“Vinde, e tornemos para o Senhor, porque Ele despedaçou e nos sarará, fez a ferida e a ligará” (Oséias 6.1)
No capítulo 5, o Profeta disse que os israelitas, após haverem sido subjugados por castigos e julgamentos, novamente voltariam atrás, deixando de seguir o erro para buscarem a Deus.
Porém, como o terror afasta os homens do acesso a Deus, esse ora acrescenta que a medida das aflições não seria tal que desencorajasse as mentes deles e produzisse desesperança; antes, contudo, incutiria neles a garantia de que Deus ser-lhes-ia propício: e, para que ele Profeta apresentasse isso da melhor forma, dizendo: Vinde, vamos ao Senhor: e tal modo de falar é mui enfático.
Mas devemos saber que a razão aqui dada, pela qual os israelitas podiam regressar, em segurança e confiança certa, a Deus, é que eles reconheceriam como ofício Dele o curar, após haver ferido, bem como trazer remédio para as feridas que ele havia infligido. O profeta quer dizer, por essas palavras, que Deus não pune os homens para derramar sobre eles a Sua ira para destruição; mas que, ao contrário, pretende promover a salvação deles quando é severo em punir seus pecados.
Então, temos de lembrar, como observamos anteriormente, que o início do arrependimento é uma percepção da misericórdia Divina; ou seja, quando os homens ficam persuadidos de que Deus está pronto para dar perdão, eles, então, começam a criar coragem para se arrependerem; caso contrário, a perversidade sempre aumentará neles, por mais que o seu pecado os apavorem, todavia, nunca retornarão ao Senhor.
E, tendo isso em vista, eu citei noutra parte aquela notável passagem no Salmos 130: ‘Contigo está a misericórdia, para que sejas temido’; pois não podem os homens obedecer a Deus de coração verdadeiro e sincero, a não ser que uma amostra de Sua bondade os atraia, e eles possam, com certeza, decidir que não retornarão a ele debalde, mas que ele estará pronto, como dissemos, a lhes perdoar. Esta é a significação das palavras quando ele diz: Vinde, e voltemos ao Senhor; pois Ele nos despedaçou e nos curará; isto é, Deus não aplica sobre nós chagas mortais; mas fere para curar.
Ao mesmo tempo, algo mais fica explicitado nas palavras do Profeta, e é isto, que Deus jamais lida tão rigidamente com os homens, mas que Deus sempre dá lugar para a graça. Pois pela palavra, despedaçado, o Profeta alude àquele pesado juízo do qual ele outrora falara na pessoa de Deus: o Senhor então fez com que ele mesmo fosse como um cruel animal selvagem: “Eu serei como um leão, eu devorarei, eu despedaçarei, e ninguém tomará a presa que eu já tiver capturado”.
Deus desejava, então, mostrar que Sua vingança contra os israelitas seria horrível. Ora, ainda que Deus os tratasse, eles, todavia, não deveriam ficar desesperançados do perdão.
Então, como quer que descubramos estar Deus por um tempo, como um leão ou um urso, não obstante, como é ofício próprio dele curar após haver dilacerado, pensar as feridas que infligiu, não há motivo algum pelo qual nos furtemos de Sua presença. Percebemos que o desígnio das palavras do Profeta era demonstrar que castigo nenhum é tão severo que deva quebrantar nossos espíritos, mas que devemos, nutrindo esperança, excitarmo-nos ao arrependimento. Tal é a intenção da passagem.
Outrossim, é necessário observar aqui que os fiéis, em primeiro lugar, encorajam-se sim a si próprios, para que possam em seguida guiar a outros com eles; pois é esse o sentido das palavras.
Ele não diz: “Vá, retorne a Jeová”; mas: Vinde, retornemos para Jeová. Vemos então que cada um começa consigo mesmo; e, depois, que eles mutuamente se exortam; e isso é o que tem de ser feito por nós: quando alguém envia seus irmãos a Deus, Ele não considera sua própria excelência moral, já que deve antes mostrar o caminho. Que todos, pois, aprendam a se estimularem; e então, que estendam as mãos aos outros, para que esses acompanhem. Simultaneamente, somos lembrados de que devemos nos incumbir do cuidado de nossos irmãos; pois seria uma vergonha alguém ficar contente com sua própria salvação, porém, negligenciar assim seus irmãos. É, pois, necessário ajuntar essas duas coisas — incitar-nos à penitência e, em seguida, tentar guiar outros conosco.
Não sejamos apostatas, deixando de seguir o Senhor Jesus Cristo. Se você O deixou, volte para Ele.