De volta ao começo

Quando ele descia a avenida rumo ao seu trabalho, ao atravessar a rua viu quando ela fechava o portão depois de estacionar o carro na garagem. Percebeu que ela o olhava discretamente como quem queria falar-lhe alguma coisa, então a favoreceu, passando na mesma calçada. Deu-lhe uma boa tarde na intenção de ficar mais próximo de sua questão, no que ela respondeu num ar alegre e carismático. Nada de anormal até aquele momento, pois, numa cidade interiorana de pessoas de origem simples e humilde onde todos já têm o costume de se cumprimentar.
Aquele contato verbal já criou uma empatia entre os dois. Como no trabalho que ele desenvolve onde se mexem com a emoção de quem o procura em momentos difíceis, tomou o cuidado de não a importuná-la.
Lembrou-se de certa vez em que havia passado por um constrangimento numa fila de banco por uma senhora que lhe olhava discretamente e que ao cumprimentá-la, teve a resposta com certa mágoa:
– Detesto quando encontro o senhor! Meu dia estraga completamente.
Em conversa com ela, ficou sabendo que fora ele quem tratou dos procedimentos na morte de seu filho.
Explicou-lhe da melhor maneira de que tratava-se de seu trabalho e que infelizmente tinha que ser assim. Ela o entendeu e passaram a ser amigos depois de um pedido de desculpas.
Voltando àquela outra jovem senhora, a quem a chamou de Marcela, e, no medo de ser coisa parecida esperou que ela falasse, e veio:
– Por que você não volta a escrever no jornal da cidade? Eu gostava tanto de ler!
Apesar de já ter recebido vários pedidos nesse sentido por outros leitores, aquela reinvindicação lhe foi muito especial.
Mesmo diante de outras atribuições e o trabalho que lhe tomava um grande tempo, naquele dia encontrou uma das redatores do jornal e comentou sobre sua intenção de voltar a escrever.
Naquele mesmo dia, foi aceito e decidiu voltar a escrever, já que faz bem a alguém. – Pensou. – E muito mais para ele mesmo. Ficou grato ainda pelo jornal ter-lhe reservado novamente seus créditos.