Consciência Negra ou Consciência Humana? Eis a questão

É necessário mostrar à população o racismo enraizado na sociedade brasileira

O dia 20 de novembro é conquista das lutas sociais e políticas da população negra brasileira. Entre desconhecimento e conscientização, o Dia da Consciência Negra vem sendo refletido e criticado de maneira pejorativa por parte da sociedade brasileira. A referência para os negros e negras é o Zumbi, líder do Quilombo de Palmares, que foi assassinado no dia 20 de novembro de 1695. Entretanto, essa história de lutas e resistências é ignorada por parte da população brasileira, que vê nessa data uma forma peculiar do negro “espalhar” o racismo, a discriminação e o preconceito e dessa forma atrapalhar a harmonia racial brasileira; assim sendo, defende-se que o dia da Consciência Negra deve ser substituído pelo dia da Consciência Humana. Longe de acabar com essa polêmica, é preciso reafirmar que essa data histórica tem, entre outras ações e reflexões, chamar atenção da população branca e negra para o racismo enraizado na estrutura da sociedade brasileira.
Os números da desigualdade racial brasileira.
Em sua obra, Sociedade desigual: racismo e branquitude na formação do Brasil, o professor Theodoro (2022) busca analisar a formação da sociedade brasileira, na perspectiva das relações raciais, cuja desigualdade entre brancos e negros tem raízes históricas no processo de colonização e, ao longo do desenvolvimento da sociedade, esse contraste perdura até os dias atuais. Eis aqui os números da desigualdade racial da sociedade brasileira:
Apesar dos negros representarem 56,10%, da população brasileira, no mercado de trabalho, os negros representam 64,2% dos desempregados em contraposição aos 31,8% dos desempregados brancos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), segundo os dados do estudo Desigualdades Sociais por Cor e Raça no Brasil em 2018. Diante dessa realidade, a distribuição de renda revela que os negros ganham menos no Brasil do que os brancos. Dessa forma também, os pretos e pardos são as maiores vítimas de homicídios, segundo o Atlas da Violência, 2017: 75% das pessoas assassinadas no país eram pretas ou pardas; jovem negro tem mais 2,5 vezes maior chance do que o jovem branco ser assassinado.
Outro dado a se destacar é em relação às mulheres negras que são vítimas recorrentes de violência doméstica, segundo o Atlas da violência em 2017. Por fim, pensar no sistema carcerário, 61,6% dos detidos do país eram pretos e pardos, de acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, 34,38% dos presos são brancos.
Diante desses dados, é preciso compreender que a desigualdade no Brasil tem cor e raça, mais do que reflexões, o dia da Consciência Negra requer ações para combater o racismo estrutural que, de acordo com Almeida (2019), está relacionado ao processo de trocas de mercadorias, baseado no trabalho escravizado, e ao longo da história com a formação do Estado, tem a raça como fundamento das relações sociais brasileiras.
Enfim, é preciso destacar a necessidade de ações e debates sobre o Dia da Consciência Negra, como referência de pautas e agendas de lutas políticas e sociais para o cotidiano do povo negro. E mais, é fundamental que brancos e negros tenham consciência da realidade racial brasileira. Sendo assim, que o disfarce do discurso da “consciência humana”, para revigorar o mito da democracia racial, possa dar lugar às ações políticas e sociais da consciência negra como princípio educativo para construção de uma verdadeira democracia racial.
P.S. “Consciência negra é um termo que ganhou notoriedade na década de 1970, no Brasil, em razão da luta de movimentos sociais que atuavam pela igualdade racial, como o Movimento Negro Unificado – MNU. O termo é, ao mesmo tempo, uma referência e uma homenagem à cultura ancestral do povo de origem africana, que foi trazido à força e duramente escravizado por séculos no Brasil. É o símbolo da luta, da resistência e a consciência de que a negritude não é inferior e que o negro tem seu valor e seu lugar na sociedade. “Veja mais sobre “Consciência negra” em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/consciencia-negra.htm

É preciso destacar a necessidade de ações e debates sobre o Dia da Consciência Negra

Professores(as) da Área de Ciências Humanas e Sociais da Escola Estadual Paulo de Almeida Nogueira – PEI – GEPAN.
Alessandra Simoni, professora de Geografia
Alex Merchon, professor de História
Ellen Santos, professora de História
Malrilene Moura, professora de Filosofia
Paulo Costa, professor de Sociologia
Tiago Cândido, professor de Filosofia.