Escritora e pesquisadora Marinna explica como sua trajetória acadêmica e experiências pessoais moldaram sua escrita, resultando na criação do seu primeiro livro "Ameaça Lavanda”
A cosmopolense Marinna Pires, que escreve sob o pseudônimo de Nina Cartana, encontrou na Universidade Federal do Rio Grande o espaço ideal para aprofundar seu interesse pela literatura e pela escrita de mulheres, especialmente no contexto da ditadura militar brasileira. “Desde antes de iniciar os estudos na faculdade, eu já me interessava por movimentos sociais e foi por meio da internet que conheci algumas teorias feministas. Quando ingressei na Universidade, já tinha um forte posicionamento político. Dessa forma, quando surgiu a oportunidade, pude afunilar minha linha de pesquisa na escrita de mulheres”, explica a autora.
O processo criativo de seu livro “Ameaça Lavanda” foi uma jornada inesperada e transformadora. “Escrever um livro sempre esteve mais no meu imaginário, não como um grande sonho, mas como uma projeção que eu não pensava alcançar. Escrevo desde a adolescência de maneira terapêutica, mas foi só a partir dos 19 anos que fui guardando tudo em um documento específico”, explica Marinna. A oportunidade de publicar surgiu de forma despretensiosa quando a editora Minimalismos abriu uma chamada para originais de diversos gêneros. “Enviei um documento com pouquíssimos poemas, não imaginava que daria em alguma coisa. Quando chegou o e-mail de aceite, a surpresa foi maior, e eu já fui correndo preencher esse documento com mais poemas”, conta.
A formação literária de Marinna teve início muito antes da universidade, influenciada pela família e por uma curiosidade pela leitura. “Desde criança, fui muito bem amparada no que diz respeito à educação, via minha mãe lendo para a faculdade e meu pai Cris me presenteava com livros de historinhas. Sempre gostei muito de ler, mas, por incrível que pareça, os poemas nunca estiveram em minhas leituras por fruição. A Universidade me deu de presente a pluralidade nas leituras; junto com ela vieram os poemas de diferentes estilos”, diz. A escritora acredita que essa combinação de influências familiares e acadêmicas foi crucial para desenvolver sua voz e estilo literário.
Marinna tem um público específico em mente ao imaginar a recepção de seu livro. “Sempre que penso em alguém lendo o meu livro ‘Ameaça Lavanda’, penso em uma mulher. Os poemas nele contidos abordam a temática lésbica, e ainda que não seja um público restrito e permita que outras pessoas se interessem, sempre penso com muito carinho nas mulheres que, por alguma razão, não podem expressar seus sentimentos. Que este livro possa povoar o imaginário dessas mulheres; ser uma companhia para as que não conseguiram, ainda, sua emancipação; fazer com que o ‘não dito’ por elas se materialize por meio das minhas palavras”, explica.
O apoio e as trocas com outras mulheres são uma força para a escritora, o que reflete sendo um pilar central em sua escrita. “Já ouvi que minha vida girava ao redor do fato de ser uma mulher lésbica; na época me magoou, hoje dou risada e acho graça, porque é verdade, uma verdade boa. Estar entre mulheres faz movimentar uma energia vital para mim, nossas conversas em horizontalidade, segurança para emitir opiniões, segurança também física para transitar nos espaços. É para essas mulheres que escrevo, essas que dividem comigo o amor, a amizade, a militância e o afeto, de qualquer ordem”, explica. Sua maior inspiração, no entanto, vem de uma figura ainda mais próxima. “Minha maior influência sempre foi minha mãe, a força que vem dela, foi o amor dela que me abriu os olhos para perceber as coisas bonitas que havia em mim, que eu enxergo no mundo e depois escrevo”, conclui Nina.