoas que utilizam os inibidores podem se tornar dependentes?
Dra. Valéria: Já falamos aqui desse potencial alto de dependência. É fato.
Gazeta: A proibição da Anvisa contra esses medicamentos, em sua opinião, foi correta?
Dra. Valéria: A proibição foi uma medida política e nada educativa. À revelia da classe médica, o Governo optou por essa medida para reduzir os índices de consumo que colocavam o Brasil em um dos primeiros lugares, o que era ruim pra imagem do país.
Nutricionista
Lívia A. Almeida Santos
Gazeta de Cosmópolis: O que cada substância sancionada por lei que libera a prescrição, manipulação e venda de Anfepramona, Femproporex e Mazindol fazem?
Lívia Almeida: Essas substâncias são inibidoras de apetite, tiram a fome da pessoa.
Gazeta: Para você, quais são os benefícios dos inibidores?
Lívia: Os inibidores de apetite, no começo, até podem auxiliar a perda de peso, porém, se não tiver uma boa alimentação e atividade física, você acaba ganhando peso novamente no futuro. É muito importante saber comer adequadamente. O remédio deve ser utilizado para auxiliar o início da perda de peso e começar uma reeducação alimentar seria a melhor opção.
Gazeta: Os inibidores de apetite ajudam a combater a obesidade? Por que? Existem alternativas?
Lívia: Eles podem até auxiliar na perda de peso no início, porém, são medicamentos que não serão utilizados para sempre. Se parar de tomar o remédio, a fome volta e você volta a comer o que comia antes e, com a volta dos hábitos alimentares antigos, o ganho de peso também volta.
Gazeta: Quais são os efeitos colaterais para quem toma?
Lívia: Irritação, insônia, dor de cabeça, entre outros.
Gazeta: Em que casos são indicados a tomar esses medicamentos?
Lívia: Os casos indicados seriam avaliados pelo médico responsável. Esses remédios deverão ser utilizados quando os riscos da obesidade forem muito altos, obesidade mórbida por exemplo.
Gazeta: Quem não pode tomar esse medicamento?
Lívia: Pessoas com problemas cardíacos devem fazer rigoroso acompanhamento médico para avaliar os riscos antes de tomar.
Gazeta: As pessoas que utilizam os inibidores podem se tornar dependentes?
Lívia: Podem sim e o risco à saúde seria muito maior.
Gazeta: A proibição da Anvisa contra esses medicamentos, em sua opinião, foi correta?
Lívia: Sim, pois a Anvisa, assim como os outros países, avaliam os riscos que os medicamentos trazem à saúde e, após essa avaliação, liberam o uso.