Cosmopolense compartilha memórias e se sente feliz aos 90 anos

Alfaiate, bancário e motorista particular foram algumas de suas ocupações ao longo de sua vida

Ítalo Fernandes, hoje com noventa anos de idade, compartilha os momentos que viveu ao longo de sua trajetória. O Cosmopolense passou boa parte da vida na Cidade Universo e também morou em Campinas por conta do trabalho. Aos noventa anos, Ítalo coleciona memórias com seu eterno grupo de amigos, seus primeiros passos na alfaiataria, na música e também no esporte.
Filho do primeiro barbeiro da cidade de Cosmópolis, Ítalo conta um pouco sobre a família. “Tive três irmãos, Armando, Nelson e Aurora. Meu irmão Nelson seguiu os mesmos passos do meu pai, se tornou barbeiro; minha irmã foi uma das primeiras cabeleireiras de Cosmópolis. Meu pai se chamava Antônio Fernandes Aneas, também conhecido como Tunico, e minha mãe se chamava Onelia Francischette”.

Carreira
Com apenas doze anos de idade, Ítalo conta que entrou no mundo da alfaiataria. De acordo com ele, seu pai tinha um colega alfaiate que o ajudou neste oficio. “Quando comecei, estava no último ano do primário. Com o passar do tempo, fui ganhando experiência e trabalhando com alfaiates muito competentes; foram mais de oito alfaiatarias no total, sendo seis delas aqui na cidade. Deixei esta carreira após 17 anos, no momento em que virei bancário”.
No ano de 1960, Ítalo fez um teste para uma seletiva do Banco Federal de Crédito, atual Itaú. Após alguns meses, o Cosmopolense foi presenteado com uma notícia boa e conseguiu o tão almejado cargo. “Fiz o teste com um amigo, eram apenas duas vagas. No momento em que descobrimos que nós dois conseguimos, ficamos muito felizes. Afinal, era meu sonho”, conta Ítalo.
Com o passar do tempo, o alfaiate se aposentou, mas esse não foi um motivo para deixá-lo parado. Ítalo conta que estava morando em Campinas após se aposentar. Cansado da monotonia, ao folhear o jornal, ele encontrou uma nova oportunidade: motorista particular. “Trabalhei onze anos como motorista particular. Nesse tempo, fiquei responsável por vistoria prévia de seguro, levei malotes do banco Meridional e também fiquei quatro anos sendo motorista de uma família de médicos em Campinas”.

Música, Amigos e Esporte
Um dos pontos importantes da história de Ítalo é o circulo de amigos que conquistou com o passar do tempo. No auge dos seus vinte anos, o alfaiate, junto com quatorze amigos, decidiram se juntar e criar um time de futebol, em que poderiam participar de campeonatos amadores da cidade. O nome escolhido foi Associação Amigos do Açucareiro. “Tínhamos entre 20 e 25 anos, nos juntamos para abrir nosso time. Um dos nossos integrantes era São Paulino e ele deu a sugestão de fazermos nossa camisa tricolor – todos aceitamos. Jogávamos muito no antigo campo Thelmo de Almeida, que ficava no cruzamento da Rua Campinas com a Moacir do Amaral. Ganhamos muitos troféus no amador”.
Além do grupo Amigos do Açucareiro, Ítalo era apaixonado por música. Esta paixão o levou a participar de uma banda com seus amigos: Rage e seu conjunto. A banda teve sua abertura no Cosmopolitano Futebol Clube. Com o sucesso, o grupo conseguiu cada vez mais apresentações e também conseguiu comprar um micro-ônibus. “Quando recebi o convite, fiquei muito feliz, entrei como ritmista. Fizemos muitas apresentações no antigo cinema/ teatro que havia na Avenida Ester. Fizemos uma viagem para nos apresentar em Minas Gerais e foi um momento muito marcante para nós”.
O alfaiate conta que o laço com os amigos é forte e duradouro. “Nos encontrávamos sempre, fazíamos churrascos, almoços e jantares para colocar o papo em dia e cultivar a amizade. Infelizmente, hoje não são todos que ainda estão entre nós”, explica.
Rodeado por amigos e família, Ítalo voltou a Cosmópolis em 2019, após o falecimento de sua esposa. “Tenho família e amigos aqui, mas, às vezes, me pergunto se foi a escolha certa voltar para Cosmópolis. Aos Domingos, sinto uma tristeza ao ver a cidade deserta, vazia e sem vida…”.