Os Transtornos Alimentares (TA) não são descritos como doenças, e sim, como síndromes comportamentais determinadas por uma diversidade de fatores que interagem entre si produzindo, por muitas vezes, a perpetuação dos sintomas. Maristela T. L. Ramos, psicóloga, diz que os fatores são: “os traços de personalidade (baixa auto-estima, traços obsessivos/perfeccionistas, impulsividade/instabilidade afetiva), história de transtornos psiquiátricos (depressão, ansiedade, dependência de substâncias), tendência à obesidade, abuso sexual, familiares (hereditariedade, padrões familiares rígidos, desorganização e falta de cuidados) e os sócio-culturais (ideal de magreza). Os transtornos alimentares não aparecem abruptamente, eles se desenvolvem ao longo de vários anos, a partir das predisposições presentes desde o nascimento de uma pessoa”.
Geralmente, apresentam suas primeiras manifestações na infância e na adolescência e podem ser divididos em dois grupos. “O primeiro do grupo são os transtornos mais precoces que ocorrem na infância e que representam as alterações da relação da criança com a alimentação. Estes não estão associados com uma preocupação excessiva com o peso ou a forma corporal, mas podem, sim, interferir no desenvolvimento infantil”, explica a especialista.
Os transtornos são os seguintes:
– Transtorno da alimentação da primeira infância: “inicia-se antes da idade dos seis anos e é uma dificuldade em se
alimentar adequadamente levando à perda de peso ou a uma falha em ganhar peso apropriadamente. Esse sintoma não é decorrente de nenhuma condição médica geral ou a falta de alimentos. O objetivo de tratamento, nesse caso, é a melhora do estado nutricional da criança e, em alguns casos, acompanhamento psicológico”, explica a especialista sobre o transtorno.
– Pica: segundo Maristela, “é a ingestão recorrente de substâncias inadequadas, não nutritivas para o desenvolvimento infantil e inaceitáveis culturalmente, como terra, barro, cabelo, alimentos crus, cinzas de cigarro e fezes de animais. Histórico familiar de pica, atraso no desenvolvimento e retardo mental podem estar associados a esse transtorno. Complicações clínicas do sistema digestivo e intoxicações podem ocorrer”.
– Transtorno de ruminação: “incluem repetidos episódios de remastigação ou regurgitação. Não ocorrem por decorrência de alguma outra condição médica, isto é, por causa de outra doença. As principais complicações são a desnutrição, perda de peso, desidratação e até a morte”, alerta a psicóloga.
O segundo grupo de transtornos tem o seu aparecimento mais tardio e são nomeados por:
– Anorexia nervosa: “acontece predominantemente em mulheres jovens com picos de maior incidência aos 14 e aos 17 anos (mas existem casos precoces a partir dos 7 anos). O início é marcado por uma restrição dietética progressiva que elimina alimentos ‘engordantes’ como os carboidratos. Passam a apresentar insatisfação com o corpo, sentindo-se obesas apesar de estarem magras ao extremo. Há uma alteração de como veem a própria imagem corporal. Praticam exercícios físicos extenuantes com objetivo de queimar calorias e perder peso. O medo de engordar é uma característica principal e passam a viver exclusivamente em função da dieta. A influência da ‘cultura do corpo perfeito’, a pressão pela magreza que algumas mulheres sofrem, como modelos e atrizes que ‘comercializam’ a própria imagem, algumas profissões como ginastas, jockeis, patinadoras e bailarinas, podem desempenhar um importante papel no desenvolvimento do transtorno”, pondera Maristela.
– Bulimia nervosa: Maristela diz que esse transtorno “é extremamente raro antes dos 12 anos. Compulsão alimentar é o sintoma principal e costuma aparecer no decorrer de uma dieta para emagrecer. A pessoa come uma quantidade de comida considerada exagerada se comparada ao que uma pessoa comeria em condições normais (cerca de 2 a 5 mil calorias por episódio). Ocorrem às escondidas.
Vem acompanhada por uma sensação de total falta de controle sobre esse comportamento e sentimentos de intensa vergonha, culpa e desejos de autopunição.
O método compensatório utilizado em cerca de 90% dos casos é o vômito induzido que tem o efeito imediato de aliviar o desconforto físico da hiperalimentação e também a redução do medo de ganhar peso.
Outros métodos como laxantes, diuréticos, hormônios tireoidianos, jejuns prolongados, exercícios físicos exagerados são utilizados”, pontua a especialista.
“Por conta das causas serem de múltiplos fatores, os transtornos alimentares são considerados de difícil tratamento. É necessário e fundamental que no tratamento prevaleça a integração profissional de atendimento médico, psicológico e nutricional”, conclui a psicóloga.