Suscintamente (pois se sabe das exceções) gostar-se-ia de a partir do início da formação de um corpo humano, em que após a fecundação de um óvulo por um espermatozoide, esse, o corpo começa a se desenvolver. Nesse momento, esse corpo é nomeado de feto e o “local” que se encontra chama-se útero materno. Cresce muito rápido, pois o ambiente é muito confortável. Nove meses se passam, e lá está esse “corpo” sendo recebido no mundo. Recém-nascido, já chega chorando e tendo que lidar com essa sensação de ter perdido a sua zona de conforto. Teorias psicanalíticas dão conta de que nascer é o primeiro grande trauma do ser humano.
O bebê chora, chora e chora, é a sua maneira de comunicação com aquela figura que exerce a função materna. Aqui chamaremos de mãe, mas quem exerce essa função de cuidados ao bebê não precisa ser necessariamente a genitora. Os cuidados vão muito além da manutenção da higiene e alimentação.
A criança recém-nascida não sabe nada sobre o seu corpo, é a mãe que dá significado a cada resmungo e choro do bebê. Ele ou ela está com fome, frio, calor, cólica, sono, manha, entre outros. Vai crescendo e a mãe vai demarcando esse corpo, mordidinhas nos pés, beijos na barriga, no bumbum, carinho nos cabelos. Leva a criança em frente ao espelho e lhe apresenta a ele(a) mesmo, será uma grande surpresa. Às vezes, um adulto pergunta a uma criança se ela gosta de algo, por exemplo, de comer maçã, e ela automaticamente pergunta a sua mãe se ela (criança) gosta. Faz isso porque ainda não sabe tudo sobre si, quem sabe sobre ela é a mãe, está se construindo, a partir do outro materno.
Essa construção de entendimento do nosso corpo físico que todos nós seres humanos passamos deveria seguir esse curso natural descrito acima, mas infelizmente podem ocorrer alguns “contratempos”. A mãe pode ter uma depressão pós parto, ou algum outro motivo, que a impossibilite de atuar com esses cuidados. Podem haver bebês órfãos que não irão receber esses cuidados pois, estarão em instituições junto a várias outras crianças na mesma situação. Crianças que desde cedo adoecem, ou por maus tratos têm que lidar com dores físicas na mais tenra idade. Tudo isso pode interferir na maneira como sentimos, percebemos, vemos fisicamente e aceitamos nosso corpo. Levaremos essas percepções para nossa vida adulta.
Alguns exemplos de não aceitação ao próprio corpo (deixando bem claro que não é possível generalizar, pois cada caso é um caso) são o desenvolvimento dos transtornos alimentares graves, como a bulimia e a anorexia, em que esse último, mesmo que a pessoa consiga se ver “pele e osso”, ainda assim, achará que está bem por ter restringido quase a nível zero, a ingestão de calorias diárias. Nesse caso, há uma alteração na distorção da visão da imagem corporal. No caso da bulimia, não existe a distorção visual, mas ainda está relacionada ao ganho de peso. A pessoa desenvolve comportamentos compensatórios inapropriados a fim de impedir o ganho de peso, como a indução ao vômito, a diarreia induzida por laxantes, diuréticos, entre outros.
O lado positivo de uma boa aceitação sobre o corpo é a manutenção de uma boa higiene, cuidados com a aparência dos cabelos, unhas, barbas, vestuário, exercícios físicos, dietas alimentares, etc. Estar bonito e bem apresentável quando a própria pessoa se olhar no espelho e gostar do que vê, e também para o outro a quem se relaciona de alguma maneira. Cirurgia plástica estética para corrigir ou melhorar algum aspecto corporal que esteja incomodando, pode sim ser realizada, se trouxer bem estar pessoal (certamente, seguindo orientações médicas).
Até aí parece que está tudo caminhando muito bem com o corpo x aceitação, mas, os olhos e ouvidos próprios ou das pessoas mais próximas devem estar atentos, quando toda essa vaidade com a aparência física estiver em desequilíbrio. Quando a pessoa não conseguir se contentar com as roupas e maquiagens que compra e usa, que cada vez vão ficando mais chamativas e exageradas. Quando é notado um ciclo viciante dentro de academias, com longos períodos de exercícios físicos, além do uso de medicamentos, hormônios e anabolizantes ou inúmeras cirurgias plásticas que tentam corrigir o que não são mais da ordem do externo.
Há pouco foi dito que as primeiras percepções que temos do nosso corpo na infância são as que nos
guiam na idade adulta, mas isso não significa que não possam ser ressignificadas no caso de prejuízo psíquico/emocional e social na vida da pessoa. Os abusos relacionados às mudanças do corpo e seus acessórios podem indicar o desejo de uma mudança de vida ou do sentimento da própria identidade. Enfim, essas questões são muito particulares, íntimas e, mais ainda, singulares. Cabe a cada um buscar suas razões, àquelas intoleráveis que estão mantendo esse comportamento desiquilibrado e até perfeccionista em relação ao corpo, não podendo jamais deixar de ressaltar os caminhos para esse autoconhecimento: a psicoterapia ou psicanálise.