De volta ao passado

Em 24/01/1925 – um sábado, há exatos 97 anos – Falecia em São Paulo, região da Avenida Paulista, o Cel. Antônio Carlos da Silva Telles, aos 81 anos de idade. Foram meses de padecimentos, gerados pelas consequências da idade e complicações gastrointestinais. Sofrimentos enfrentados em sua própria residência, um dos maiores palacetes da capital, sempre acompanhado pela numerosa família, sobretudo a querida sobrinha, Dona Esther Nogueira, registrado em inúmeras passagens do livro diário de Paulo de Almeida Nogueira.
A triste notícia foi anunciada no fim da noite em Cosmópolis, o Cel. Silva Telles faleceu às 19h30, sendo informado seu falecimento através de ligação do Dr. Paulo de Almeida Nogueira, ao escritório da Usina Ester. As sirenes do complexo industrial foram acionadas às 22h, noticiando a morte de um dos fundadores da empresa.
Os sinos do campanário da Igreja Matriz de Santa Gertrudes de Helfta, doados pelo saudoso fiel, soavam em batidas de luto. Novamente às 6h, a Villa Cosmópolis despertava ao som dos sinos, convidando os fiéis para uma missa pela alma do Cel. Silva Telles, celebrada pelo Padre Francisco de Campos Machado. Devido a quantidade de pessoas, centenas de colonos da Fazenda Usina Ester, dentre moradores da “villa”, autoridades e trabalhadores da Cia Sorocabana, a missa foi campal, celebrada nas escadarias da Igreja para a Praça Izabelita Vieira, conhecido Largo da Matriz.

“Agravado o padecimento do Sr. Silva Telles, voltamos para São Paulo, com o pressentimento do pior. Passávamos na casa dele todas as noites, às 19 e pouco, junto aos seus falecia. Enterro colossal, com a maior profusão de flores que se tem visto. Senhoras no cemitério e membros da família, atiravam flores na sua sepultura. Grande consternação, pelo boníssimo morto, tipo de virtude e de grande bondade. Paz à sua alma insigne e justa!”, escreve Paulo de Almeida Nogueira, em 25/01/1925.
Muitos negros acompanhavam a despedida, velhos como o saudoso falecido, cabelos e barbas brancas, assim como suas roupas, seguindo tradições da religião africana. Homens e mulheres negras com suas famílias, anciões da história, escravos libertos pelo jovem abolicionista Silva Telles, o qual realizava suas ações em total anonimato, comprando negros de fazendas próximas, e contratando como trabalhadores livres nas inúmeras propriedades da família.
O Cel. Antonio Carlos da Silva Telles era casado com Olympia Nogueira Ferraz, irmã dos ilustres Cel. José Paulino e Major Arthur Nogueira Ferraz, dentre outros 11 irmãos. Abolicionista convicto, realizando incontáveis ações de libertação com recursos próprios, tornou-se republicano juntamente com os cunhados e outros familiares, como Campos Salles e Prudente de Morais (futuros presidentes), por não concordar com a inaptidão de Dom Pedro II sobre a escravidão e setores públicos, assim como as atrocidades cometidas na Guerra do Paraguai.

O Cel. Silva Telles é oficialmente um dos fundadores de Cosmópolis, ao lado dos cunhados José Paulino, Arthur Nogueira Ferraz e o sobrinho Paulo de Almeida Nogueira. A atual Rua Cel. Silva Telles, então conhecida pela concentração de negros, foi uma homenagem pelas suas ações abolicionistas, muitas das famílias eram de escravos libertos pelo Coronel, contratados para os trabalhos nas obras da Carril Agrícola Funilense e Usina Ester, as quais foi acionista e fundador. Na foto: Bento Quirino, Domingos Neto, José Paulino e Cel. Silva Telles.

Texto: Adriano da Rocha (Curta e siga @AcervoCosmopolense) / Foto: Acervo Família Almeida Nogueira