Cutelaria é tendência entre os que procuram por produtos artesanais

Victor Barbieri, proprietário da ‘Cutelaria Barbieri’, fala sobre os processos de confecção de uma boa faca

Victor explica que sempre se interessou por atividades materiais e pesca. Sempre teve muitas facas e tem uma coleção desde o primeiro canivete que ganhou ainda criança. Seu primeiro contato com a cutelaria artesanal foi através de um amigo de seu pai, que fazia facas. Em 2015, ele o presenteou com algumas que fez, e conhecendo a oficina, ficou encantado com o processo. “Eu sempre gostei de trabalhos manuais e de fazer minhas próprias coisas, mas só foi em 2017 que fui fazer minha primeira faca, de forma totalmente amadora e com pouquíssimas ferramentas. Infelizmente, quando iniciei nessa arte, o amigo já havia falecido e ele não chegou a ver minhas criações.
Eu me apaixonei completamente por essa prática, passei a consumir muitos conteúdos na internet, ver vídeos de pessoas fazendo facas e frequentar feiras de cutelaria. Ao passo que eu ia confeccionando novas lâminas, ia adquirindo mais conhecimento, técnicas e novas ferramentas, puramente como hobby, até que, em 2020, cheguei a um nível técnico que julguei bom o suficiente para comercializar minhas lâminas. Então, comecei a vendê-las na loja de agropecuária dos meus pais e através da internet”.

O processo de produção
“A cutelaria é uma arte muito antiga. Ela acompanha a história do ser humano a contar dos primórdios, desde que foi dada conta da necessidade de um instrumento de corte durante o período paleolítico (a idade da pedra) ela existe. Sejam as lâminas pedras lascadas, ou as que foram feitas no decorrer da evolução dos metais e processos de fabricação até chegar ao ápice tecnológico industrial que vivemos hoje, elas sempre estiveram presentes no cotidiano e não existe um único lar no mundo que não as possua.
O processo que utilizo para confeccionar minhas peças é bem tradicional, completamente artesanal, a começar pela escolha do aço que pode ser de material virgem, que são chapas de aço compradas novas, ou materiais reciclados (que no caso são aços que possuem composição adequada para a produção de lâminas), como disco de arado, molas e molejos de veículos, capas de rolamento, já cheguei até mesmo fazer facas com um pedaço de trilho de trem. Dependendo do material, ele precisa ser forjado, um processo que consiste em aquecer o material a uma temperatura muito elevada, e com marteladas em cima de uma bigorna conformar o aço no formato desejado, para daí fazer os cortes e lixamentos necessários para se tornar uma faca afiada.
Tendo o aço na espessura e no formato desejado, eu faço o desbaste da faca com a geometria de fio mais adequada para o tipo de uso que ela entende e, então, faço o tratamento térmico conhecido como têmpera (que é feito para que o aço fique mais duro e mantenha uma afiação por bastante tempo), onde ocorre o aquecimento do material até uma temperatura crítica e resfriamento súbito por imersão em óleo ou água. Depois desse procedimento, vem outro tratamento chamado revenimento, que é feito em um forno comum numa temperatura bem mais baixa, simplesmente mantendo a faca no forno por uma hora ou mais, dependendo do tipo de aço, e serve para aliviar as tensões excessivas e possíveis fragilidades provocadas pela temperatura. Com tudo isso feito, já pode se dizer que a lâmina já é uma faca estruturalmente funcional e com bastante qualidade. A partir daí, os processos que seguem são os de acabamento: lixamento manual, polimento da lâmina e fixação do cabo. Fazer o cabo é uma das minhas partes preferidas, pois gosto muito da beleza natural das madeiras nobres que uso e é sempre uma grande felicidade quando encontro madeiras que posso usar, de preferência sempre madeiras duras, resistentes e bem bonitas”.

@cutelariabarbieri