Crianças brasileiras estão entre as mais estressadas do mundo, segundo Pisa

De acordo com estudo realizado com mais de 500 mil estudantes de 72 países, crianças brasileiras estão entre as mais estressadas dentro da escola no mundo inteiro. Os dados de 2015 são referentes ao Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) promovido pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Dos jovens, 56% dos entrevistados relataram tensões relacionadas à escola. Entre os países com menor percentagem de alunos ansiosos estão: Holanda (39%), República Tcheca (40,5%) e Alemanha (41,5%). Nas colocações mais altas estão República Dominicana (com 80%), Brasil (81%) e Costa Rica, em primeiro lugar, também com 81%.
A psicóloga Marina Ceroni explica que os principais fatores desencadeantes do estresse relacionados ao aprendizado são as cobranças excessivas impostas aos alunos, tanto pela escola, quanto pelos familiares. Muitas vezes, por mais que a criança se esforce em fazer o melhor de si em relação ao seu desempenho na escola, isto não é reconhecido, e sim, criticado.
A criança que tem dificuldade é vista sempre como preguiçosa, irresponsável e incapaz, e nem sempre estes julgamentos representam a realidade. Por outro lado, mesmo aqueles que têm um bom desempenho escolar são sempre cobrados a estudar mais, a fazer melhor, a tirar uma nota mais alta. Estas condições acabam por estressar a criança, que sente-se pressionada e, muitas vezes, não consegue cumprir tudo aquilo que esperam dela.
Na adolescência, mais uma cobrança é acrescentada além de tirar notas boas, que é o vestibular. Além de muitas horas de estudo, há a pressão familiar e do próprio candidato para que ele tenha um ótimo desempenho nos exames.
Ao contrário disto, deve-se valorizar aquilo que a criança ou adolescente tem de melhor. É importante ressaltar que o efeito é sempre muito mais positivo quando se elogia, ao invés de punir.
A especialista indica que o estresse pode vir dos pais. “O que notamos, hoje em dia, é que o mundo todo está estressado, e não apenas as crianças. Como então cobrar dos pais que ajudem seus filhos a controlar a ansiedade e estresse, se estes não conseguem controlar seus próprios sentimentos?”
Ela indica que é possível perceber que a maioria das crianças que apresenta comportamentos excessivos de estresse e ansiedade, vive em um ambiente carregado por estes fatores. Ou seja, seus familiares são estressados, e a criança, por reflexo do ambiente, reproduz este comportamento.
Caso seja percebido pelos pais ou pela escola que a criança tem tido comportamentos que indicam um alto nível de estresse e ansiedade, esta criança deve ser encaminhada para um profissional. O psicólogo é o profissional ideal para ajudar a criança a enfrentar esta situação de maneira adequada, e ainda encontrar o que é gerador deste estresse, que, na maioria das vezes, é reflexo do comportamento dos pais.
Sendo assim, os pais também precisam se organizar emocionalmente para que seus filhos consigam lidar melhor com situações difíceis sem ficarem altamente estressados.
Além disto, a questão que mais desencadeia o estresse infantil é a cobrança excessiva por parte dos pais. A criança precisa ir bem em todas as matérias, realizar vários esportes e ter bom desempenho; a agenda da criança é cheia de atividades e, em tudo o que ela faz, precisa ser a melhor. Isto faz com que esta criança sinta-se muito pressionada por este ambiente, o que desencadeia o estresse. Então, os pais devem diminuir as cobranças intensas e valorizar os bons comportamentos de seus filhos.

Marina Ceroni
Psicóloga
CRP – 06/137885
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Facebook: Psicóloga Marina Ceroni
E-mail: marinaceroni@hotmail.com

Como incentivar a criança a refletir sobre seus sentimentos e se autoconhecer?
A psicóloga afirma que, no processo de autoconhecimento, é importante que a criança reconheça suas dificuldades, e também compreenda suas qualidades, aquilo que ela tem de melhor. Para isto, é necessário que se fortaleça a auto-estima da criança.
Os pais possuem papel fundamental no desenvolvimento da autoestima e autoconfiança de seus filhos, e estes sentimentos são construídos dia a dia. Quando, por exemplo, os pais reconhecem os esforços da criança, ou a encorajam a fazer algo novo, reforçam aquilo que ela tem de positivo, e a autoestima está sendo fortalecida.
Assim como em casa, na escola também se deve trabalhar o exercício do autoconhecimento e autoconfiança. Os educadores devem sempre exaltar aquilo que a criança tem de positivo, por exemplo, se a criança tirar uma nota baixa em matemática, mas, tem um ótimo desempenho em português, isto deve ser muito mais valorizado do que o baixo desempenho.
Portanto, antes de minar a capacidade da criança, deixe que ela descubra coisas novas, explore o mundo e acredite em si mesma. Valorize seus sentimentos, suas opiniões, seus sonhos e suas qualidades. Mostre que confia nela, que sabe o quanto ela é capaz. Isso tudo vai fazer com que o desenvolvimento infantil ocorra de forma saudável, segura e feliz.
Por fim, Marina ressalta que o índice de estresse infantil realmente é muito alto e, muitas vezes, este pode ser reflexo da vida e rotina que levamos com nossos filhos. O ritmo de vida da cidade é apressado. Todos parecem estar sempre querendo fazer as coisas mais depressa, e as crianças de hoje em dia precisam se acostumar à impaciência e ao apressamento dos adultos, a este ritmo acelerado.
São cobradas a andar mais depressa, a comer mais rápido, a fazer a tarefa de casa com mais agilidade. Os pais estão sempre soltando um “anda logo, meu filho!”. A vida das pessoas é rodeada de conflitos, e as crianças sempre estão envolvidas.
O que as pessoas que cercam as crianças, muitas vezes, não percebem é que são somente crianças. Precisam, sim, ter responsabilidades de acordo com a idade, mas, também devem ter tempo para brincar, aprender, explorar, conhecer, enfim, serem crianças.